Indústrias retornam ao patamar de produção do fim do ano passado

Setor se recupera, após baque com caminhoneiros, mas abaixo do previsto por analistas

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São Paulo

Passado o primeiro semestre inteiro deste ano, a indústria brasileira encontra-se no mesmo patamar de dezembro de 2017.

O índice de produção do setor, com ajuste sazonal, fechou junho a 90,6, ligeiramente acima do 90 de abril e pouco abaixo do 90,9 do fim do ano passado, informou o IBGE nesta quinta-feira (2).

Em maio, o indicador despencou para 80,1, a níveis de 2003, impactado pela paralisação dos caminhoneiros. Em variação percentual, a produção perdeu 11% ante abril.

Como previsto pelo mercado, a recuperação veio em junho. Subiu 13,1%, na maior alta da série histórica, iniciada em 2002. Em relação a junho de 2017, avançou 3,5%.

Ainda assim, ficou abaixo do esperado por analistas ouvidos pela agência Reuters, que previam alta de 14,1% mensal e de 4,55% na base anual.

"Apesar do resultado extremamente positivo de junho, não podemos tirar do radar que é como se a indústria não tivesse andado em 2018. E, em termos de patamares, o de dezembro é também como se estivéssemos operando a meados de 2009", diz André Macedo, gerente da pesquisa.

No ano, até junho, o setor acumula alta de 2,3%, bem abaixo da taxa de 4,5% de abril, antes da paralisação.

 

"Com relação a percentuais, não há necessariamente uma compensação direta. Quando algo vale 100 e cai 20%, indo para 80, precisa subir 25% para voltar para os mesmos 100", explica Caio Napoleão, economista da MCM consultores.

Segundo ele, apenas reverter em junho a queda de maio não é suficiente para o setor voltar a registrar um nível acumulado semelhante ao de abril.

"Há uma série de produtos que deixaram de ser produzidos em maio, e isso foi perdido. Para que o setor tivesse mantido a evolução que tinha até abril, teria de, em junho, não só ter produção parecida com a de abril como acrescentar a perda de maio."

Marcelo Azevedo, economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria), destaca que, além de o setor voltar a patamares de dezembro, o ânimo hoje é pior.

"Estávamos mais animados na virada do ano. Tinha mais expectativa de crescimento. No começo do ano, os primeiros dados já frustraram. Com a paralisação, ficou ainda mais grave. O que nos preocupa é que alguns efeitos são persistentes, principalmente sobre a confiança. O resultado ficará aquém do imaginado."

A expectativa do PIB industrial da entidade era de 3% no início do ano. Em julho, o dado foi revisado para 1,8%.

O segundo semestre, em geral, costuma apresentar resultados mais fortes para a indústria do que a primeira metade do ano. Ou seja, deve haver um aumento da produção, mas em ritmo menor.

"Não acreditamos em um tombo, vai haver recuperação. O que é frustrante é que, depois de quatro anos de queda da atividade, vamos ter uma recuperação mais fraca do que o esperado", diz Azevedo.

A alta registrada entre maio e junho foi percebida em 22 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE.

Os setores que mais contribuíram para o aumento foram a indústria automotiva (47,1%) e de produtos alimentícios (19,4%) —justamente os mais afetados pela paralisação dos caminhoneiros.

Linha de produção de motores em fábrica da Ford, em Taubaté, no interior paulista - Diego Padgurschi /Folhapress

A indústria automotiva puxou a categoria de bens de consumo duráveis, que avançou 34,4% em junho, a expansão mais acentuada no mês. Os setores de bens de capital (25,6%), de consumo semi e não duráveis (15,7%) e de bens intermediários (7,4%) também avançaram.

O destaque negativo foi o setor de equipamentos de transporte (-10,7%). "É um efeito mais pontual pela produção de motos, em que houve antecipação de férias coletivas", afirma Macedo.

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