Descrição de chapéu MPME

Primeira blogueira de moda do país conta como seu hobby virou negócio

Em livro, Camila Coutinho dá orientações sobre empreendedorismo com base em sua trajetória

Amanda Nogueira
São Paulo

Aos 18 anos, a estudante de design Camila Coutinho buscava um canal para compartilhar fofocas de famosos com as amigas e resolveu, numa madrugada de ócio, montar um site. Acabou por lançar, em 2006, o que se tornou o primeiro blog de moda do Brasil, o Garotas Estúpidas.

No recém-lançado livro “Estúpida, Eu?”, Camila, 30, revê sua trajetória de blogueira iniciante a mulher de negócios —que chegou a aparecer na lista de 30 brasileiros com menos de 30 anos mais influentes da Forbes—, dando dicas de empreendedorismo com base em sua história.

Camila conta, por exemplo, que, quando o hobby começou a dar lucro e precisou lidar com negociação de valores e emissão de notas fiscais, aprendeu a importância de delegar —e contratou sua primeira funcionária, para cuidar de finanças, em 2012.

Atualmente, conta com uma equipe de seis pessoas e diz não misturar negócios e amizades desde que um amigo se apropriou de um personagem que idealizaram juntos para uma série de vídeos.

Encontrar alguém que te dê conselhos também é essencial, afirma. No seu caso, é o pai, dono de um restaurante no Recife. “É importante você encontrar o seu guru, uma pessoa em quem você confia, que vai ter o senso crítico de falar o que você está fazendo bem e fazendo mal.”

Inseguranças e percalços narrados no livro passam despercebidos nos perfis de Camila nas redes sociais.

Mas ela diz que tem muito suor envolvido. “Quando o hobby vira negócio, você não sente que está trabalhando, mas, ao mesmo tempo, você trabalha muito mais do que as pessoas imaginam.” 

Camila Coutinho, autora do livro "Estúpida, Eu?", em Milão
Camila Coutinho, autora do livro "Estúpida, Eu?", em Milão - Divulgação

Ela lembra, por exemplo, de quando precisou pegar três voos após uma palestra em São Paulo para chegar a Cannes, na França, a tempo do famoso festival de cinema. Após uma prova de roupas na madrugada e poucas horas dormidas, a blogueira teve uma crise de ansiedade momentos antes de figurar no tapete vermelho com celebridades como Rihanna.

Conforme relata sua trajetória, Camila consolida a noção de que “a blogueira ficou maior do que o blog”.

Os números comprovam: ela tem 2,3 milhões de seguidores no Instagram pessoal —fora o 1,2 milhão na conta de seu blog—, 598 mil seguidores no Twitter, 621 mil no Facebook e 351 mil inscritos no YouTube.

É exercendo sua influência sobre a opinião desses seguidores que a blogueira virou empresária. Buscando atingir potenciais consumidores, marcas pagam milhares de reais por menções de influenciadores nas redes sociais, presença em eventos, aparições com peças e parcerias envolvendo produtos licenciados. 

“A maneira de comunicar propaganda hoje em dia é pelo conteúdo. O ideal é que, independentemente de como a publicidade apareça, tenha um serviço útil para quem está lendo.” Uma boa estratégia, diz Camila, é apostar em mercados de nicho, nos quais a concorrência é menor.

Quando percebeu que estava chamando mais atenção do que o seu blog, a influenciadora resolveu segmentar a marca Camila Coutinho e dedicá-la ao mercado de luxo, desvinculando-a do Garotas Estúpidas e criando dois produtos que poderiam gerar receita separadamente. 

“Quando faço uma campanha de cabelo exclusiva para uma marca, o blog fica livre para falar de outras, a gente não pode restringir a nossa liberdade editorial”, afirma.

O filão dos nichos tem alimentado uma nova modalidade de influenciadoras, aquelas que não têm muitos seguidores, mas são valiosas em determinados segmentos. “As marcas estão observando o que você reverte para elas. Você tem que se preocupar [em ter seguidores], mas não deve passar por cima das suas características, não vale tudo pela audiência”, diz Camila.

Seguindo o mantra de que o influenciador deve atuar de forma coerente com sua personalidade, Camila criou a Iconoclasts, uma agência de conteúdo que elabora campanhas para marcas.

“Comecei produzindo minhas próprias campanhas, mas passamos a fazer com outros influenciadores porque às vezes a marca quer alguma coisa que não é o meu perfil”, explica.

Ninguém precisa ser pioneiro como ela para ser bem-sucedido na internet, diz. Mais importante é encontrar o que te diferencia dos outros: “Pode ser um sotaque, uma marca pessoal, a sua maneira de contar uma história que está sendo contada por todo mundo, porque não existe mais informação exclusiva”. 

“Não importa quem fez primeiro, mas quem está fazendo melhor”, afirma. O importante, diz, é estar atento o tempo todo e saber se reinventar quando for preciso. “Entram novos players no mercado toda hora e se você não estiver ligada, pode perder o timing.”

Embora ainda seja um negócio viável, empreender com blogs hoje exige mais esforço do que uma década atrás, quando havia mais concorrência, segundo Márcio Brito, gerente de soluções do Sebrae. 

“Abrir um blog para ganhar dinheiro é muito complicado, porque não há fórmula mágica.” Para a maior parte dos blogueiros que vivem disso o lucro não era o primeiro objetivo, afirma Márcio. O caminho natural das coisas é escrever sobre um tema do seu interesse, conquistar público e, só então, transformar o que era hobby em negócio.

Escolher um público específico é um caminho. “Quando os blogs começaram a ser criados, eram mais amplos. Hoje, são específicos: temos blogs de moda para pessoas de cada estilo.”

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