Descrição de chapéu Dias Melhores

Recuperação pelo trabalho devolve esperança no presídio de Tremembé

Detentos de alas feminina e masculina se preparam para reviver a liberdade com novos ofícios

Filipe Oliveira
São Paulo

Os aventais cor de rosa, os tecidos com bordados colados nas paredes, as mesas coloridas, a luz do dia que entra e a conversa animada na oficina de costura contrasta com as celas sem janela e as portas de ferro ao lado na Penitenciária Feminina 2 de Tremembé (SP).

No espaço, que funciona desde junho, 32 presas do regime fechado criam juntas colchas, bolsas, almofadas, carteiras e jogos americanos adornados usando técnicas de bordado, costura e crochê.

Elas não estão ali apenas para acelerar a passagem do tempo de suas penas. Também não ganham salário pela produção diária, o que poderiam conseguir em empresas que oferecem trabalho ali.

O plano é que as 8 horas diárias que dedicam às linhas e às agulhas sejam recompensadas quando a produção delas chegar ao mercado.

A venda dos produtos será feita a partir de uma cooperativa de presas, coordenada pela ONG Humanitas360, que atua no combate à violência.

Para chegar a isso, o grupo teve apoio de dois designers, Renato Imbroisi e Cristiana Pereira Barretto, para aprender em três meses as técnicas de produção e desenvolver uma marca —que ainda não revelam o nome.

O próximo passo é acelerar a produção para que os primeiros itens sejam leiloados em outubro. A seguir, outros irão para bazares de Natal. O lance mínimo para uma colcha deve ser de R$ 2.000.

Como em uma empresa qualquer, parte do ganho será reinvestido, parte distribuído entre as sócias.

"Cada ponto que faço estou costurando minha nova história, pronta para ser feliz lá fora, ganhando meu dinheirinho suado honestamente. Meu filho vai ver que a mãe dele errou, mas mudou", diz Tânia Rodrigues Correa, 35.

Ela está na penitenciária há três anos e meio, condenada por tráfico de drogas. Espera sair no ano que vem.

Tânia, que trabalhou como manicure, diz que, desde o primeiro dia no presídio, acreditava que haveria poucas opções para seu futuro. "Como iria ser recebida em uma multinacional ou mesmo em uma padaria com o currículo de ex-detenta?"

O medo era compartilhado por Flavia Maria da Silva, 40, que cumpre pena há seis anos.

"Pela sociedade, somos todas esquecidas. Jogam dentro do sistema prisional e não há preocupação com o que vamos fazer depois de sair. Como vai ser nossa chegada lá fora? Como a sociedade vai nos receber? Haverá oportunidade de emprego?"

Mesmo com essa dificuldade, ela diz não haver hipótese de voltar ao crime.

"Quero ser um espelho diferente para meus filhos. Não é legal eles terem uma mãe que não vai na reunião da escola porque está presa. Quero que isso esteja fora da minha vida. Quero ver eles na faculdade. Mas, para isso, tenho que trabalhar bastante ainda. E agora vou ter a oportunidade."

A Humanitas360 irá alugar um espaço em Tremembé para que, conforme as cooperadas terminem de cumprir sua pena, possam seguir trabalhando na iniciativa, diz Ricardo Anderáos, vice-presidente de operações da ONG.

No início, a ONG irá cuidar da compra de insumos, da contabilidade, do fluxo de caixa e da gestão da cooperativa. Porém, com o tempo, a participação dela deve diminuir e se restringir ao marketing dos produtos, diz Anderáos.

O projeto, inspirado em iniciativa de presas da cidade de Ananindeua, no Pará, será levado para outros presídios.

São parceiros dos projetos da Humanitas360 a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o Conselho da Comunidade da Vara da Execução Criminal de Taubaté (formado por voluntários que visitam os presídios para verificar suas condições e levar atividades de ressocialização) e a Assessoria Especial para Assuntos Internacionais  do Estado de São Paulo.

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