Fatal aos porcos, febre africana chega a quarta província chinesa

Vírus contagioso tem potencial para matar todo porco infectado; humanos não são afetados

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Nova York | Bloomberg

A presença da febre africana foi confirmada em uma quarta província na China, indicando que a doença fatal para porcos está se espalhando pelo maior produtor mundial de carne suína.

O vírus matou 340 porcos e infectou outros 430 em fazendas localizadas em Zhejiang, uma província no leste. A informação foi confirmada nesta quinta-feira (23) pelo Ministério de Agricultura e Assuntos Rurais, quatro dias após relatos da doença na província vizinha de Jiangsu. Os novos episódios foram detectados a 1.200 quilômetros da descoberta inicial, em 3 de agosto, na província de Liaoning.

A febre africana é uma grande ameaça à China, que cria mais da metade dos porcos do mundo todo. A carne suína é a principal fonte de proteína da população. Além do potencial para matar todo porco doméstico infectado, o vírus é altamente contagioso e persistente. Não há vacina. Para limitar o contágio, é preciso abater os animais infectados e adotar medidas rígidas de contenção.

 

Criação de porcos em Henan, na China; febre africana aterroriza criadores chinesas - AFP

2.200 km

Trinta porcos mortos pelo vírus em Zhengzhou, na província de Henan, foram transportados legalmente por mais de 2.200 quilômetros, vindos de um mercado de animais vivos em Heli, uma cidade próxima de Jiamusi, na província de Heilongjiang, de acordo com Zhang Zhongqiu, que dirige o Centro de Controle de Doenças Animais da China.

O transporte por longa distância amplia a área potencialmente exposta ao vírus, complicando as medidas de monitoramento e controle, especialmente porque muitos dos milhões de fazendeiros de pequeno porte dificilmente entenderão a ameaça e comunicarão episódios às autoridades, explicou Qiu Huaji, do Instituto de Pesquisa Veterinária Harbin, que integra a Academia Chinesa de Ciências Agrícolas.

As autoridades armaram um amplo esforço de verificação nas fazendas individuais e oferecem compensação aos fazendeiros por animais perdidos.

O objetivo é reforçar as medidas de controle depois que o surgimento de outra doença viral, a síndrome reprodutiva respiratória, em 2006, causou a morte de milhões de porcos. O preço da carne suína quadruplicou no ano seguinte no mercado doméstico.

“Se os fazendeiros forem razoavelmente compensados, eles tentarão não vender porcos mortos ou doentes”, disse Feng Yonghui, analista-chefe do portal setorial www.soozhu.com. Segundo ele, isso eliminaria um risco importante de contágio.

Abatimento de fêmeas

Se a doença se espalhar mais, fazendeiros podem ser obrigados a sacrificar fêmeas reprodutoras, reduzindo a oferta de animais com idade para abate nos próximos anos, alertou Zhu Zengyong, pesquisador do Instituto de Informação Agrícola da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas. Até o momento, foram sacrificados de 20 mil a 30 mil porcos, segundo o pesquisador.

A China tem a maior vara de suínos do mundo. Eram 433 milhões de cabeças em dezembro. A produção de carne suína pode atingir 54,2 milhões de toneladas neste ano, mais de seis vezes a quantidade negociada no mercado global, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.

A previsão é que a oferta na China exceda a demanda neste ano.

O sacrifício de fêmeas reprodutoras pode elevar os preços domésticos nos próximos dois anos e forçar o país a importar mais carne suína em 2019, afirma a analista Pan Chenjun, do Rabobank de Hong Kong.

Segundo ela, o preço baixo neste ano levou fazendeiros a alimentar porcos com restos de comida de restaurantes — prática que havia sido proibida e aumenta o risco de ingestão de comida contaminada e contágio da doença.

O vírus não causa doença em seres humanos e é desativado quando a carne crua é aquecida a pelo menos 70 graus Celsius durante 30 minutos.

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