Dólar encosta em R$ 3,96 e fecha na maior cotação em dois anos e meio

Temor eleitoral dominou mercado; siderúrgicas mantiveram Ibovespa em leve alta

Anaïs Fernandes
São Paulo

O dólar fechou esta segunda-feira (20) na maior cotação em mais de dois anos, em meio ao nervosismo de investidores com o cenário eleitoral

A moeda subiu 1,07% ante o real e terminou cotada a R$ 3,958 —em 1º de fevereiro de 2016, fechou a R$ 3,962. Ao longo da tarde desta segunda, chegou a ultrapassar R$ 3,97.

O dólar comercial abriu a R$ 3,918. À espera de pesquisa eleitoral encomendada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) e que seria divulgada antes do meio-dia, subiu para R$ 3,93.

Às 11h, a pesquisa CNT/MDA mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República, lidera as intenções de voto, com a preferência de 37,3% dos eleitores ouvidos na pesquisa estimulada. Em segundo lugar, Jair Bolsonaro (PSL) registrou 18,3%. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, atingiu 4,9%, atrás de Marina Silva (Rede), com 5,6%. Ciro Gomes (PDT) tem 4,1%, e Alvaro Dia (Podemos), 2,7%

Na comparação com a sondagem anterior, de maio, tanto Lula quanto Bolsonaro cresceram em intenções de voto, após terem registrado 32,4% e 16,7%, respectivamente. Alckmin também avançou, mas analistas apontam que ele ainda não conseguiu sair da casa dos 4%, frustrando o mercado, que o vê como um candidato mais reformista.

Após a divulgação do resultado, o dólar encostou em R$ 3,95. Por volta das 14h, houve nova guinada e a cotação atingiu R$ 3,972.

Segundo operadores, investidores não só repercutem a pesquisa da CNT, como também esboçam alguma proteção na expectativa da pesquisa Ibope, que deve ser divulgada na noite desta segunda-feira.

"O mercado azedou com a pesquisa. Lula, que está preso, segue na dianteira, enquanto Alckmin não deslancha. Agora, investidores aguardam a pesquisa da noite e, no desespero, voltam a comprar dólar", diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Profissionais observam também que incomoda entre investidores a falta de perspectivas claras de uma vitória do tucano num eventual segundo turno. O CDS (credit default swap, termômetro do risco-país) avançava 1,67%, para 244,945 pontos.

Pela pesquisa, Lula derrotaria todos os candidatos e teria de 49% a 50% dos votos. Bolsonaro aparece à frente dos adversários, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais. Se ele fosse ao segundo turno contra Alckmin, por exemplo, teria 29,4% das intenções de voto e o tucano, 26,4%.

Demais cenários incluindo o candidato do PSDB seriam: Marina (26,7%) versus Alckmin (23,9%) e Ciro (25,3%) versus Alckmin (22%).

A pesquisa CNT/MDA foi realizada entre os dias 15 e 18 de agosto de 2018 e ouviu 2.002 pessoas, em 137 municípios de 25 estados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança. A pesquisa está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-09086/2018.

EXTERIOR

Lá fora, o viés também não era tão favorável para emergentes. A lira turca caía 1,72%, após o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, subir o tom nacionalista e afirmar que um ataque à economia do país não é diferente de um ataque à sua bandeira ou o chamado islâmico à oração.

Ainda assim, o contágio parecia limitado. Das 31 principais divisas do mundo, apenas duas, além do real e da própria lira, perdiam força ante o dólar: o peso argentino (-0,27%) e o rublo russo (-0,12%).

O dólar perdia força no exterior também após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reclamar da política de alta de juros do presidente do Federal Reserve (banco central americano), Jerome Powell. Taxas de juros mais altas nos EUA atraem fluxo de capital espalhado pelo mundo para o país e vice-versa.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa brasileira, seguiu mais alinhado com o exterior e avançou 0,39%, a 76.327,89 pontos.

Após a divulgação da pesquisa CNT/MDA, no entanto, chegou a tocar a mínima de 75.607 pontos, queda de 0,55%. 

O cenário eleitoral afeta mais negativamente empresas estatais, como Petrobras (ações preferenciais recuaram 0,54%), Banco do Brasil (-2,66%) e Eletrobras (preferenciais perderam 1,65%) —apesar de a Justiça ter liberado leilão de subsidiárias da companhia.

O dia foi marcado também pelo vencimento de opções sobre ações, o que costuma puxar o índice para baixo.

A alta do minério de ferro na China, no entanto, garantia o viés positivo da Vale (+1,26%), empresa com maior peso no Ibovespa, e demais siderúrgicas. O setor, que engloba exportadoras, também é beneficiado pela alta do dólar, assim como o segmento de papel e celulose: a Suzano avançava 2,87%.

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