Gestoras resistem a aderir a código de transparência

Apenas 16, entre 58 empresas, aderiram a normas de governança para mercado de capitais

Ana Paula Ragazzi
São Paulo

A Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), em 12 anos de vida, já conseguiu algumas vitórias para elevar o nível de governança —ou transparência— das empresas brasileiras que negociam ações em Bolsa.

Foi a associação, que abriga gestoras independentes e de grandes bancos, além de fundos de pensão, que conseguiu desengavetar na Justiça o processo que pedia a divulgação da remuneração de executivos, liberado em maio. 

Teve, ainda, o feito de pôr no conselho da Petrobras um indicado, de fato —sem interferência política—, pelos acionistas minoritários. Entre outras causas, trabalhou no aprimoramento das regras para o voto a distância em assembleias. 

Desde novembro de 2016, a Amec está olhando para dentro de casa. Lançou seu código de princípios e deveres dos investidores institucionais (com base em norma adotadas por 20 países, conhecidas como “stewardship”). 

O código prega mais transparência sobre a relação entre os gestores e os cotistas e companhias investidas. Pede relatos de atuações em situações de conflito de interesse, participação em assembleias, critérios para engajamentos com outros fundos quando acharem apropriado, entre outros pontos.

Mas, apesar de cobrar a governança das companhias, os números sugerem que não está havendo o mesmo comprometimento dos associados na hora de entregá-la.

Vistos de cima, investidores no saguão lotado da B3, bolsa de valores de São Paulo
Investidores no saguão da B3, bolsa de valores de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Fazem parte da Amec 58 gestoras. Até agora, apenas 16 aderiram ao código. Procurada, a associação não se pronunciou. 

Florian Bartunek, sócio da Constellation, diz que vê com bons olhos o código e estuda o momento da adesão.

“Ele faz sentido para empresas como nós, que têm investimentos de longo prazo e acabam mantendo relacionamento com as companhias. Para gestoras que giram mais as posições, talvez não faça sentido”, diz. 

A Mauá Capital, do ex-presidente da Amec e ex-diretor do Banco Central Luis Fernando Figueiredo, lembra que o código traz critérios de boas práticas no monitoramento das empresas investidas pelos fundos.

Mas, na sua estrutura atual de produtos, as aplicações em fundos de ações ainda estão em estágio inicial e, por isso, o código não teria efeito. 

Nesta semana, o código terá um novo signatário, a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. Daniel Lima, diretor de investimentos, diz que a adoção coroa o trabalho da nova gestão Petros, assumida por Walter Mendes, ex-gestor do Itaú e ex-presidente da Amec,  há dois anos.

“Trabalhamos muito para aprimorar a nossa governança. E achamos importante assumir esse compromisso.” 

Marcelo Faria, gestor de renda variável da Porto Seguro, diz que a adesão à Amec aconteceu há apenas um ano. “Como somos novatos, ainda estamos aprendendo sobre associação. Acredito que o código é um passo importante. Estamos nos adaptando.”

Ele afirma, ainda, que nem todas as decisões da Amec são em consenso. 

A Bram, gestora de recursos do Bradesco, diz que tem por tradição executar as melhores práticas de governança e estuda o melhor momento de adesão ao código.

A gestora Fama, que costuma ser muito ativa nas empresas em que investe, informou que 75% de seus cotistas são estrangeiros. Por isso, desde 2011 é signatária do Principles for Responsible Investment, que traz práticas para investimento responsável.

Rodrigo Bresser Pereira, diretor da Bresser, afirma que pode e deve aderir ao código. “Damos total apoio ao trabalho da Amec”, diz. 

As gestoras que aderiram ao código da associação são Itaú, Argucia, BBDTVM, Aberdeen, Hermes, Leblon, Robeco, Santander, Teorema, Bridge, Cartica, Claritas e Victoire. Também entraram BNDESpar e os fundos de pensão Funcef e Fundação Cesp.

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