Banco Mundial corta previsão do PIB brasileiro para 1,2% em 2018

Déficit fiscal, ausência de reforma da Previdência e incerteza política são entraves ao país, diz relatório

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São Paulo

A desaceleração da economia brasileira, que contribui com mais de um terço do PIB (Produto Interno Bruto) da América Latina e do Caribe, é um dos entraves para o crescimento da região em 2018, aponta o Banco Mundial em relatório divulgado nesta sexta-feira (4). 

A instituição reduziu suas expectativas para o PIB do Brasil de 2,4% neste ano para 1,2% e de 2,5% em 2019 para 2,2%. No acumulado em 2018, a economia brasileira avançou 1,1%, segundo o IBGE.

Em relatório, o Banco Mundial ressalta que o Banco Central brasileiro cortou sua estimativa de crescimento em 2018 para 1,6%, ante 2,6%, após um movimento de caminhoneiros paralisar grandes setores da economia do país.

"A persistência de grandes e aparentemente intratáveis déficits fiscais, a falta de uma reforma previdenciária significativa e a crescente incerteza política sobre as eleições de outubro, em conjunto com a recente apreensão no mercado internacional, colocaram em questão mesmo esse crescimento modesto", diz o documento. 

Em setembro, a autoridade monetária brasileira promoveu novo corte na projeção do PIB no ano, para 1,4%.

"O Banco está sempre disposto a trabalhar com o governo que for eleito", disse Carlos Vegh, Economista-Chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. Ele ressalta que independentemente de quem assuma, precisará fazer um ajuste fiscal importante e amplo.

"O governo brasileiro gasta 12% do PIB em pensões, enquanto países comparáveis, como Chile e Peru, gastam 2%", afirmou.

Além do ritmo econômico fraco no Brasil, a piora generalizada no cenário global, a crise macroeconômica na Argentina e a contínua deterioração da situação na Venezuela fecham o quadro que levou à redução da expectativa de crescimento do bloco América Latina-Caribe para 0,6% em 2018 e 1,6% em 2019 —em abril, as previsões eram de 1,8% e 2,3%, respectivamente.

O desempenho da região é pressionado pela América do Sul, onde é esperada uma contração de 0,1% neste ano e um crescimento de 1,2% em 2019 —sem a Venezuela, a instituição diz que poderia haver avanço de 1,2% e 1,9%.

No relatório anterior, o Banco Mundial projetava crescimento de 1,5% e 2,1% para a América do Sul.

O documento observa que, após uma desaceleração de seis anos, a América Latina e o Caribe haviam crescido 1,1% em 2017 e esperava-se, até abril deste ano, um avanço a taxas ainda mais elevadas nos anos subsequentes. "Infelizmente, nos últimos seis meses, a região encontrou alguns solavancos na estrada", disse o Banco Mundial no relatório.

A previsão do PIB argentino —país que precisou recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional) em meio a uma crise fiscal e cambial—, por exemplo, foi revista de um crescimento de 2,7% para uma retração de 2,5% neste ano e de uma alta de 2,8% em 2019 para queda de 1,6%.

Sem citar especificamente o Brasil, Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, afirmou que para se entrar novamente em ciclos virtuosos, "é preciso manter a casa em ordem do ponto de vista macroeconômico".

"Isso vai além de questões políticas, é quase uma questão aritmética. Países não podem consistentemente gastar mais do que ganham e precisam converter gastos em gastos mais eficientes", disse. 

Em contraste às expectativas para a América do Sul, a porção central do continente e o Caribe devem seguir se expandindo em ritmo saudável, de 2,8 e 3,7%, respectivamente, em 2018. Para o ano seguinte, as estimativas são de avanços de 3,2% e 3,5%.

Segundo o Banco Mundial, o México deverá crescer 2,3% em 2018 (contra 2% no ano anterior) e em 2019, num ritmo estável, ainda que abaixo do potencial.

Apesar do crescimento projetado de 1,6% para a região em 2019, o documento ressalta que a situação global ainda parece preocupante, com considerável incerteza política no Brasil, um provável aprofundamento da recessão na Argentina, dúvidas sobre a sustentabilidade de algumas reformas
no México e guerras comerciais "em erupção com frequência alarmante".

Fatores externos que continuam relativamente favoráveis à América Latina e ao Caribe incluem o crescimento robusto nos Estados Unidos, o ainda forte crescimento da China, apesar da desaceleração, e a recuperação no preço das commodities. 

"A forma como os países manegam suas economias se tornou muito mais sólida ao longo dos anos e é algo que os mercados reconhecem e estão dando tempo para as economias latino americanas se ajustarem", disse Familiar.

Segundo o relatório, "a nuvem escura no horizonte é claramente a normalização da política monetária nos Estados Unidos que, aumentando as taxas de juros, contribuiu para uma drástica reversão do fluxo de entrada de capital na região, um fortalecimento do dólar e uma queda na maioria das principais moedas dos mercados emergentes."

De acordo com o Banco Mundial, a entrada de capital líquido na região, medida pelo acumulado em 12 meses, atingiu um pico de US$ 49,6 bilhões (R$ 193,4 bilhões) em janeiro deste ano, mas despencou para US$ 18,8 bilhões (R$ 73,3 bilhões) em agosto.

​ENDIVIDAMENTO

Para agravar os problemas, diz o documento, a fraca situação fiscal da área quase não melhorou no ano passado, com 29 dos 32 países projetados para mostrar um saldo orçamentário global negativo em 2018.

Como resultado, a dívida pública externa ultrapassou 60% do PIB para a região como um todo, com seis países com índices de endividamento acima de 80%, completa o documento.

Os altos níveis de endividamento enfraquecem as notas de crédito dos países perante agências de classificação de risco e tornam o acesso e o custo do crédito internacional mais desafiadores. 

"O aumento da dívida também reduz o espaço fiscal e restringe severamente a possibilidade de usar a política fiscal como uma ferramenta contracíclica justamente num momento em que muitos bancos centrais da região sentem a necessidade de elevar as taxas para defender a moeda nacional ou, pelo menos, garantir uma 'depreciação ordenada'", aponta o relatório.

Para o Banco Mundial, a recuperação frágil da região destaca a necessidade de aumentar esforços em construir resiliência e gerenciar riscos.

“Agora que a região está crescendo novamente, é hora de se preparar melhor contra riscos e construir resiliência a choques, para que os países não percam em um dia o que levaram anos para conquistar”, disse Familiar.

“Não temos como escapar do fato de que nós vivemos em um mundo com muitos riscos, mas a boa notícia é que agora nós entendemos melhor esses riscos e temos ferramentas para controlá-los com mais sucesso do que no passado", completa.

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