O empresário Adenilson Cardoso, 28, não era de emprestar dinheiro até conhecer o aplicativo de conta digital Social Bank.
O serviço permite cadastrar um pedido de empréstimo e dar crédito para outros usuários do aplicativo, oferecendo um chat para que as partes troquem informações e combinem as taxas de juros.
Cardoso conta que, no começo, ficou desconfiado de que poderia cair em golpes pelo serviço. Mas achou a ideia interessante e começou a indicar para amigos que precisavam de dinheiro e a emprestar para eles pelo aplicativo.
Ele diz já ter feito 12 empréstimos, a maioria de R$ 1.000 e com juros em torno de 2% ao mês —limite permitido pela empresa. Um deles está com o pagamento atrasado, diz.
“Meu perfil de investimentos é arrojado. Sempre me dispus a correr riscos para achar uma boa opção”, afirma.
Esse tipo de empréstimo, de uma pessoa a outra a partir da internet, deve ganhar espaço no mercado como consequência de sua regulamentação pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que criou em abril a figura jurídica da SEP (Sociedade para Empréstimos entre Pessoas).
Entre as exigências definidas estão que as empresas são responsáveis por fazer a avaliação do crédito de quem pede o empréstimo e dar informações a quem quer emprestar, explica o advogado Paulo Ceppas Figueiredo, sócio da área de mercado financeiro do escritório BMA.
Por outro lado, o risco da operação, ou seja, quem fica com o prejuízo caso o devedor não pague, é do investidor, explica Figueiredo. Para mitigá-lo, a regulamentação permite que ele empreste, no máximo, R$ 15 mil por pessoa em cada plataforma que usa.
O Social Bank foi lançado por Rodrigo Borges, sócio do grupo de empresas de pagamentos Hub Prepaid. Tem como investidor Carlos Wizard, que criou e vendeu a rede de idiomas que leva seu sobrenome e é dono das marcas Mundo Verde e Taco Bell no Brasil.
Pelo serviço da fintech (empresa iniciante de tecnologia), foram feitos cerca de 3.000 empréstimos, diz Borges.
Outra startup que usa o modelo para oferecer uma alternativa de investimentos para quem tem perfil mais agressivo é a Mutual.
Leonardo Rebitte, sócio da empresa, diz que o objetivo do negócio é que investidores possam correr os mesmos riscos e ter a mesma oportunidade de retorno dos bancos.
A companhia faz uma avaliação de crédito de quem pede empréstimo e, dependendo do resultado, eles pagam uma taxa de 5,4% a 8,5% ao mês quando recebem o valor.
“Se eu pego empréstimo no meu banco, qual garantia ele tem que eu vou pagar? Nenhuma. Funcionamos da mesma forma, também fazendo uma avaliação de crédito parecida com a deles”, diz o empresário.
A startup fica com uma taxa de 10% do valor emprestado. Segundo Rebitte, foram feitas cerca de 1.000 transações.
Ele diz que, caso um pagamento acumule mais de 90 dias de atraso, a companhia dá ao investidor a opção de executar a dívida e assume os custos com advogados.
Ricardo Rocha, professor de economia do Insper, diz considerar positiva a criação de novas alternativas de crédito e investimento.
Segundo ele, o modelo pode dar agilidade para a concessão de alguns tipos de empréstimo, ajudar a barateá-los na comparação com bancos e criar alternativas de investimento para pessoas dispostas a correr mais riscos.
Como há grandes chances de o investidor não receber o pagamento, é importante que ele use apenas uma pequena parte de seu patrimônio nesse tipo de serviço.
Também é recomendável emprestar para mais de uma pessoa, para neutralizar eventuais perdas.
Como funciona
O que é
Sites e aplicativos avaliam perfis de pessoas que precisam de empréstimos e permitem que investidores deem crédito a elas, ganhando mais do que em investimentos tradicionais
Risco
Se a pessoa para quem o investidor emprestar não pagar, o prejuízo será dele
Cobrança
É feita por métodos tradicionais, como cadastro do nome do devedor em birôs de crédito
Cuidados
Não é recomendável dedicar uma parte grande dos investimentos em aplicações com esse risco. Também é indicado dividir o valor total disponível para emprestar entre várias pessoas
Mecanismos de proteção
Os serviços avaliam o
risco de calote a quem
pede crédito. Alguns têm avalista. Em plataformas em que se empresta a empreendedores, há casos em que só é permitido investir em companhias com garantias para cobrir eventuais calotes
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