Burocracia e exigências contratuais são barreiras entre startups e grandes empresas

Estudo ouviu dez grandes companhias que possuem programas e dez participantes

Filipe Oliveira
São Paulo

Lidar com as regras, burocracias e exigências de grandes empresas são desafios para startups que se aproximam dessas companhias.

O tema, que vem ganhando força conforme empresas brasileiras criam escritórios de coworking, programas de aceleração e investimentos em novas companhias de tecnologia, foi discutido em pesquisa realizada pela consultoria EY, pelo Insper e pela Endeavor, organização de apoio ao empreendedorismo.

A análise contou com dez entrevistas qualitativas com grandes empresas que possuem programas de aproximação com startups e dez startups participantes deles.

Segundo Eduardo Tesche, da consultoria EY, grandes corporações, quando investem em startups, tendem a esperar mais controle sobre elas do que os fundos de venture capital (capital de risco) que aplicam recursos nesse mercado.

Regras para contratações de serviços das grandes empresas também tornam mais difícil a relação, diz.

"Uma simples contratação de serviços da grande empresa pode envolver uma série de papelada, vista pelo empreendedor como burocracia."

Pedro Lipikin, coordenador de políticas públicas da Endeavor, diz que o relacionamento pode ser bom para as duas partes. Para a grande empresa, permite inovar e trazer uma mentalidade ágil para os funcionários e, para a startup, dá acesso a mais mercado.

Por outro lado, ele destaca que há uma diferença importante de poder entre as partes e é preciso que as expectativas estejam ajustadas desde o início para que haja sucesso.

"O empreendedor, muitas vezes, tem dificuldade para negociar bem no começo, não tem recursos para contratar uma assessoria jurídica, uma consultoria, não consegue falar na mesma língua da corporação."

Segundo ele, para que a startup consiga se integrar bem com a uma grande empresa, é preciso que executivos da companhia maior a ajudem a compreender seu funcionamento e acessem os recursos necessários.

Também é importante que a grande empresa flexibilize regras na medida do possível.

"Muitas empresas não conseguem contratar um empreendedor porque o processo leva seis meses e exige balanço auditado de três anos, mesmo que muitas startups tenham só dois."

Participante do evento em que a pesquisa foi apresentada, Kleber Bacili, presidente-executivo da startup Sensedia, especializada em integração de sistemas e atuante no setor bancário, disse que a existência de muitas cláusulas contratuais muito restritivas pode dificultar a relação.

Cita, por exemplo, a exigência de preferência na compra em programas de aceleração.

Outra prática que pode prejudicar as startups, segundo ele, é a grande empresa usar a startup para testar e conhecer uma nova tecnologia gastando pouco e, quando decide adotá-la, abrir uma concorrência que inclui grandes concorrentes da startup.

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