Depois da Apple, Amazon atinge US$ 1 trilhão em valor de mercado

A gigante é a segunda a atingir a marca em Wall Street e, agora, mira no mercado de publicidade

Paula Soprana Anaïs Fernandes
São Paulo

A Amazon se tornou nesta terça-feira (4) a segunda empresa a atingir US$ 1 trilhão (R$ 4,16 trilhões) em valor de mercado. A primeira companhia a bater a marca foi a Apple, no início de agosto.

É um marco no processo de transformação de uma livraria online em uma gigante do comércio eletrônico, conduzido por Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo. 

Nesta terça, o empresário, que detém 16% da Amazon, adicionou US$ 1,8 bilhão à sua fortuna, avaliada em US$ 116,5 bilhões. Em segundo lugar aparece Bill Gates, com US$ 95,4 bilhões.

As ações da Amazon subiram 1,33% e fecharam o dia em US$ 2.039 (R$ 8.491).

Por volta do meio-dia, os papéis chegaram a valer US$ 2.049 (R$ 8.533), mas caíram, e o valor de mercado da companhia ficou em US$ 994,75 bilhões (R$ 4,14 trilhões).

Quando abriu seu capital, em 1997, a empresa foi avaliada em menos de US$ 500 milhões. De lá para cá, seus papéis se valorizaram 135.733%. 

Investidores recompensaram a empresa sediada em Seattle após seu balanço demonstrar melhor disciplina financeira nos últimos trimestres, reportando lucros recordes com negócios lucrativos como a computação em nuvem.

No segundo trimestre deste ano, a Amazon registrou lucro de US$ 2,5 bilhões, mais que o dobro das expectativas de Wall Street.

No ano, as ações acumulam alta de 74,4%, um adicional de cerca de US$ 435 bilhões (R$ 1,8 trilhão) em seu valor —quase o tamanho da rede de supermercados Walmart, a antecessora à empresa de Bezos no ecommerce.

Criada em 1994, a varejista iniciou sua trajetória com a venda online de livros e CDs. Nasceu como uma empresa de garagem, como muitas das líderes bilionárias do mercado de tecnologia. Hoje, pode ser descrita como a empresa que está presente em tudo, ou quase.

No varejo, a abertura de seu site para milhões de pequenas empresas acelerou seu crescimento. Nos Estados Unidos, a Amazon captura 49 centavos de cada dólar de comércio eletrônico.

Em 24 anos, a companhia virou sinônimo de oferta de plataformas e dispositivos.

Entre os lançamentos estão o Kindle, que permite a leitura de ebooks; o CreateSpace, para lançamento de livros; a Amazon Web Services, nuvem pública que hospeda aplicações de outras gigantes, como Netflix; a Alexa, ajudante doméstico baseado em um sistema de inteligência artificial; e o Prime Air, drone autônomo de entregas.

Nos últimos meses, a empresa também adquiriu a cadeia de supermercados Whole Foods Market —com cerca de 470 lojas físicas —, o que permitiu entregas dentro dos lares e carros dos consumidores. A varejista trabalha ainda em um serviço de entrega esperado para competir com a FedEx e a United Parcel Service. 

A diversificação de portfólio da companhia é constante.

“O sentimento do investidor ao longo dos anos tem sido, sem dúvida, uma montanha-russa, mas claramente as apostas que Bezos fez estão valendo a pena, especialmente no programa de nuvem e de streaming”, diz Joel Kulina, analista da consultoria americana Wedbush.

Apesar de nuvem ser uma das frentes mais lucrativas e promissoras —faturou mais de US$ 17 bilhões (R$ 70,8 bilhões) em 2017 e se tornou o maior gerador de lucro da empresa—, especialistas indicam um novo negócio na mira da gigante Amazon.

“O domínio do varejo foi seguido pelo domínio da nuvem. A maioria das pessoas sente que a logística é o próximo segmento, mas a nuvem dará lugar à publicidade como o principal negócio em 2020”, afirma Kulina.

A estratégia de focar em anúncios faz sentido já que a Amazon abriga uma infinidade de aplicativos em seu espaço de computação.

O acesso ao desktop costumava favorecer o Google. À medida que a publicidade em dispositivos móveis cresce, e a Amazon pode oferecer anúncios não só para aplicativos do sistema operacional do Google (Android) ou da Apple (iOS), ela se torna uma competidora feroz para as outras gigantes de tecnologia.

“Eles estão mirando o mercado de anúncios online. Têm estrutura para isso, pois conseguem entrar por várias plataformas”, diz André Pase, professor de Comunicação Digital da PUC-RS.

Apesar do trilhão de doláres, a companhia passa por delicado momento de reputação, especialmente nos EUA. A empresa enfrenta críticas tanto de republicanos como de democratas.

O presidente Donald Trump acusa a companhia de arruinar milhares de comerciantes, não pagar impostos corretamente e causar prejuízos ao correio.

"Eu expus minhas preocupações com a Amazon muito antes da eleição. Diferente de outros, eles pagam pouco ou nenhum imposto a governos estaduais e locais, usam nosso sistema postal como seu garoto de entregas [causando tremendo prejuízo aos EUA], e estão tirando muitos varejistas do negócio", disse Trump em um publicação em rede social em março. 

Já senador democrata Bernie Sanders ataca as condições de trabalho dos funcionários.

No entanto, não é unânime a crença de que a Amazon arruinou o varejo

Nos EUA, o setor, que movimenta US$ 3,5 trilhões (R$ 14,5 trilhões) ao ano, foi beneficiado justamente por lojas que aprenderam a reproduzir a facilidade de compra e a gratificação instantânea do e-commerce

Os recordes conquistados por Amazon e Apple demonstram a crescente influência das empresas de tecnologia nos mercados e na economia.   

Mas a Amazon levou apenas 165 dias de pregão para aumentar seu valor de mercado de US$ 600 bilhões em janeiro para o atual US$ 1 trilhão, superando a Microsoft e o Alphabet na corrida. Em comparação, a Apple precisou de 183 sessões para atingir a marca.

Alguns analistas esperam que a Amazon logo ultrapasse a Apple como a maior empresa dos EUA, o que marcaria a primeira mudança desse tipo desde 2016, quando a Alphabet passou brevemente a fabricante do iPhone.

Com agências de notícias

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