Trump suspende normas ambientais impostas à indústria automotiva

Estados americanos já se preparam para combater, na Justiça, a mudança de regras

Danielle Brant Júlia Zaremba
Nova York e Washington | AFP e Financial Times

A administração de Donald Trump anunciou, nesta quinta-feira (2), uma proposta para flexibilizar regras que obrigam as fabricantes a produzir carros cada vez mais eficientes no consumo de combustível, em uma medida que, na avaliação de analistas, beneficiaria basicamente a indústria petrolífera.

A proposta, que será lançada pela EPA (agência de proteção ambiental) e pelo Departamento de Transportes americano, tem como alvo padrões estabelecidos em 2012 durante o governo de Barack Obama e que se alinhavam com os parâmetros da Califórnia, mais rígidos que em outros estados.

As regras previam que os veículos melhorassem a eficiência no consumo de combustível ano após ano, até 2025. Trump quer congelar as exigências para as fabricantes nos patamares atingidos em 2020.

A diferença no consumo de combustíveis é relevante e o impacto para a indústria petrolífera, idem.

Carros passam pela ponte do Brooklyn, em Nova York - AFP

Pelas diretrizes do governo democrata, a frota de carros e caminhões leves vendidos pelas fabricantes nos Estados Unidos teriam um desempenho médio de 75,26 quilômetros a cada 3,785 litros em 2026. A proposta de Trump diminuiria a eficiência para 59,5 quilômetros pelo mesmo volume de combustível.

A mudança, se aprovada, elevaria o consumo de combustível nos Estados Unidos em 500 mil barris diários, segundo analistas. A proposta ficará aberta a comentários por 60 dias, após os quais o governo pode ou não acatar as sugestões e comentários recebidos.

No documento em que detalha o plano, a EPA e o Departamento de Transportes dizem que os padrões estabelecidos em 2012 têm elevado o custo dos novos veículos para uma média de US$ 35 mil, fora do alcance de muitas famílias americanas. Nos próximos 50 anos, afirmam, os custos à sociedade superariam US$ 500 bilhões.

Mas, para analistas, os consumidores estariam entre os prejudicados –e não beneficiados-- pelas mudanças, assim como as próprias fabricantes de veículos, sem contar o impacto ambiental.

"Essa é uma das ações mais nocivas e idiotas tomadas pela EPA", afirmou à Folha a procuradora-geral de Massachusetts, Maura Healey, que lidera uma coalizão de 19 estados e o distrito de Columbia contra a nova regra de Trump.

Ela diz que a medida vai na contramão dos esforços para combater o aquecimento global. "A administração cedeu ao lobby das montadoras e àqueles que negam as mudanças climáticas", diz.

Tony Dutzik, analista do Frontier Group, diz que os consumidores seriam penalizados ao precisar pagar mais por combustível do que pagariam com a eficiência prevista pelas atuais regras. “Os preços de combustível são difíceis de prever. Eles vão ficar anos com um carro que pode se tornar caro”, diz.

Para as fabricantes, que defendiam a flexibilização e padronização das regras no país, o panorama também não seria tão favorável.

A batalha legal que o governo enfrentaria jogaria incertezas sobre os planos das empresas --os carros seriam produzidos com que tipo de eficiência? Ameaça também a inovação na indústria automotiva, pois poderia reduzir os investimentos em energia limpa, como em veículos elétricos.

​Só a indústria petrolífera sairia ganhando, diz Dutzik. “Se olhar para a regra proposta, aumenta o consumo em 500 mil barris de gasolina por dia. Parece bom para a indústria de petróleo.”

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