Descrição de chapéu MPME

País precisa regulamentar vídeo sob demanda, diz associação de audiovisual

Presidente-executivo da Brasil Audiovisual Independente diz que empreendedor nessa área enfrenta obstáculos institucionais

Luiz Cintra
São Paulo

Aprovada em 2011, a chamada Lei da TV Paga impulsionou o mercado audiovisual nacional. Mas, apesar do bom momento, o empreendedor nessa área enfrenta obstáculos institucionais e de mercado, afirma Mauro Garcia, 60, presidente-executivo da Bravi (Brasil Audiovisual Independente), associação que representa 657 produtoras brasileiras. 

Para manter o clima favorável, o próximo passo será regulamentar novas plataformas de vídeo, diz ele.

Mauro Garcia, presidente-executivo da Bravi
Mauro Garcia, presidente-executivo da Bravi - Divulgação

 

O ambiente de negócios do audiovisual no país é favorável aos empreendedores? A lei 12.485 [que regula a produção audiovisual] foi muito bem pensada, tanto no fomento, como na distribuição, no incentivo à criação de canais brasileiros e na ampliação das redes de salas de cinema. E os números mais recentes da Ancine confirmam que a participação da produção brasileira superou em muito o estabelecido pelas cotas, que foram de fato indutoras.

Mas desde 2006, com os pacotes populares, as classes C e D de fato incluíram a TV por assinatura na cesta de consumo, iniciando um aumento no mercado, que tem variado pouco mesmo na crise. 

Quais os desafios atuais?  Agora o mercado se expande com outras formas de distribuição, com o vídeo sob demanda, além das cotas, uma distribuição mais abrangente que permite aos jovens empreendedores entrarem no mercado. Há oportunidades como o advento dos youtubers, um tipo de conteúdo não sofisticado nem roteirizado, que possui suas especificidades e se situa em um espaço fecundo, como os tutoriais, com um leque de produções audiovisuais.

As pequenas produtoras têm melhorado a gestão dos seus negócios?  Nos eventos de audiovisual, também com o apoio do Sebrae e Apex, a Bravi tem levado não somente o conhecimento sobre narrativas, mas também painéis sobre questões financeiras, tributárias, jurídicas e afins. Aliás, existem empresas pequenas e médias que estão mais bem estruturadas que algumas antigas e grandes nessas questões. Exemplo disso são produtoras mais novas de animação, algumas muito bem estruturadas. 

E existem jovens empreendedores bem qualificados, preocupados com essas questões. Agora teremos a qualificação de exportadoras, com linhas específicas, mas isso exigirá algo de melhor qualidade para competir no mercado internacional. Nesses casos, costumam ser empresas que nascem com essa perspectiva.

Como manter o atual momento favorável?  Primeiro, vale lembrar que a contribuição financeira que banca o fomento tem origem na taxação do próprio setor de audiovisual, que cresce, e não depende do orçamento do Ministério da Cultura, como ocorre com os museus.

Será necessário criar uma regulamentação para as novas plataformas de vídeos por demanda. Se isso não trouxer indutores semelhantes aos da TV paga, trocaremos todo o avanço por um cenário incerto. 
Devemos olhar, na perspectiva histórica, o que deu certo na lei da TV por assinatura e permitiu a superação das cotas. E pensar em algo como a Alemanha, que colocou a dublagem em várias línguas, pensou na reserva nacional, mas também criou instrumentos de atração para se filmar no país, o que ainda não temos. 

O Brasil precisa aderir a isso estrategicamente, usando [para locação] o Amazonas, a Bahia, o Rio... Precisamos olhar para as novas formas, pensando sistematicamente em todos os segmentos. O bom no audiovisual é que a demanda é irreversível. Essa é sua maior vantagem.

 

MAURO GARCIA 
Graduado em letras e psicologia, o carioca de 60 anos passou pelo SBT, foi presidente da TV Educativa, do Rio, e diretor da TV Cultura. Em 2004, pilotou a criação do canal pago infantil TV Rá-Tim-Bum. Desde 2012, é presidente-executivo da Brasil Audiovisual Independente (Bravi)

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