Descrição de chapéu 10 anos da crise global

Bernanke admite erros do BC dos EUA no combate à crise de 2008

"Ninguém enxergou o quanto a crise em si seria espalhada e devastadora", afirmou

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Richard Miller
Washington | Bloomberg

O ex-presidente do Federal Reserve Ben Bernanke reconheceu que o banco central americano cometeu dois erros críticos no combate à crise financeira uma década atrás: não previram sua chegada com tanta força e depois subestimaram o estrago econômico que causaria.

“Ninguém enxergou o quanto a crise em si seria espalhada e devastadora”, ele afirmou durante um breve vídeo sobre um estudo de 90 páginas a respeito do assunto, divulgado nesta quinta-feira.

Bernanke comandou o Fed de 2006 até 2014 e hoje trabalha na Instituição Brookings, em Washington. Ele identificou o pânico que tomou conta do sistema financeiro com o colapso do Lehman Brothers Holdings, em 2008, como principal razão para a profundidade da recessão que se seguiu.

Ex-presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, disse que BC errou ao não prever a força da crise e depois subestimaram o estrago econômico que causaria - Joshua Roberts/Reuters

A falha em antecipar a severidade daquela derrapada “exige uma inclusão mais minuciosa de fatores do mercado de crédito nos modelos e previsões da economia” no futuro, escreveu ele separadamente em um blog.

Bernanke foi o segundo integrante do Fed a fazer mea culpa nesta semana. O ex-vice-presidente Donald Kohn concordou que o banco central fez erros de previsão durante a crise e depois dela. O Fed também superestimou os custos potenciais de seu polêmico programa de estímulo quantitativo e foi mais tímido do que deveria na execução do mesmo, ele disse.

“Nós ficamos atrás da curva”, disse Kohn durante uma conferência sobre a crise na Brookings, na terça-feira.

Bernanke discorda de quem argumenta que o estouro da bolha de preços de imóveis residenciais – e seu impacto sobre o patrimônio das famílias e os gastos dos consumidores – foi o principal fator para a crise profunda de uma década atrás. Ainda que esse fator sem dúvida tenha exercido influência importante, especialmente ao desencadear a crise, Bernanke entende que a recessão não teria sido tão grave se os investidores não tivessem resgatado às pressas dinheiro de bancos e outras instituições financeiras.

“Houve uma corrida, um pânico análogo ao dos anos 1930, mas de forma eletrônica e não com gente fazendo fila na rua”, ele disse no vídeo. “A disponibilidade de crédito despencou.”

Na mesma linha dos comentários feitos na semana passada pelo ex-secretário do Tesouro Timothy Geithner, Bernanke revelou temer que as reformas pós-crise tenham deixado o Fed e outras autoridades com menos ferramentas para lidar com a próxima crise.Para tentar impedir resgates pelo governo no futuro, o Congresso americano limitou a capacidade do Fed, da entidade garantidora de depósitos FDIC (Federal Deposit Insurance Corp.) e do Departamento do Tesouro de fornecer apoio emergencial ao sistema financeiro.

Embora as reformas de modo geral tenham melhorado significativamente a resistência do sistema a choques ao elevar o capital dos bancos e outras medidas, “os formuladores de políticas precisam ter as ferramentas apropriadas para combater a próxima crise”, escreveu Bernanke em seu estudo.

“Neste aspecto, estou um pouco menos otimista”, ele afirmou.

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