A forte desvalorização de quase 20% sofrida pelo peso argentino na última semana é resultado mais de um pânico generalizado dos investidores e de um temor com um calote do país vizinho do que por um ataque especulativo contra a Argentina, dizem analistas.
A venda de ativos argentinos começou depois que, na quarta-feira (29), o presidente Mauricio Macri pediu ao FMI que adiantasse US$ 3 bilhões (R$ 12,5 bilhões) do financiamento de US$ 50 bilhões (R$ 208,2 bilhões) acertado em junho.
Já foram liberados US$ 15 bilhões (R$ 62,5 bilhões).
O dinheiro será usado para ajudar o governo a cumprir o programa financeiro de 2019.
A intenção de Macri era assegurar a investidores que honraria compromissos, mas o efeito obtido foi o oposto.
A velocidade da desvalorização surpreende, mas é difícil afirmar que o país está sendo vítima de um ataque especulativo, diz Alex Schober, analista para Argentina do Frontier Strategy Group.
"Há uma chance de ser o caso, porque 20% de queda nesse período é algo quase sem precedentes para a Argentina, nos últimos anos", diz.
Ele, porém, não descarta que seja apenas pânico dos investidores. "Quem não está vendendo se sente tolo."
Os investidores olham a inflação elevada e a necessidade de adotar medidas de austeridade fiscal, mas não têm certeza de que os legisladores argentinos estão comprometidos em resolver a situação --haverá eleições em 2019.
Edward Glossop, economista de mercados emergentes da Capital Economics, diz que uma parte das fortes vendas pode ser atribuída a um ataque especulativo. "Uma moeda não cai 17% em dois dias."
Em relatório, o banco suíço Julius Baer diz haver pouca esperança de que a Argentina conseguirá escapar da recessão em 2018.
Nesta terça à noite, o ministro da Fazenda argentino, Nicolás Dujovne, se reuniu com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. Na saída do encontro, ele comentou o cenário atual do país.
"Muitos dos problemas que os mercados estão vendo é porque estão olhando pelo espelho retrovisor, porque a Argentina já está obtendo progressos em matéria fiscal e no sentido de se adaptar ao novo contexto de financiamento externo", afirmou.
Ele pediu paciência. "Já estamos vendo melhoras nos indicadores de solvência externa."
Nesta quarta-feira (5), o FMI vai decidir sobre o acordo.
Lagarde disse que os diálogos avançaram. "Nossas discussões continuarão em nível técnico e, como já dito, nosso objetivo comum é chegar a uma conclusão rápida para apresentar uma proposta ao conselho-executivo do FMI."
O vice-presidente do banco central argentino, Gustavo Cañonero, também participou.
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