'Nós vamos salvar a indústria apesar dos industriais', diz Paulo Guedes

Guro de Bolsonaro vai assumir superministério da Economia, que une Fazenda, Planejamento e Mdic

Brasília e Rio de Janeiro

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), decidiu criar o superministério da Economia. Ele ainda vai unir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.

Não houve anúncio sobre o destino dos ministérios ligados às áreas de energia, transporte e saneamento, que também podem ser agregados para formar o superministério da Infraestrutura.

As definições em relação à infraestrutura envolvem negociações mais longas porque a equipe de Bolsonaro quer indicar militares para alguns cargos estratégicos.

A nova pasta da Economia reunirá os atuais ministérios da Fazenda, do Planejamento e do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e será comandada pelo economista Paulo Guedes.

Após pressão do setor industrial, Bolsonaro chegou a descartar a inclusão do Mdic no superministério. Mas voltou atrás, o que foi comemorado por Guedes —que ficou irritado ao ser questionado sobre a mudança de plano.

“Está havendo uma desindustrialização há mais de 30 anos, nós vamos salvar a indústria brasileira apesar dos industriais brasileiros”, disse.

A proposta de junção consta do plano de governo apresentado por Bolsonaro à Justiça Eleitoral.

O anúncio de sua criação foi feito nesta terça-feira (30) por Guedes e Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, após reunião para tratar da transição de governo.

O encontro foi realizado na casa do empresário Paulo Marinho, no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro.

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Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil, após reunião com Jair Bolsonaro (PSL) no Rio de Janeiro - Sergio Moraes/Reuters

DEFESA DA INCORPORAÇÃO DO MDIC

Guedes foi enfático na defesa da incorporação do Mdic à Fazenda. Afirmou haver um objetivo na medida: reduzir a carga tributária de forma sincronizada com uma política de abertura comercial.

O futuro ministro afirmou que a abertura no governo Bolsonaro será gradual para não prejudicar a indústria, que, em sua avaliação, está usando o Mdic como trincheira para se defender de mudanças necessárias.

“O Ministério da Indústria e Comércio se transformou numa trincheira da Primeira Guerra Mundial. Eles [industriais] estão lá com arame farpado, lama, buraco, defendendo às vezes protecionismo, subsídio, desonerações setoriais, que prejudicam a indústria brasileira —em vez de lutarem pela redução de impostos, simplificação e uma integração competitiva na economia internacional.”

Essa guerra setorial, em sua avaliação, favorece apenas setores mais organizados e prejudica o país: “Quem tem lobby consegue desoneração e quem não tem vai para o Refis [programa de renegociação de dívidas tributárias]”.

A redução da carga tributária e a simplificação dos impostos teriam como objetivo interromper esse círculo vicioso e permitir o ganho de competitividade por meio da abertura comercial, de acordo com Guedes.

“Não vamos fazer uma abertura abrupta para prejudicar a indústria brasileira. Ao contrário, vamos retomar o seu crescimento com juros baixos, reformas fiscais e desburocratização”, disse.

“A razão de o Ministério da Indústria e Comércio estar próximo da economia é justamente para isso. Não adianta a turma da Receita ir baixando os impostos devagar, e a turma da indústria abrir muito rápido. Isso tudo tem de ser sincronizado, com uma orientação única”, afirmou Guedes.

Em relação à superpasta, o futuro ministro disse que ainda não começou a tratar de nomes para chefiar as estatais.

Guedes afirmou que não convidou quadros que estão no governo Michel Temer para ficar na nova gestão.

Mansueto de Almeida, secretário do Tesouro, e Marcos Mendes, secretário especial da Fazenda, são cotados para permanecer.

Sobre a subvenção do diesel, Guedes afirmou que uma opção foi elaborada, mas ainda não deu tempo de levá-la ao presidente eleito.

AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE

Os futuros ministros de Bolsonaro, Onyx e Guedes, disseram ainda que os planos para a Agricultura e o Meio Ambiente foram mantidos.

“Agricultura e Meio Ambiente estarão no mesmo ministério, como desde o primeiro momento”, afirmou Onyx. Bolsonaro, porém, chegara a admitir na semana passada que essa decisão poderia ser revista.

O futuro ministro negou que o presidente eleito tenha mudado de planos: “Ninguém recuou nada”.

Coordenador da transição, Onyx disse que restarão entre 15 e 16 ministérios —hoje são 29. Demais nomes não foram divulgados.

Talita Fernandes, Mariana Carneiro e Nicola Pamplona
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