Dólar sobe 2% e fecha acima de R$ 4 em meio a perspectivas eleitorais

Mercado reage à divulgação de pesquisas de intenção de voto para a Presidência

Anaïs Fernandes Danielle Brant
São Paulo e Nova York

O dólar fechou acima de R$ 4 nesta terça-feira (21) pela primeira vez desde fevereiro de 2016, conforme o mercado reagiu a pesquisas eleitorais que indicam Geraldo Alckmin (PSDB) com dificuldade para deslanchar e um possível substituto de Lula (PT) com chances de chegar ao segundo turno.

A moeda americana subiu 2,04% e terminou cotada a R$ 4,039 --maior patamar desde 8 de janeiro de 2016 (quando foi a R$ 4,04).

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas no Brasil, recuou 1,50%, para 75.180,38 pontos, na mínima em seis semanas.

Investidores reagiam desde cedo aos resultados da pesquisa Ibope, divulgada na noite desta segunda-feira (20). Num cenário sem o ex-presidente Lula, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) lidera as intenções de voto à Presidência, com 20%. Ele é seguido por Marina Silva (Rede), com 12%, e Ciro Gomes (PDT), com 9%.

Alckmin, candidato preferido pelo mercado, teria 7%, tecnicamente empatado com o provável substituto de Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), com 4%.

O mau humor dos investidores foi acentuado por uma ação para evitar perdas maiores, dizem profissionais do mercado. "É uma questão técnica, o investidor define: eu aguento até atingir esse risco, se passar disso, é para realizar o prejuízo e sair", explica Carlos Pedroso, economista sênior do Banco MUFG Brasil.

Na véspera, no entanto, o cenário eleitoral já mexia com o câmbio. Levantamento CNT/MDA mostrou que, em um cenário com Lula, o petista lidera com a preferência de 37,3% dos eleitores na pesquisa estimulada. Em segundo lugar, Bolsonaro registrou 18,3%. Alckmin atingiu 4,9%, atrás de Marina, com 5,6%.

Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, compara o início da semana a um oceano agitado. "Sabe aquela sensação de quando estamos no mar e de repente vem uma onda grande atrás da outra e temos pouco tempo para respirar?", diz. 

Segundo ela, o dólar já vinha em um patamar elevado ante o real nos últimos dias após tensões entre Estados Unidos e Turquia derrubarem a lira turca e contaminarem moedas emergentes. "Quando o cenário externo começou a aliviar, as pesquisas saem e desagradam o mercado, não deu tempo." 

Analistas disseram ainda que investidores passaram a precificar a possibilidade de Alckmin não chegar ao segundo turno. "Há esse receio, e Haddad começou a ganhar protagonismo em um cenário sem Lula", diz Consorte.

Ela e outros profissionais ressaltam, no entanto, que é cedo para definir disputas antes do início da campanha eleitoral na TV, no fim do mês. A aliança entre Alckmin e o centrão rendeu ao tucano 44% do tempo de TV na disputa.

Instabilidades financeiras são comuns em anos eleitorais. Em outubro de 2002, em meio à eleição que levaria Lula à Presidência pela primeira vez, o dólar chegou a R$ 3,99 -- R$ 10,37 em valores atuais, segundo cálculos de Einar Rivero, da empresa de informações financeiras Economatica. No ano, o dólar subiu 35%.

Em 2018, o dólar acumula alta de 22%, mas especialistas apontam que os contextos são diferentes. "Em 2002, tínhamos reservas internacionais baixas e déficit em conta-corrente e dívida externa altas. Hoje, nossas reservas estão altíssimas, nosso déficit é pequeno e a dívida externa também", diz Consorte.

Pedroso lembra que, em 2002, além de eleições, o Brasil era contaminado por uma crise na Argentina, estava dentro de um programa do FMI (Fundo Monetário Internacional), e acabava de sair de um racionamento de energia.

Apesar de fundamentos mais sólidos, a volatilidade deve dar o tom dos mercados até outubro. "São condições melhores, mas com volatilidade alta e que vai ditar o ritmo nas próximas semanas. Mas esse patamar [do dólar acima de R$ 4] parece irreal frente a inflação controlada e taxas de juros baixas", afirma Pedroso. 

Segundo ele, após as eleições, há espaço para apreciação do real. "O quanto vai voltar, aí vai depender do candidato que for eleito e do seu compromisso com as reformas."

O Ibope ouviu 2.002 eleitores, em 142 municípios, entre 17 e 19 de agosto. A margem de erro é de dois p.p. (pontos percentuais), para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-01665/2018.

A pesquisa CNT/MDA foi realizada entre 15 e 18 de agosto e ouviu 2.002 pessoas, em 137 cidades. A margem de erro é de 2,2 p.p., com 95% de nível de confiança. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-09086/2018.

Casa de câmbio na zona norte de São Paulo
Casa de câmbio na zona norte de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

TRUMP E FED

No exterior, 25 das 31 principais divisas do mundo seguiam direção contrária à do real e avançavam em relação ao dólar, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltar a criticar o banco central do país por elevar a taxa de juros.

Trump disse nesta segunda que não está animado com o presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Jerome Powell, nomeado por ele próprio no ano passado para substituir Janet Yellen. O presidente americano afirmou ainda que o Fed deveria ser mais expansionista.

"Não estou animado com os aumentos de juros dele, não", disse Trump em entrevista à agência Reuters.

Segundo ele, outros países se beneficiaram das medidas dos seus bancos centrais durante duras negociações comerciais, mas os Estados Unidos não estariam recebendo apoio do Fed.

"Estamos negociando de forma muito forte com outros países. Nós vamos vencer. Mas durante este período de tempo eu deveria receber alguma ajuda do Fed. Os outros países estão acomodados", declarou.

O Fed elevou os juros duas vezes neste ano e espera-se que ele aumente de novo as taxas no mês que vem.

Juros mais altos fortalecem o dólar ao atraírem para a maior economia do mundo recursos até então alocados em países de risco maior, mas prêmio teoricamente mais elevado, como o Brasil.

Quando Trump critica as taxas nos EUA, o efeito é o contrário: investidores entendem que o rendimento está ameaçado em dólar e buscam opções em ativos de risco maior, como ações e divisas de países emergentes.

Das 24 moedas emergentes, 18 ganhavam força em relação ao dólar, enquanto Bolsas globais operavam no azul. O Dow Jones, principal índice de Nova York, avançou 0,25%, e o S&P 500 subiu 0,21%.

Com Reuters

 


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