Dólar fecha abaixo de R$ 4 pela primeira vez em mais de um mês

Entrada de recursos estrangeiros no país ajuda na valorização do real, que fechou a R$ 3,995

Tássia Kastner Anaïs Fernandes
São Paulo

O dólar fechou abaixo de R$ 4 nesta quinta-feira, reflexo da entrada de investidores estrangeiros no mercado doméstico. A Bolsa brasileira avançou mais que o exterior e fechou com ganhos de mais de 1%, em 80 mil pontos.

A moeda americana terminou o dia em queda de 0,76%, a R$ 3,9950. É a primeira vez que o dólar fecha abaixo de R$ 4 desde o dia 20 de agosto. Considerada uma cesta de 24 emergentes, o real foi a segunda que mais apresentou ganhos sobre o dólar, atrás apenas da lira turca.

"O dólar tem caído, em que pese o ambiente das pesquisas e debates, dos ditos e desditos. Os formadores de preços dos ativos financeiros parecem não ver risco que exija ajuste em tais preços com o resultado das eleições. Prevalece a condição de moeda emergente do real para o bem e para o mal", escreveu em relatório José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.

"Está tendo fluxo e uma reversão dos fundos, que estão voltando a comprar Brasil", diz o presidente da correspondente cambial Remessa Online, Fernando Pavani.

O estrategista da corretora do Santander, Ricardo Peretti, aponta que o fluxo de entrada de investidores estrangeiros começou na metade do mês e vem se sustentando desde então. Quando eles voltam ao país, trazem dólares, ajudando a valorizar o real. Em setembro até o dia 25, o saldo de estrangeiros na bolsa está positivo em 1,7 bilhão de reais. 

Peretti aponta, no entanto, que o movimento não ocorre apenas para o Brasil, mas para outros emergentes como Turquia e Rússia. Ele associa a entrada a uma calmaria de investidores após a entrada em vigor de novas tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump, a produtos importados da China.

As taxas sobre US$ 200 bilhões (R$ 799 bilhões) em produtos entraram em vigor no dia 17 de setembro.

"A minha impressão é de que o mercado chinês reagiu bem [às tarifas], e os mercados emergentes liderados pela China começaram a puxar para cima as Bolsas", afirma Peretti.

"Tem dinheiro entrando no país e também uma expectativa mais amena em relação à eleição. O real já estava muito desvalorizado por causa da precificação que havia sido feita do cenário político", diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Galhardo ecoa um relatório do Bank  of  America  Merrill  Lynch (BofA) obtido pelo jornal Valor Econômico nesta quinta, que aponta uma tolerância maior ao petista Fernando Haddad na disputa eleitoral.

“Fernando Haddad moderou seu discurso e acreditamos que os clientes estão enviesados para aumentar a exposição no Brasil”, escreveu o banco, segundo reprodução do Valor.

O mercado financeiro vinha mostrando forte resistência a Haddad, por considerá-lo o menos comprometido com reformas que consideram necessárias para o reequilíbrio das contas públicas. Desde que se convenceram que Geraldo Alckmin, até então preferido, não conseguiria avançar na preferência do eleitorado, investidores têm abraçado a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).

Nos últimos dias, a percepção é de que mesmo Haddad tem se mostrado mais aberto ao ajuste fiscal, dizem alguns analistas. Em levantamento realizado pela Folha sobre as propostas dos candidatos para a Previdência, Haddad criticou a reforma de Temer, mas apontou para a convergência entre os regimes próprios de servidores públicos com a Previdência Social do setor privado.

Sem divulgação de novas pesquisas eleitorais, o cenário doméstico pautou menos o mercado financeiro nesta quinta-feira. Na sexta (28), serão conhecidos novos dados do Datafolha, após levantamentos divulgados pelo Ibope com maior probabilidade de, em um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, o petista vencer a disputa.

O Ibovespa avançou firme nesta quinta-feira, ganho de 1,71%, e fechou em 80.000 pontos.  O giro financeiro somou 11,96 bilhões de reais. No exterior, os principais índices acionários também avançaram, mas com ganhos mais modestos. O índice Dow Jones subiu 0,21%, o S&P 500 ganhou 0,28% e o Nasdaq, 0,65%.

O índice foi puxado pela disparada nas ações da Petrobras. Os papéis preferenciais da companhia (mais negociados) ganharam 6,29%, a R$ 21,46, após a estatal fechar acordo para encerrar investigação sobre corrupção nos Estados Unidos. As ordinárias subiram 4,88%, a R$ 24,50.

As ações do setor bancário, também com forte peso no Ibovespa, também fecharam o dia no azul.

Com Reuters

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