Após Bolsonaro criticar China, Vale diz que disputa não é boa

Na semana passada, o candidato do PSL à Presidência criticou a forte presença de chineses na geração de energia no país

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, disse nesta terça (16) que uma disputa entre Brasil e China “não é bom para ninguém” e que espera que o presidente eleito perceba a importância do relacionamento entre os dois países. 

Principal cliente da Vale, a China tem sido alvo de questionamentos do candidato líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL).

“A expectativa é que o eleito receba informações a respeito do estado das relações e da complementaridade das relações entre a China e o Brasil”, disse Schvartsman, em entrevista após evento no Rio, ao ser perguntado sobre a posição de Bolsonaro.

Em sua última declaração sobre o tema, na semana passada, Bolsonaro criticou a forte presença de empresas chinesas na geração de energia no Brasil. “A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”, afirmou o candidato em entrevista à Band TV.

Presidente da Vale, Fábio Schvartsman
Presidente da Vale, Fábio Schvartsman - Paulo Whitaker/Reuters

“Não é bom para ninguém esse tipo de disputa. E, se não é bom para ninguém, não é bom para a Vale”, comentou Schvartsman nesta terça. “A Vale vai continuar tendo relacionamento coma China, temos uma dependência mútua.”

Na segunda (15), a Vale anunciou recorde em sua produção de minério de ferro, acompanhando o crescimento da semana pelo mercado chinês.

No terceiro trimestre, a mineradora produziu 104,9 milhões de toneladas, 10,3% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

Schvartsman disse que a Vale não conversou com os candidatos à presidência da República.

“Quando for eleito, vamos conversar”, afirmou. Embora diga que tem expectativas positivas independente de quem for eleito, completou que estava na hora de uma mudança.

"Vamos nos colocar à disposição, o conhecimento e a informação que a gente tem dessa relação, que a gente tem de Brasil-China, que é muito importante", afirmou o executivo.

Ainda sobre a produção de minério de ferro, Schvartsman descreveu o atual cenário como excepcional.

Para ele, a empresa está em uma posição mais favorável do que suas grandes concorrentes da Austrália. Segundo o executivo, as minas dos concorrentes são mais antigas e já começam a apresentar declínio.

Enquanto a produção e as vendas de minério de ferro da Vale foram recordes no terceiro trimestre, a concorrente Rio Tinto registrou recuo de 5% nos embarques no período.

A empresa foi prejudicada por manutenção planejada e pausas por questões de segurança.

O presidente da Vale destacou também que a demanda da China por minérios de melhor qualidade e menos poluentes, por causa da luta do gigante asiático contra poluição, tem beneficiado a companhia.

Isso tem impacto na produção de sua mina S11D, inaugurada no fim de 2016, e abocanhou a maior parte do mercado, com prêmios maiores.

Segundo o executivo, o prêmio do minério com mais qualidade sobre o de menor qualidade chega até US$ 56 (R$ 208) por tonelada.

Nesse cenário, Schvartsman destacou que a Vale está bem posicionada para atender seu principal cliente, a China.

Sobre os preços do minério de ferro, o presidente da Vale disse acreditar que deverão se manter no atual patamar para o próximo ano.

O executivo informou ainda que, no início de 2020, a mineradora Samarco, em Mariana (MG), poderá retomar sua produção, com um terço da capacidade.

A Vale é dona de metade da joint venture com a australiana BHP Billiton. Elas controlam a Samarco.

A Samarco interrompeu as operações no fim de 2015, após uma de suas barragens romper.

No acidente, 19 pessoas morreram. O desastre deixou centenas de desabrigados e poluiu o rio Doce até o Espírito Santo.

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