Descrição de chapéu MPME

Falta de mão de obra especializada é desafio para produtoras de audiovisual

Dependência de recursos públicos e concentração da demanda no Sudeste do país também são desafios

Cristine Gentil
Brasília

Pequenas empresas ainda têm dificuldade de acompanhar o crescimento médio no mercado audiovisual, que foi de 10% nos últimos quatro anos.

Entre os desafios enfrentados pelos pequenos estão a dependência excessiva de recursos públicos, a falta de mão de obra especializada e a concentração da demanda no Sudeste do país.

“O audiovisual é um mercado crescente e relevante dentro da economia criativa, mas é preciso focar a gestão. As empresas não podem ficar reféns dos editais e dos fundos setoriais para captar recursos”, afirma Odete Cruz, gerente executiva de capacitação e novos projetos da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais).

Em parceria com o Sebrae-SP e a Fundação Dom Cabral, a Apro mapeou essas dificuldades e planeja agora um programa de mentorias para os pequenos, ampliando o alcance para estados além de São Paulo por meio de plataformas de ensino a distância.

O cenário é positivo para quem deseja empreender na área: entre 2009 e 2014 houve aumento de 139% nos recursos federais investidos no audiovisual —no período, foi liberado R$ 1,3 bilhão ao setor. Em cinco anos, o volume de obras registradas cresceu 75%.

Leis de incentivo como a que define cota de exibição de conteúdo nacional na televisão por assinatura, conhecida como Lei da TV Paga, e o crescimento das novas mídias impulsionam o crescimento.

“É preciso narrativa para atender a todos os segmentos, como os vídeos para redes sociais”, diz Odete.

É difícil, porém, para as empresas, encontrar mão de obra especializada. E, quando encontram, é uma mão de obra cara. “O mercado audiovisual sempre foi muito informal”, afirma Odete.

Os empresários Filipe Souza Leão e Camila Coutela, que lançaram há três meses a Agência de Roteiros, já conheciam as dificuldades no recrutamento de funcionários na área antes de empreender.

Ele já havia sido sócio de uma produtora e ela, roteirista, tinha a experiência oposta: sabia que, do ponto de vista do profissional, também era difícil ingressar no mercado e encontrar trabalho. Faltava um elo entre roteiristas e produtoras, concluíram.

A empresa dos dois se encarrega, então, de fazer essa ponte. “Não agenciamos roteiristas. Os clientes contratam um roteiro, e nós selecionamos os melhores profissionais para trabalhar no projeto”, explica Filipe. 

A agência conta com 40 roteiristas cadastrados, que podem escrever sobre gastronomia, games ou outros temas. O ponto forte da agência, na opinião de Filipe, é ter gente especializada sobre diferentes assuntos, que conseguem ticar projetos variados.

Por enquanto, os projetos contratados da Agência de Roteiros são voltados para publicidade ou corporativos —para as pequenas produtoras, esse é hoje o melhor mercado. 
Fazer projetos maiores, com ideia e roteiros próprios, pensados para cinema e televisão, também é custoso para quem está começando. Esse tipo de trabalho costuma ficar na mão de empresas médias e grandes.

Pequenos empresários no ramo dependem, assim, de recursos públicos para conseguir tocar seus trabalhos. 

Dario e Elizabeth com uma pessoa vestida como uma personagem de cabelos laranjas e maria chiquinha, dentro do estúdio da empresa com pessoas trabalhando no computador e desenhando
Dario e Elizabeth Betancour no estúdio da produtora Supertoons em SP  - Rafael Hupsel/Folhapress

O estúdio de animação Supertoons, de São Paulo, tem uma década de vida, mas só conseguiu lançar sua primeira obra autoral em 2014.

“O Diário de Mika”, exibido pelos canais Disney, alcançou  130 países, e foi desenvolvido no programa de capacitação da Apro.

Conseguir financiamento é demorado e burocrático, afirma Dario Betancour, dono da produtora ao lado da mulher, Elizabeth. “E o dinheiro que dão é para a produção, não é para divulgar e distribuir. Mesmo bem-sucedido, um desenho como ‘O Diário de Mika’ demora uns três anos para dar retorno”, afirma ele. “A demanda de gente é alta e o custo, também.”

Mesmo com o sucesso de seu produto, a empresa já foi maior. A Supertoons chegou a ter 50 colaboradores e filial no Rio de Janeiro, hoje fechada. Entre funcionários contratados e terceirizados, hoje conta com uma equipe de 25 pessoas.

Com a ajuda do programa de capacitação, a empresa trabalhou o projeto autoral em várias plataformas: além da televisão pensaram em vídeos para a internet, licenciamento de produtos, aplicativos, shows, livros e peça de teatro.

Para Renato Leandro, que trabalhou como produtor transmídia na Supertoons na época do lançamento do desenho e hoje trabalha como microempreendedor individual, as leis de incentivo abriram um grande leque de empregos, mas ainda se trata de um mercado volúvel.

Fora de São Paulo, as dificuldades são ainda maiores. De acordo com Odete Cruz, pelo menos 60% das empresas desse mercado estão concentradas no eixo Rio-São Paulo.

139%

aumento nos recursos federais investidos no setor audiovisual entre 2007 e 2014

R$ 1,3 

bilhãovalor investido nesse período

20%

crescimento salarial médio no setor


Fonte: Mapeamento e impacto econômico do Setor Audiovisual no Brasil (2016)

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