Armazenamento de energia promete revolução no setor elétrico

No Brasil, projeto piloto já está em funcionamento na hidrelétrica de Bariri

Usina Hidrelétrica São Simão, em Goiás - Cemig/Divulgação
Andrea Vialli
São Paulo

A energia gerada por sol ou vento é intermitente, ou seja, não pode ser armazenada em sua forma original.
Mas isso está mudando: o crescimento das energias renováveis será amparado pelas tecnologias de armazenamento que já prometem ser a nova revolução no setor elétrico. 

Com elas, é possível gerar energia em horários de baixa demanda (como na madrugada) para usá-la nos horários de ponta, quando o preço sobe.

O armazenamento de energia também é solução para sistemas isolados, sem conexão com linhas de transmissão e dependentes de geradores a diesel, mais caro e poluente.

Baterias de íons de lítio são a principal tecnologia empregada hoje para permitir que a energia possa ser estocada. 

Segundo a consultoria Bloomberg New Energy Finance, os projetos estão em expansão por causa da queda nos preços das baterias de íons de lítio (80% desde 2010), impulsionada pelo aumento na produção de veículos elétricos.

Painéis solares em área verde
Painéis solares instalados na usina solar de Tanquinho, Campinas, São Paulo - Divulgação

Em um relatório de junho, a consultoria estima que US$ 548 bilhões serão investidos no setor até 2050.

A chegada do armazenamento barato em baterias vai ampliar a geração de renováveis, que tomarão parte significativa do mercado de carvão, gás e energia nuclear. 

“É energia confiável a um custo menor. O Brasil, que gera energia cara em termelétricas para atender à demanda nos horários de pico, poderá economizar muito”, diz Carlos Augusto Brandão, presidente da Abaque (Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia).

O país já conta com os primeiros projetos, com R$ 405 milhões em investimentos. Um exemplo vem de Fernando de Noronha (PE), que recebeu um piloto desenvolvido pela ​Celpe, a concessionária de Pernambuco, e a fabricante de baterias japonesa NEC. 

O conjunto de baterias de íons de lítio com 560 kilowatts de capacidade, acoplado a um sistema de placas fotovoltaicas, vai permitir o desligamento de geradores movidos a diesel que hoje abastecem o arquipélago. 

O projeto foi aprovado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), no programa de estímulo à pesquisa e desenvolvimento, com investimento de R$ 20 milhões. Esse programa do setor recebe 1% do que é faturado nas contas de energia. Na última edição, selecionou 29 projetos de armazenamento de energia —23 já em desenvolvimento. 

A perspectiva é que esses projetos alcancem 1,2 gigawatts em potência armazenada até 2025. “Em três anos esse mercado estará maduro”, diz Brandão.

Países como EUA, Japão e Reino Unido estão ampliando seus sistemas. A americana AES desenvolveu um armazenamento em baterias há dez anos, com experiências consolidadas nos EUA, Chile e Irlanda. 

No Brasil, onde opera a subsidiária AES Tietê, o primeiro projeto começou a funcionar este ano em Bariri, a 330 quilômetros de São Paulo, na hidrelétrica que pertence à companhia. Inclui um sistema modular de armazenamento de energia de 161 kW, que pode ser expandido para 1 MW, com baterias de íons de lítio. 

“Fizemos esse piloto para comprovar o potencial do armazenamento de energia para o setor elétrico brasileiro”, diz Rogério Jorge, diretor de relacionamento com clientes da AES Tietê. 

Além de balancear a intermitência das fontes renováveis e prover energia para sistemas isolados, o armazenamento poderá aliviar as redes de transmissão e ser usado em projetos direcionados a clientes.

Segundo Jorge, o plano é oferecer a tecnologia como solução anti-apagão para empresas do comércio ou indústria que necessitam de segurança no fornecimento. 

O Ministério de Minas e Energia estuda realizar este ano os primeiros leilões de energia envolvendo tecnologias de armazenamento. O objetivo é atender aos sistemas isolados de Roraima. O estado é abastecido com linhas de transmissão da Venezuela, que apresenta problemas.

O armazenamento pode gerar negócios para comercializadoras de energia que atuam no mercado livre.

A Electra Energy, de Curitiba, quer investir R$ 18 milhões nisso, e estuda duas possibilidades: a substituição de geradores a diesel por energia armazenada nos horários de maior demanda, e o armazenamento da energia gerada por eólicas na madrugada.

 “O plano é suprir energia de sistemas de armazenamento diretamente aos nossos clientes”, diz Claudio Fabiano Alves, diretor-presidente da Electra.

A empresa quer usar, além de baterias, hidrelétricas reversíveis: nesse sistema, bombas e turbinas levam a água de um reservatório inferior, em períodos de baixa demanda, para um superior.

Quando a demanda aumenta, aciona-se o processo reverso: a água deixa o reservatório superior em direção ao inferior, movimentando as turbinas hidráulicas e gerando energia. 

Como funciona o armazenamento em baterias

Ilustração

1- A energia é gerada por painéis solares fotovoltaicos ou turbinas eólicas

2- A energia segue para os controladores de carga, responsáveis por proteger as baterias de sobrecargas, o que poderia comprometer sua vida útil

3- Conjuntos de baterias armazenam a energia, que pode ser acionada nos períodos de maior demanda 

4- Antes de chegar à rede elétrica, a energia passa pelo inversor, equipamento que converte de CC (corrente contínua) para CA (corrente alternada). Assim pode ser utilizada nos eletrodomésticos

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