Ministro defende polícia internacional para combater contrabando nas Américas

Jungmann participou da confederação da Aliança Latino-Americana Anticontrabando

Laís Alegretti
Brasília

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, defendeu nesta terça-feira (28) uma polícia internacional das Américas que seja capaz de perseguir criminosos em países vizinhos. Essa é uma forma, segundo ele, de combater o contrabando.

"Precisamos ter ferramenta internacional para combater o que é internacional. Nenhum país consegue sozinho fazer esse combate", disse.

Jungmann mencionou a existência da Ameripol (Comunidade de Polícias das Américas) e disse que ela deve passar por uma transformação para, em 2019, ter nova personalidade jurídica e poder ampliar sua atuação.

O ministro da segurança pública Raul Jungmann faz movimento com as mãos durante entrevista exclusiva em seu gabinete
O ministro da segurança pública Raul Jungmann durante entrevista exclusiva em seu gabinete - Pedro Ladeira/Folhapress

"A nova personalidade jurídica vai permitir que você possa perseguir criminosos em países vizinhos, integrar inteligência, expedir mandados de busca e de prisão. Não temos isso e precisamos ter", afirmou.

O diretor-geral da Polícia Federal, Rogerio Galloro, foi escolhido neste ano como secretário-executivo da Ameripol. O grupo foi criado em 2007, em Bogotá, com o intuito de dar ênfase ao combate ao narcotráfico, além de realizar operações contra o terrorismo, falsificação, lavagem de dinheiro e contrabando de armas e material radioativo, além de crimes de informática.

Jungmann e Galloro participaram nesta terça-feira (28) de conferência da Alac (Aliança Latino-Americana Anticontrabando), no Palácio do Itamaraty, em Brasília. A aliança é uma iniciativa público-privada, da qual fazem parte governos, associações de empresas e as principais companhias afetadas pelo contrabando.

No evento, palestrantes trataram sobre ações compartilhadas entre os países para combater comércio ilegal de cigarros, bebidas, alimentos e outros produtos.

Galloro disse que "a luta contra o contrabando no Brasil não é uma luta nova" e mencionou o tamanho da fronteira brasileira para dizer que o desafio é "gigantesco".

"A fronteira entre Estados Unidos e México tem 3.144 km e nós temos quase 16 mil km de fronteira terrestre, com dez países", disse.

Flávio Correa Basílio, secretário nacional de segurança pública, lembrou que o contrabando afeta a população de diversas formas. "Não é um desafio local, regional. É um desafio global. Precisamos ter articulação muito ampla e pensar que não é problema só da segurança publica, mas afeta sonegação fiscal, renda, emprego, a vida e dignidade das pessoas", disse. 

Para a analista de risco político e presidente da Consultoria Asymmetrico, Vanessa Neumann, a tolerância da própria população com o contrabando e corrupção dificulta o combate ao comércio ilegal.

"Os cidadãos precisam entender que eles é que pagam as últimas consequências em relação aos grupos criminosos que são fortalecidos pelo contrabando", disse.

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, destacou que recursos ilegais arrecadados com contrabando muitas vezes são utilizados para compra de armas e comércio de drogas, por exemplo.

"Hoje o contrabando não é mais uma atividade artesanal. O contrabando e a pirataria estão cada vez mais integrados a outras modalidade criminosas", afirmou. 

Aloysio Nunes disse, ainda, que é necessária parceria com o setor privado para combater o contrabando e a pirataria.  "Sem essa parceria, dificilmente conseguiríamos vitória significativa nesse combate. [...] As empresas sabem o quanto a concorrência desleal gera de prejuízo", disse.

O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Sérgio Etchegoyen, afirmou que a presença de grandes organizações criminosas é o grande problema das fronteiras na região.

"As nossas fronteiras sul-americanas não apresentam essas tragédias que vemos em outras fronteiras. Não temos fronteiras de ódio, de disputa, de preconceitos. Essas não são realidades das fronteiras internacionais da América do Sul", disse.

Etchegoyen defendeu, ainda, a parceria com governos de outros países. “Estamos trabalhando para que possamos compartilhar estruturas e recursos tecnológicos nas fronteiras. O problema é o mesmo: é tão ilegal traficar drogas aqui no Brasil quanto em qualquer país da região.”

O ministro disse que a Venezuela é um problema novo e que não terminará no curto prazo. Afirmou, ainda, que as consequências da situação da Venezuela foram "plantadas ao longo de muito tempo e infelizmente sustentadas por outros governos".

Sobre a situação dos venezuelanos que chegam ao Brasil, Jungmann reconheceu que o ritmo de interiorização tem sido mais lento que o desejável. Apesar de o governo federal ter consciência de que precisa agilizar esse processo, segundo ele, a garantia de condições adequadas aos imigrantes em outras regiões do país exige muita negociação.

"O fluxo de entrada tende a crescer por conta da ampliação da tragédia humanitária e a interiorização não é fácil, porque envolve negociação. Não pode simplesmente levar as pessoas pra lá e largar", disse.

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