Loja virtual de cosméticos deve limitar público e área de atuação para crescer

Vale também investir em amostras, para que clientes possam experimentar os produtos

Luiz Cintra
São Paulo

Investir no ecommerce pode ser uma estratégia lucrativa para empreendedores no ramo dos cosméticos, mas, antes de dar esse passo, é essencial cumprir algumas condições. A primeira é já ter um público cativo: é bem mais complicado, demorado e custoso para um novato começar somente na internet. 

Em seguida, deve-se verificar o grau de concorrência a que o seu produto estará exposto na web. O caminho indicado para limitar a disputa é a segmentação, com o foco, por exemplo, em cosméticos de inspiração étnica ou produtos dermocosméticos como cápsulas de princípio ativo benéfico para a pele.

Antes de investir, segundo o consultor do Sebrae-SP Sirlandei Mariano, convém decidir se o alvo será o público final ou o dono de um salão de beleza ou afim, ambos com potencial para o ecommerce. 

Leandro Carvalho, 40, sócio do portal Cosmético Já
Leandro Carvalho, 40, sócio do portal Cosmético Já - Divulgação

Nas vendas para os profissionais, além da margem de retorno, o comprador olhará para a qualidade do produto e para como sua própria clientela vê a marca.

No caso do público em geral, é decisivo encontrar um meio de apresentar o produto, pois raramente os clientes adquirem um cosmético sem antes experimentar. 

Uma marca pequena que queira se tornar conhecida em todo o país precisa, por exemplo, se preparar para investir pesadamente na distribuição de amostras, levando em conta o custo que isso terá no investimento total.

No início, para reduzir os riscos, a orientação de especialistas é concentrar esforços em uma área pequena, a ser usada como campo de testes para conhecer o comportamento dos clientes e afinar o serviço antes de lançá-lo em escala ampliada.

Nesse momento, informações são o bem mais valioso —tanto aquelas mapeadas por softwares e suas métricas quanto consultas diretas feitas com enquetes para os consumidores.

Para iniciar um projeto de ecommerce são necessários três profissionais: o consultor estratégico; o técnico especializado em programação, para desenvolver os sistemas a partir da estratégia definida; e o webdesigner, que criará as interfaces digitais.

A parte de criação de um site de ecommerce hoje não é um bicho de sete cabeças. Os modelos mais simples são gratuitos, mas as chances de sucesso aumentam com a contratação de profissionais.

Depois vem o esforço para engajar a clientela. “Montar o site é só 5% do esforço. Os outros 95% são para trazer o cliente, porque a chance de ficar invisível na internet é gigantesca”, diz Mariano.

É importante inicialmente ter uma base de clientes ou de clientes potenciais, além de investir na produção de conteúdo digital para atrair audiência e ampliar o engajamento nas redes sociais.

No primeiro semestre, o reajuste na tabela dos Correios, de até 57%, e a paralisação dos caminhoneiros tiveram impacto negativo no setor. “Mas, mesmo nas turbulências, o ecommerce segue crescendo”, afirma Maurício Salvador, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).

O setor de cosméticos chegou a ocupar a quarta colocação no ranking de ecommerces por área, mas hoje está na sexta posição, segundo a ABComm. “No caso dos cosméticos, os consumidores preferem comprar diretamente do fabricante ou de lojas em que confiem por causa do medo de adquirir uma falsificação”, diz Salvador.

Para quem quer investir no canal de venda, as margens de lucro são atraentes, já que os volumes são relativamente pequenos e de alto valor agregado. “Existem produtos vendidos com frasco de 100 mililitros a R$ 400, com a vantagem de serem itens de recompra regular”, diz Salvador.

Sócio do portal Cosmético Já, baseado no Rio de Janeiro, Leandro Carvalho, 40, incubou sua empresa de comércio eletrônico na Coppe-UFRJ. Está em operação desde 2014, e diz faturar hoje na casa dos sete dígitos.

“Dentro do nicho dos cosméticos, escolhemos ainda outro nicho, focando nas classes C e D”, diz Carvalho, graduado em ciência da computação e doutorando na Coppe-UFRJ.

Seu portal de ecommerce possui três frentes: é um canal de captação de clientes para marcas nacionais, vende produtos de marcas pequenas, distantes dos principais mercados —cuidando também da logística— e, desde o ano passado, opera a partir de um estoque próprio de produtos. 

“O principal gargalo é a logística, que é concentrada nos Correios. E nosso crescimento, hoje de dois dígitos anuais, ainda tem sido limitado pela conjuntura econômica”, afirma Carvalho, que atualmente vende itens de 25 marcas em seu portal.

A expectativa da Fecomercio-SP, com base nos indicadores da consultoria Ebit, é que o comércio eletrônico no estado oscile ao sabor das turbulências políticas, fechando o ano com crescimento de 12%, mesmo ritmo acumulado no primeiro semestre e bem acima dos pouco mais de 7% registrados no ano passado.

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