Não vamos criar um novo banco 100% digital, diz presidente do Itaú

Para Candido Bracher, empresa precisa estar em permanente transformação

Ana Paula Ragazzi
São Paulo

Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco, afirmou nesta quarta-feira (12) que o banco não criará um novo banco 100% digital. “Não vamos criar um banco digital. Não vai haver um banco antigo e um banco novo porque entendemos que precisamos estar permanentemente em transformação no mesmo banco”, afirmou o executivo.

“Interromper o que se fez até hoje e criar um novo banco quer dizer que não temos capacidade de nos transformar. Mais para frente frente, esse novo de hoje vai estar ultrapassado. E nós vamos interromper de novo?”, questionou Bracher. Para ele, o que diferencia o banco das inovadoras fintechs é o legado e vários perfis de clientes.

“A preferência dos nossos clientes vai determinar o tamanho do banco. E o Itaú tem um desafio cultural de se colocar no lugar dos clientes e melhorar a qualidade dos serviços.”, afirmou Bracher, em apresentação a investidores e analistas em reunião da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) em São Paulo.

CEO do Itaú Unibanco, Candido Bracher, no segundo dia do Fórum Econômico Mundial, realizado no Hotel Hyatt
Presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, no segundo dia do Fórum Econômico Mundial, realizado no Hotel Hyatt - Folhapress

Para o presidente do Itaú, o contexto atual é de revoluções que são transmitidas numa velocidade muito alta. “Hoje em dia, a revolução digital contamina mais rapidamente os países. Além disso, a quantidade de pessoas atingida pelas revoluções aumentou tremendamente. Elas impactam mais gente em tempo mais curto e ocorrem com mais frequência”, disse.

Esse contexto, afirmou Bracher, muda o ambiente competitivo, regulatório, a tecnologia disponível e os hábitos dos consumidores. Ele detalhou esses pontos citando o surgimento das fintechs, que competem pelos clientes dos bancos, levando eficiência a segmentos e produtos aos quais os bancos não oferecem hoje um bom atendimento.Por conta disso, essas empresas chamam a atenção sobre a qualidade de serviços dos bancos, o que desperta o apetite dos reguladores por mais regulação.

“Vimos isso já nas medidas relacionadas a cartão de crédito e no mercado de adquirência. Existe do ponto de vista do regulador o desejo de procurar garantir competição maior em todos os ambientes financeiros”, disse Bracher.
 
O Itaú, ele afimou, enxergar as novas tecnologias como oportunidades de melhorar a eficiência e qualidade de serviços. E também está focando no bem-estar de seus colaboradores. “Quem vem ao banco hoje quer trabalhar em empresa que tenha propósito, que gera valor para sociedade e que tenha impactos positivos para ela. Temos de nos preocupar com experiência do colaborador”, disse.

Com relação aos hábitos dos consumidores, ele destacou o crescimento das transações feitas eletronicamente e a expectativa de soluções rápidas, portanto, disse, que a experiência do usuário precisa ser melhorada constantemente.

“As mudanças ocorrem tão depressa que nossa evolução não pode mais se dar por degraus. Esses patamares desapareceram . Precisamos estar permanentemente em mudança. E isso é mudança cultural.  Queremos um banco que seja capaz de  evoluir permanentemente.  Talvez o ritmo seja novidade, mas o Itaú vem evoluindo muito há muito tempo. Sempre estivemos na vanguarda da utilização de novas tecnologias e ferramentas para criar valor para investidores e qualidade para clientes. Mas o ritmo precisa ser intensificado”, afirmou.

O Itaú, disse Bracher, se estruturou para atuar nesse contexto em seis frentes prioritárias, divididas em dois grupos. Um grupo é o de melhora contínua, o reúne o que Bracher classifica como o que o banco já faz bem, mas precisa estar sempre sendo melhorado: busca de rentabilidade, eficiência, gestão de risco e internacionalização.

O outro grupo é composto pelas frentes transformacionais, em que não se trata de melhorar, mas de mudar o banco. Elas englobam gestão de pessoas, transformação digital e satisfação de clientes.

Bracher também destacou em sua apresentação os resultados obtidos pelo banco desde 2012, quando optou por focar na criação de valor aos acionistas. A atividade principal do banco, ele afirmou, é ser capaz de administrar riscos, incertezas e  adaptar-se a mudanças.

Ele esclareceu que não necessariamente a atividade que dá o maior lucro é a que cria mais valor. “Se a atividade dá lucro, mas ela é vista como arriscada pelo regulador, vai ter custo alto também. Já a atividade sem risco, que dá lucro menor, gera mais valor, disse.

Em 2011, ele contextualizou, havia a crise de inadimplência, que estava elevada, e sinas claros de desaceleração econômica, embora o desemprego ainda estivesse baixo. O banco então optou por criar valor, com baixa volatilidade –para isso, tirou do foco alguns segmentos mais arriscados de crédito e da tesouraria. “Resolvemos nos focar em serviços, já que têm constância maior e usam pouco capital . E também procuramos ter controle de custos bastante rigoroso. O nosso tripé também incluiu o apetite de risco restritivo”, afirmou.

Na prática, o crédito consignado e imobiliário aumentou, em detrimento do destinado ao atacado (empresas). Nos últimos seis anos, a carteira de crédito cresceu 32% e o custo de crédito caiu 7,5%.  Por conta do foco em serviços, no mesmo intervalo, o índice de cobertura operacional, que se refere a quanto da despesa é paga com as receitas de serviços, ele passou de 52% para 72%. “Cobrimos 72% das nossas despesas apenas com serviços, sem precisar de créditos”, disse.

Com relação ao índice de eficiência, que é total de despesas dividido pelo total de receitas, em uma comparação com os 15 maiores bancos do Ocidente, Bracher afirmou que ele ficou em 46,5%, o melhor resultado entre todos.  O índice de eficiência do banco ajustado ao risco é de 60,9%, mais baixo desde 2009, e o quarto melhor índice entre os bancos pesquisados.

Por conta dessas iniciativas, desde 2012 a criação de valor ao acionista pelo Itaú praticamente triplicou: cresceu de R$ 1,7 bilhão para R$ 5 bilhões. O retorno sobre capital do banco no primeiro semestre foi de 22% - serviços e seguridade respondeu por 40,5%; crédito, 14,5%, trading, 34% e  excesso de capital, 8%. 

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