Paralisação de caminhoneiros tira ganho de salários em julho

Acordos e convenções coletivos não tiveram aumento real, diz Salariômetro da Fipe

Larissa Quintino
São Paulo

A paralisação dos caminhoneiros, no fim de maio, continua a trazer consequências para a economia. Desta vez, o impacto foi no bolso dos trabalhadores.

No mês de julho, os acordos e convenções coletivos não tiveram aumento real, apontam dados do Salariômetro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que foram antecipados à Folha e serão divulgados nesta quarta-feira (22).

O índice mediano de reajustes concedidos por negociações protocoladas em julho no Ministério do Trabalho foi de 3,5%, mesmo percentual do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulado em 12 meses.

Com isso, fez o aumento real ficar em zero.

Foi a primeira vez desde janeiro de 2017 que a reposição real ao trabalhador ficou zerada. No mês passado, 37,1% dos acordos ou convenções coletivos fechados ficaram abaixo da inflação, ante 4,8% em junho.

No acumulado dos últimos 12 meses, desde agosto passado, 6,9% das negociações coletivas tiveram reajustes abaixo da inflação.

Segundo Hélio Zylberstajn, professor da FEA-USP e coordenador do Salariômetro, a disparada da inflação por causa da paralisação dos caminhoneiros somada à baixa atividade econômica levaram à queda do reajuste real.

"O acumulado da inflação deu um salto, praticamente dobrou. E, com a economia parada com está, não há como as empresas darem aumento real aos trabalhadores", afirma.

Em junho, o acumulado do INPC havia ficado em 1,8%.

As negociações coletivas estabelecem regras para as relações de trabalho entre empregados e empresas.

Convenções são negociadas entre os sindicatos de trabalhadores e patronal e valem para toda a categoria.

Já acordos são estabelecidos entre a entidade de trabalhadores e uma empresa, para regulamentar necessidades específicas daquela relação com os funcionários.

Em julho, o piso salarial mediano negociado foi de R$ 1.207, ante R$ 1.213 do mês anterior.

Zylberstajn chama a atenção para períodos com inflações até mais altas do que o patamar atual, mas que tiveram reajuste real porque as empresas ainda conseguiam ter uma margem de negociação, apesar da crise.

Em fevereiro de 2017, por exemplo, o INPC estava acumulado em 5,4%, porém as negociações coletivas conseguiram aumento real de 1,4%.

Para o especialista, a tendência até o fim deste ano é que as negociações coletivas consigam apenas repor a inflação. Isso porque o INPC deve chegar a 4,2% em dezembro deste ano, segundo estimativa do Boletim Focus.

"A greve dos caminhoneiros fez que a inflação desse esse salto mas não é só ela que é a vilã. A alta do dólar e da energia elétrica, por exemplo, vai continuar pressionando a inflação", afirma o professor.

"Então, há uma grande probabilidade de que as negociações consigam apenas a reposição da inflação daqui até o fim do ano", diz Zylberstajn.

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