Passagens de US$ 0,02 (R$ 0,08) aniquilam companhias aéreas na Índia

Passagens de Nova Déli para Mumbai custam em média US$ 48 (R$ 195,27)

Nova Déli | Bloomberg

As companhias aéreas internacionais foram em peso para a Índia, atraídas pelo boom das viagens locais e pela projeção de que esse mercado de aviação se tornará o terceiro maior do mundo até 2025. A Índia, porém, revelou-se um mercado extremamente competitivo, onde os lucros são escassos e a expectativa de vida das companhias aéreas é completamente incerta.

A Jet Airways India, uma das primeiras companhias a surgir após a abertura do mercado, no início dos anos 1990, afirmou em um comunicado neste mês que precisa de caixa para atender às exigências de liquidez.

O preço de suas ações está em queda livre e o conselho da empresa, que adiou o anúncio dos resultados em mais de duas semanas, deve se reunir nesta segunda-feira para discutir medidas de austeridade e um plano de recuperação.

Avião da Jet Airways decola em aeroporto da cidade de Ahmedabad, na Índia - Reuters

Este é o mais recente sinal de dificuldades financeiras em um mercado assolado por uma esmagadora guerra de tarifas que dificultou a vida de companhias estrangeiras, da empresa malaia de baixo custo AirAsia Group à Singapore Airlines, sem contar o numeroso grupo de companhias locais. A concorrência deve se intensificar se a Qatar Airways levar adiante a proposta de iniciar uma companhia aérea para cobrir distâncias curtas no país.

O setor indiano de aviação comercial está em choque desde que o governo acabou com o monopólio estatal da Indian Airlines, em 1994. A Kingfisher Airlines, assolada por dívidas, encerrou suas operações em 2012 —e outras 10 companhias locais continuam em uma disputa infrutífera por passageiros, apesar de operarem no mercado de crescimento mais rápido do mundo.

Fator destrutivo

As companhias aéreas indianas pagam os preços mais altos do mundo pelo combustível de avião devido a impostos locais de até 30%. Mas o verdadeiro fator destrutivo tem sido a longa guerra de preços que levou as tarifas das passagens a um patamar tão baixo que mal conseguem cobrir os custos.

"No momento, o mercado favorece os compradores", diz Conrad Clifford, vice-presidente para a Ásia-Pacífico da Associação Internacional de Transporte Aéreo. "Embora a Índia tenha registrado 46 meses consecutivos de crescimento de dois dígitos (do número de passageiros), o mercado continua desafiador para as companhias aéreas."

Com a chegada das companhias aéreas de baixo custo, como IndiGo e SpiceJet, a partir de meados da década de 2000, empresas como a Jet Airways, que oferecem serviços completos e têm custos indiretos mais altos —com refeições e entretenimento a bordo—, foram forçadas a oferecer descontos aos passageiros que buscam uma boa pechincha.

Por exemplo, em 2015, a SpiceJet ofereceu tarifas básicas de apenas US$ 0,02. Os preços médios das passagens de Nova Déli para Mumbai, a terceira rota mais movimentada do mundo, caíram 15%, para 3.334 rúpias (US$ 48/) em julho-agosto em relação ao ano anterior, segundo a agência de viagens online Yatra.com.

As tarifas caíram 40% em relação a 2014, segundo Sanjiv Kapoor, diretor comercial da Vistara, empreendimento local da Singapore Air. Um serviço ferroviário premium na mesma rota custa 4.075 rúpias.

Essas tarifas são "insustentáveis", mas "a única opção" é continuar oferecendo-as, disse Rahul Bhatia, o bilionário cofundador da InterGlobe Aviation, que opera a IndiGo, a analistas no mês passado, após quase todos os seus lucros trimestrais terem sido eliminados.

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