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Mercados emergentes precisam que a Turquia acione um disjuntor

Presidente Recep Tayyip Erdogan descartou aumentar os juros ou recorrer ao FMI

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Mohamed El-Erian

A tentação, para os investidores experientes em mercados emergentes, é responder à onda de vendas induzida pela crise turca por meio de um de jogo que vem funcionando bem há muitos anos.

Mas antes de adquirir cestas de títulos e moedas de mercados emergentes, é preciso absorver um fato importante: a resposta da Turquia em termos de política econômica até o momento tem pouca semelhança com as medidas que funcionam como disjuntores, para reduzir o risco de contágio em outros mercados.

Na crise cambial, autoridades de países emergentes tendem a responder de maneira robusta, devido ao potencial de desordem no sistema financeiro local, e de indisponibilidade de capital.

As medidas podem incluir aumentos nas taxas de juros (para combater a opção de cidadãos e companhias pelo dólar dos Estados Unidos de preferência à moeda nacional, e para atrair influxos de capital); apertos nas políticas fiscal e de crédito (para reduzir a captação nacional); e acesso a recursos excepcionais de financiamento internacional, os quais, no caso de programas do FMI (Fundo Monetário Internacional, também vêm acompanhados por ajustes de política interna.

Mas em vez de optar por uma resposta convencional, o presidente Recep Tayyip Erdogan descartou um aumento dos juros ou recorrer ao FMI.

Notas de lira turca - Cenk Baklan/Xinhua

Em lugar disso, o banco central turco tomou diversas pequenas medidas para apertar o crédito e demonstrar mais paciência regulatória para com os bancos do país. Enquanto isso, não foi identificada uma fonte alternativa de financiamento, seja a China, a Rússia, o Qatar ou países e instituições europeias.

Com isso, o governo turco não acionou os disjuntores, o que amplificou as ondas de choque destrutivas, dentro e fora do país. A menos que a Turquia esteja disposta a permitir que a lira despenque ainda mais, enquanto busca seu patamar natural —o que acarreta o risco de sérios danos financeiros e econômicos—, a abordagem adotada até o momento deixa ao governo apenas duas grandes opções de política econômica: medidas significativas de austeridade e/ou alguma forma de controle de capital.

Essa percepção encoraja o setor privado a acelerar seu abandono da lira, e os turcos estão correndo para o dólar; a fuga de capitais está se acelerando, e os estrangeiros estão repatriando seu capital.

Por quanto mais tempo isso persistir, mais provável se tornará que a Turquia precise recorrer ao FMI, e isso pode resultar na imposição de condições ao país quanto à mobilização de fontes adicionais de financiamento, dadas as dimensões de suas necessidades financeiras anuais.

Não devemos esquecer que tudo isso está acontecendo no contexto de um cenário mundial bem menos que reconfortante, que inclui o fim da liquidez global ampla, agora que o Fed (Federal Reserve), banco central dos Estados Unidos, está normalizando sua postura de política monetária; fortes indicações de que, excetuados os Estados Unidos, a economia mundial está se desacelerando; e incerteza continuada quanto ao regime de comércio internacional.

Também existem riscos específicos associados à política (Brasil), sanções (Rússia) ou bolsões de endividamento excessivo (China).

Tudo isso prepara o cenário para um período de contágio nos emergentes, e com isso o risco de que alguns dos países mais vulneráveis se vejam arremessados a círculos viciosos financeiros próprios.

Mohamed El-Erian é  Consultor econômico-chefe da seguradora Allianz e autor do livro “The Only Game in Town” (O Único Jogo na Cidade)

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