Homens falam mais que mulheres em conferências de resultados

Participação feminina avançou para mais de 10% desde 2014, mas tempo de fala está abaixo

Nova York | Bloomberg

As vozes das mulheres quase não estão presentes nem em teleconferências.

As mais importantes discussões conduzidas publicamente pelas corporações americanas —as conferências de resultados trimestrais realizadas por quase todas as empresas de capital aberto—​ são dominadas por homens, que falam com maior frequência e por mais tempo que as mulheres, segundo uma pesquisa realizada a pedido da Bloomberg pela Prattle, uma empresa que fornece estudos automatizados através da análise de comunicações corporativas e do banco central.

Em um estudo de mais de 155 mil teleconferências corporativas realizadas nos últimos 19 anos, a Prattle concluiu que os homens falaram 92% do tempo. Isso ocorre, em parte, porque os executivos e analistas do sexo masculino superam em número as mulheres nesses cargos. Também ocorre porque os homens simplesmente falam mais.

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Homens falam mais do que as mulheres na hora de apresentar resultados nas conferências de empresas - Fotolia/Folhapress

Embora a participação das mulheres nas convenções tenha avançado para mais de 10% pelo menos desde 2014, o tempo de fala delas está abaixo desse índice, mesmo nos resultados de 2018.

"Executivos do sexo masculino dão respostas notavelmente mais prolixas às perguntas dos analistas do que as executivas", disse o CEO da Prattle, Evan Schnidman. "Pode-se supor que os executivos são mais propensos a falar simplesmente para ouvir a si mesmo."

As conclusões não surpreenderam Sharon Zackfia, analista da William Blair. Ela está no setor há 18 anos e disse que pouca coisa mudou.

"Eu acompanho algumas empresas automobilísticas, onde sou a única voz feminina na conferência", disse Zackfia.

Ela afirma que, mesmo que formule uma pergunta em 30 segundos, a resposta de um CEO do sexo masculino dura cinco minutos.

Isso deveria desencadear questões em todo o setor financeiro, disse Collyn Gilbert, analista de bancos e diretora administrativa da Keefe Bruyette & Woods. "Sempre que aparece uma distorção significativa em uma informação estatística, é preciso parar para pensar."

Pesquisas acadêmicas sugerem que ela está certa. Quando as mulheres participam mais das discussões em grupo, a conversa toma outros rumos que as discussões que são dominadas pelos homens, de acordo com Chris Karpowitz, professor associado de ciência política na Universidade Brigham Young.

Outra pesquisa, realizada por Alok Kumar, concluiu que analistas do sexo feminino emitem previsões mais ousadas e mais precisas, e que os participantes do mercado de ações estão cientes das diferenças de habilidades entre homens e mulheres.

A diferença na representação de gênero em certos setores é "desconcertante", disse Schnidman.

"As mulheres representam apenas 7,5% do pessoal em conferências de resultados do setor de energia, mas compõem quase 19% do pessoal em conferências de resultados do setor de varejo."

Mesmo onde as mulheres estão mais presentes, essa presença pode não bastar para colher os benefícios de um grupo diverso. Estudos concluíram que os homens falam mais do que as mulheres em todos os tipos de grupos, inclusive em reuniões do conselho escolar e do Supremo Tribunal.

Um estudo feito por Tonja Jacobi e Dylan Scheweers, dois pesquisadores da Escola de Direito da Northwestern University, nos EUA. 

Eles analisaram transcrições de sustentações orais na Suprema Corte americana ao longo de anos e concluíram que integrantes do sexo masculino interrompem mulheres três vezes mais do que homens. 

O levantamento mostra que, apesar de as ministras falarem menos e usarem menos palavras do que os ministros, são interrompidas durante a fase de sustentação oral de forma significativamente maior. 

Em 2015, quando havia três mulheres entre os magistrados da corte suprema dos EUA, 65% das interrupções foram dirigidas a elas.

Se as mulheres representam 20% de um grupo, elas representam 10% da conversação, segundo Karpowitz, da Brigham Young.

Isso significa que as mulheres só superam o déficit de tempo de conversação se formarem uma grande maioria em um grupo.

E, nas teleconferências, não há muitas analistas do sexo feminino, segundo a analista sênior de bancos dos EUA da Bloomberg Intelligence, Alison Williams.

De acordo com dados da Bloomberg, dos 32 analistas que cobrem o Bank of America, 3 são mulheres; dos 45 que cobrem a Apple, também apenas 3 são mulheres. E dos 24 analistas que cobrem a Exxon Mobil? Nenhum é mulher.

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