Sindicato dos Metalúrgicos afasta aliado de Paulinho da Força

'Mandam gente embora sem critérios. Me suspenderam para me intimidar', diz Medeiros

Catia Seabra
São Paulo

Maior da categoria em toda a América Latina, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes é palco de uma disputa de poder que veio à tona, na manhã desta segunda-feira (17), durante reunião de sua diretoria.

Autor de uma representação ao Ministério Público contra o sindicato, o ex-deputado Luiz Antônio Medeiros foi suspenso por 20 dias da diretoria da entidade sob o argumento de ter acusado seus pares de conivência com irregularidades na tentativa de reassumir o comando da instituição.

Medeiros é um dos 61 diretores do sindicato, que recebem salários que variam de R$ 10 mil a R$ 12 mil, além de direito a três assessores e um carro.

Luiz Antonio Medeiros (de camisa branca) em durante protestos em 2015 contra mudança nas regras do seguro-desemprego - Apu Gomes/Folhapress

Na representação enviada ao MP no dia 27 de agosto, Medeiros listou esses benefícios, afirmando ocupar uma função meramente ilustrativa na entidade.

Ele acusou ainda o sindicato de não ter repassado a trabalhadores indenizações recebidas em causas judiciais, levando esses casos à imprensa.

Na reunião desta segunda, ele foi questionado pelos demais diretores por ter desmoralizado a entidade sem ter levado suas acusações à pauta.

Diretor do sindicato, Rodrigo Carlos Morais afirmou que Medeiros não poderia ser punido por ter apontado erros da entidade, mas que não poderia acusar a diretoria de conivência. Por 51 votos a favor, dois votos contra e oito ausências, Medeiros foi temporariamente afastado.

Uma comissão foi montada para investigar não só as irregularidades apontadas por Medeiros, mas também a atuação de Elza de Fátima Costa Lopes.

Ex-mulher do deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, Elza é diretora de finanças do sindicato desde 2004.

Em sua representação, Medeiros afirma que há quatro anos não obtém informações sobre as finanças do sindicato.

Aliada de Medeiros, a ex-mulher de Paulinho controla o caixa da entidade. Os apoiadores do atual presidente, Miguel Torres, querem tirá-la do cargo.

Indicado por Paulinho para a função em 2008, após a morte do então presidente, Eleno Bezerra, Torres começou a desmontar a estrutura herdada do padrinho político a partir de 2012.

Desde 2017, com a redução de recursos destinados aos sindicatos, demitiu 72 funcionários e desligou 40 colaboradores. Entre os demitidos, estão quinze advogados que trabalhavam para o sindicato desde a gestão de Paulinho.

Segundo o secretário-geral do sindicato, Jorge Carlos de Morais (Arakém), as recentes alterações promovidas pela reforma trabalhista no financiamento dos sindicatos exigem cortes.

“No entanto, essas mudanças, naturalmente, têm causado desconforto a uma parcela minoritária da diretoria que não se conforma com a necessidade de se implementar um necessário novo modelo de sindicalismo”, disse Arakém.

Em um recado aos antecessores de Torres, Arakém lembrou ainda que as ações apontadas pelo ex-deputado como irregulares correm há mais de 20 anos, originárias das gestões de Medeiros e de Paulinho. Mas obtiveram vitória na Justiça sob a atual direção.

Medeiros disse, por sua vez, ter sido afastado em uma tentativa de intimidação.

Na manhã desta segunda, a diretoria pagou dois beneficiários de ações trabalhistas cujas indenizações não tinham sido repassadas.

“Eles fizeram empréstimos e deixaram de pagar fornecedores para pagar os processos. Continuam a mandar gente embora sem critérios. Me suspenderam, sem direito de defesa, para me intimidar”, disse Medeiros.

A troca de acusações ocorre em meio a uma dissonância política.

Torres se manifestou contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e chegou a afirmar que a “Ponte para o Futuro”, conjunto de ações do presidente Michel Temer, é mais danosa do que as pedaladas fiscais da petista.

Enquanto Paulinho sofre desgaste por figurar entre os apoiadores de Temer, Torres recebeu há duas semanas uma carta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mensagem é apontada como o estopim da crise.

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