Lançado em 2000, projeto viário de integração sul-americana segue a passos lentos

Abertura e recapeamento de vias são principais ações para conectar região

Trecho de estrada sendo asfaltada
Trecho em obras na BR-163, no Pará, que liga estados da região Centro-Oeste a portos no norte do país - Divulgação
Vanessa Fajardo
São Paulo

Há quase duas décadas, o projeto batizado de Iirsa (Iniciativa de Integração da Infraestrutura Sul-Americana) tenta melhorar a ligação entre os países da região. O plano ambicioso reúne projetos de integração por rodovias, ferrovias e transporte fluvial. Apesar da crise e de muitos atrasos, segue em frente.

A abertura e o recapeamento de estradas são as maiores ações. Uma dessas iniciativas é a pavimentação da rodovia BR-163, no Pará. É a principal ligação entre o Centro-Oeste, produtor de grãos, e os portos da região Norte.

De acordo com o Ministério dos Transportes, dos 710 km da estrada, localizados desde a divisa com Mato Grosso até a entrada para o Porto de Miritituba (PA), 637 km já foram concluídos. Segundo o governo federal, o investimento foi de R$ 1,98 bilhão. 

Outra obra em andamento na região é a ponte sobre o Rio Madeira, que vai ligar Acre e Rondônia. Foi anunciada em 2010 como parte do PAC 2 (Programa de Aceleração de Crescimento).

A construção de 1.084 metros de extensão faz parte da rodovia Interoceânica, que liga o Brasil ao Peru. Hoje, os veículos fazem a travessia de balsa.

 

O Ministério dos Transportes diz que 66% da ponte está pronta, mas o restante só será concluído em 2019. Já foram investidos R$ 121 milhões na construção, de um total estimado em R$ 170 milhões.

Há problemas no eixo de ligação Brasil-Peru, que tem 2.600 km de extensão. A BR-317, que passa por Amazonas e Acre, concluída em 2010, apresenta desgaste precoce. O recapeamento vai levar cinco anos para ser concluído, segundo o ministério.

As mudanças de governo e a fragilidade financeira dificultam a continuidade e a manutenção dos projetos de integração no continente, diz Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria, especializada em infraestrutura.

“Conceitualmente, esses planos de integração não têm nada de errado, mas temos dificuldade em executar obras públicas, os recursos são escassos, a menos que se transfira para o setor privado”, diz o especialista.

Questionado sobre o cronograma das obras, o Ministério dos Transportes diz, em nota, que “diante do cenário restritivo, o governo federal tem priorizado obras que terminem até o final deste ano”.

O projeto Iirsa teve início em 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e fez parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas gestões de Luis Inácio Lula da Siva e Dilma Rousseff (PT).

Fernanda Resende, coordenadora de desenvolvimento e transporte da CNT (Confederação Nacional do Transporte), afirma que a agenda original listava 31 projetos com foco na integração física do território.

Fernanda conta que, a partir de 2011, a Iirsa foi incorporada ao Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento, da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). Na época, foram anunciadas 88 obras com investimento total de US$ 16 bilhões (R$ 64,9 bilhões).

Além da região Norte, há obras ainda não concluídas no sul do país.

A ponte sobre o rio Jaguarão (RS), que deve ligar o Brasil ao Uruguai, aguarda um novo processo de licitação. O Ministério dos Transportes diz que o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) concluirá esse processo até o fim do ano.

O trajeto completo —da ponte até a ligação com a BR-116— terá 9,4 km de extensão.

Segundo o DNIT, o objetivo da obra é desafogar o trânsito na antiga ponte Barão de Mauá, permitindo o maior controle do comércio entre Brasil e Uruguai e o combate a atividades ilícitas. O valor para construção está estimado em R$ 150 milhões.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.