Descrição de chapéu MPME

Venda direta ganha gás com amostra grátis e redes sociais

Empreendedores fazem demonstrações de produtos e criam grupos virtuais

Tatiana Vaz
São Paulo

Revendedores de cosméticos porta a porta têm buscado novas maneiras de enfrentar a concorrência da internet e manter a clientela. Além do catálogo impresso, eles anunciam hoje seus produtos via redes sociais e procuram lugares movimentados para oferecer demonstrações gratuitas de como usar o que vendem.

“As vendas diretas estão se modernizando para atender mais rápido com ajuda da tecnologia”, diz Adriana Colloca, presidente-executiva da Associação Brasileira de Vendas Diretas (Abevd). 

Segundo ela, o serviço prioriza o que grandes varejistas não conseguem fazer no ecommerce: interagir com os clientes e dar atendimento personalizado.

Atentas ao potencial do mercado, grandes marcas têm investido em treinamento e suporte de comunicação para vendedores independentes, afirma a associação.

No ano passado, o setor de vendas diretas recrutou 4,1 milhões de empreendedores e movimentou R$ 45,2 bilhões, segundo a Abved. Para este ano, a expectativa é de um incremento de outros 3%.

O perfil dos vendedores de cosméticos tem se diversificado. “As donas de casa deram lugar a homens e jovens que não querem ter horário e salário fixo para trabalhar.”

Kimberly Soares, 22, vendedora de cosméticos, posa de pé em academia em São Paulo
Kimberly Soares, 22, vendedora de cosméticos, em academia em São Paulo - Alberto Rocha/Folhapress

Kimberly Soares, 22, consultora de vendas da Hinode, é uma dessas profissionais que tenta achar formas diferentes de vender. A paulistana tinha 18 anos quando começou a representar a marca. Na época, havia acabado de iniciar a graduação no curso de biomedicina, o que achava ser seu sonho.

“Fiz três anos de faculdade e larguei no último. Não penso em retomar os estudos. Encontrei nas vendas a minha paixão. Gosto de levar benefícios para as pessoas e ganhar com isso”, diz.

Em seu primeiro dia como vendedora, Kimberly não usou a tática tradicional de oferecer aos conhecidos.

Ela colocou amostras de produtos no porta-malas do carro do pai e saiu pelo bairro batendo em portas de academias, salões de beleza e supermercados para demonstrar o que queria vender.

“Ninguém me ensinou como, nem me disse para fazer assim e, mesmo sendo tímida, consegui”, conta. 

Hoje ainda usa a estratégia, mas também vai a salões fazer maquiagem nas clientes para demonstrar seus produtos, oferece massagens com seus cremes para alunos de academias e lidera um grupo de centenas de pessoas no WhatsApp, onde faz promoções e troca experiências com seu público.

O faturamento da ex-estudante de biomedicina varia de R$ 3.500 a R$ 8.000 mensais. Como a empresa funciona com marketing multinível, em que a pessoa também ganha com a indicação de outras, atualmente ela lidera um time de 650 pessoas.

A estratégia de carreira de Kimberly é diferente da adotada pela bióloga Fabiana do Amaral Cortinolle, 43. Fabiana usa a venda porta a porta para complementar o salário que recebe em seu emprego fixo, em uma fábrica no interior paulista. 

Há quatro anos, ela trabalha como consultora da Natura nas horas vagas e, até este ano, vendia só pela internet. “Mas vi que ganharia mais se vendesse pessoalmente, com ajuda do catálogo impresso. Comecei em julho”, afirma.

A vantagem das vendas online, afirma a bióloga, é o gerenciamento fácil das compras e a entrega rápida.

“Mas vender presencialmente é outra coisa. Você conhece as pessoas e elas preferem comprar de você depois, coisa que a internet não traz.”

O número maior de profissionais do ramo aumenta a concorrência entre eles, principalmente para atender consumidores que não têm vendedor cativo. Foi pensando nisso que o empresário curitibano Rafael Luciano, 31, criou o aplicativo Lilibox.

Divulgado como o “Uber dos cosméticos”, ele conecta consumidores com revendedores que atendem a requisitos, como preço, data de entrega e localização. A receita para o empresário e seu sócio vem da taxa paga pelos revendedores de 6% do valor da venda.

“Tive a ideia do negócio quando um produto que uso acabou e eu só notei de noite, quando seria impossível encontrar algum revendedor. Pensei: por que não conectar pessoas como eu a esses vendedores?”, diz.

Luciano trabalhava no marketing de uma grande empresa de cosméticos. Conhecia o mercado e sabia haveria uma tendência de alta nos próximos anos. “Chamei meu melhor amigo para ser meu sócio e criamos a empresa.”

Em um ano, o aplicativo já atendeu 4.000 clientes em 37 cidades do país e conta com produtos de sete grandes marcas, incluindo Natura, Avon e Boticário.

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