Marfrig espera fechar 2018 com menor endividamento após venda da Keystone

Dúvidas do mercado sobre operação causaram queda de 9,3% nas ações da empresa na última sexta (17)

Ana Paula Ragazzi
São Paulo

A Marfrig mantém a expectativa de chegar ao final do ano com um nível de endividamento confortável. As dúvidas sobre essa desalavancagem fizeram as ações da empresa despencarem 9,3% na sexta-feira (17). 

A Marfrig vendeu a unidade de frango da Keystone por US$ 2,4 bilhões para a Tyson Foods. E manteve a operação de hambúrgueres da empresas, que tem receitas anuais de US$ 300 milhões (R$ 1 bilhão), e respondia por 11% das receitas da Keystone.

Para o mercado, a empresa só conseguiria bater a meta de relação entre dívida líquida e ebitda de 2,5 vezes em dezembro de 2018, se tivesse levantado US$ 3 bilhões com a Keystone. 

Nas contas da Marfrig, no entanto, considerando a redução do endividamento, um segundo semestre tradicionalmente mais forte para suas vendas, que deverá incrementar as receitas, além de um dólar mais favorável, é possível que o indicador termine o ano ainda melhor, num intervalo entre 2,2x e 2,6x.

Esse cálculo embute projeções de receitas entre R$ 20 bilhões e R$ 21 bilhões e margem ebitda entre 9% e 10% no segundo semestre.

“Será o menor nível de endividamento de uma empresa do setor no Brasil”, afirma o diretor financeiro da Marfrig, Eduardo Miron. Sobre as contas do mercado, ele disse apenas que há muito ruído e “não fomos nós que passamos esses números para eles”. 

Trabalhador na linha de produção do frigorífico Marfrig, com dezenas de peças de carne penduradas
Trabalhador na linha de produção do frigorífico Marfrig, em Promissão (SP) - Paulo Whitaker/Reuters

A venda da parte de frangos da Keystone reforça o projeto da Marfrig de concentrar suas operações no segmento bovino, no Brasil e Américas, já reforçado pela compra da National Beef, quarto maior frigorifico dos Estados Unidos, em abril. Miron diz que agora o momento será de focar nas operações, sem correr atrás de novas aquisições. 

“Nosso foco é a integração das empresas nas Américas do Norte e do Sul. Temos muito trabalho na busca por valor agregado na combinação dos negócios”, disse. 

A redução do endividamento, um efeito principal da venda da Keystone, para a Marfrig dará mais tranquilidade ao processo. 

A transação alcança US$ 2,4 bilhões. Desse total, US$ 2,2 bilhões irão para a redução da dívida _ os outros US$ 200 milhões referem-se às participações dos minoritários da empresa. 

A dívida líquida da Marfrig sairá dos cerca de US$ 4,3 bilhões (R$ 16,3 bilhões) apurados no fim do segundo semestre, para US$ 2,1 bilhões (R$ 7,9 bilhões), uma redução de 51%.

Isso implicaria, olhando dados de 12 meses, que a relação entre dívida líquida e Ebitda sairia de 4,2x para 2,6x, ao fim de junho de 2018.

A expectativa da Marfrig é que a venda da Keystone receba todas as aprovações legais necessárias até o fim do ano.  

Nos últimos anos, a empresa criada por Marcos Molina enfrentou várias turbulências e comprou e vendeu diversas empresas.

O diretor Miron afirma que em todas essas operações a empresa conseguiu bons resultados. Assim como as vendas de Moy Park e Seara, a Keystone teria se valorização das maõs da Mafrig, ele diz. 

A empresa brasileira pagou US$ 1,260 bilhão pela Keystone, em 2010. E agora, ela valeria US$ 2,960 bilhões (135% mais).

Essa conta leva em consideração a venda da operação de frangos, que acaba de concluir, por US$ 2,4 bilhões; os US$ 400 milhões obtidos com a venda de ativos de logística da empresa; US$ 60 milhões vindos da venda da Moy Park e os US$ 100 milhões que acredita valer a planta de hambúrgueres. 

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.