Bolsa fecha setembro com ganhos e dólar se firma em R$ 4

Apesar de eleições, mercados se beneficiaram da volta de investidores estrangeiros

Tássia Kastner
São Paulo

A pouco mais de uma semana para o primeiro turno da eleição, o mercado financeiro apresenta números bem distintos da catástrofe prevista semanas atrás por analistas. 

Nesta sexta-feira (28), o dólar fechou ao redor dos R$ 4 e termina setembro em patamar levemente inferior ao registrado há um mês, isso depois de ter saltado mais de 8% em agosto. 

A Bolsa brasileira voltou a apresentar desempenho positivo e acumulou valorização de mais de 3% nas últimas quatro semanas.

A sensação de calmaria foi trazida por investidores estrangeiros, que voltaram a aplicar recursos em países emergentes nos últimos 15 dias, após a definição dos rumos da guerra comercial entre Estados Unidos e China. O movimento beneficiou o Brasil, com a entrada líquida de capital externo de mais de R$ 2 bilhões em setembro até dia 26, segundo dados da B3.

O dólar avançou 1,07% e terminou a sexta cotado a R$ 4,0380, mas bem distante da máxima de R$ 4,197 atingida no dia 13 de setembro. 

No dia 14, Trump oficializou que iria impor tarifas sobre mais US$ 200 bilhões (R$ 806 bilhões) em produtos importados da China.

Ainda que o cenário externo tenha beneficiado o mercado doméstico, investidores mantiveram suas atenções voltadas à corrida eleitoral. 

Nesta sexta seria divulgada nova pesquisa Datafolha, e a corretora Guide destacou a seus clientes o fato de que a amostra desse levantamento seria maior, 9.000 pessoas. Isso poderia trazer um retrato mais acurado do primeiro turno, disse a corretora em relatório. 

Na próxima semana, a última antes do primeiro turno, serão publicados mais dois levantamentos do Datafolha e um do Ibope. Estão previstos ainda dois debates entre os presidenciáveis.

O mercado dá como certo um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), primeiro e segundo lugar, respectivamente, nas nas pesquisas de intenção de votos divulgadas até aqui. Em um eventual segundo turno, levantamentos mais recentes apontaram a vitória do petista.

"Continuamos avaliando que é mais provável que Haddad seja eleito. Contudo, a vitória de Haddad não deve representar a posse de um governo petista. Assim como Lula e Dilma, Haddad não é o típico membro do PT e já acenou para o centro", escreveu o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Na ausência de Geraldo Alckmin (PSDB) no segundo turno, o mercado financeiro tem encampado a candidatura de Bolsonaro, com seu fiador econômico Paulo Guedes, já indicado para o Ministério da Fazenda em um eventual governo.

Investidores apostam que, com Bolsonaro e Guedes, pode ser mais provável que o país siga comprometido com o equilíbrio das contas públicas e com reformas que consideram necessárias para o país, como a da Previdência.

Mas as últimas semanas foram de desencontros entre o economista e o capitão reformado. Houve ainda na candidatura de Bolsonaro o ruído com o vice, General Mourão, que criticou o 13º salário e foi prontamente desautorizado.

No mesmo período, o mercado financeiro passou a examinar no discurso de Haddad propostas econômicas mais alinhadas a suas ambições.

"Com a proximidade da eleição, o mercado está chegando à conclusão de que as reformas fiscais vão ser conduzidas. Acredito que pode ter uma onda até mais positiva [para os mercados]", diz Tatiana Pinheiro, economista do Santander.

A resistência a petista persiste, porém. Nesta sexta, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, autorizou a Folha a entrevistar o ex-presidente Lula na prisão, o que foi amplamente comentado nas mesas de operação durante o dia.

A Bolsa brasileira fechou a sexta em queda de 0,82%, a 79.342 pontos após ter batido nos 80.000 pontos na véspera. No ano, o Ibovespa acumula alta de 3,85%.

O desempenho negativo no dia foi reflexo da baixa nas ações da Petrobras, após a valorização de mais de 6% nos papéis preferenciais. O setor financeiro também recuou, em um dia de noticiário negativo no exterior.

O governo italiano apresentou uma proposta orçamentária com um déficit três vezes maior do que sua meta anterior e levou os mercados a reagirem mal. 

O principal índice acionário do país cedeu mais de 3% e pesou sobre as demais Bolsas europeias. 
Nos Estados Unidos, o dia foi de estabilidade. O Dow Jones subiu 0,07%, e o Nasdaq, 0,05%.

Com Reuters

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