Às vésperas da eleição, Brasil descola dos mercados globais

Dólar cai ao menor nível em 5 meses, e Bolsa sobe em dia negativo no exterior

Tássia Kastner
São Paulo

O mercado tirou do horizonte qualquer tipo de cautela que poderia pautar o mercado às vésperas da definição do novo presidente. Nem o dia negativo nos principais mercados de risco nesta sexta-feira (26) tirou o ânimo do investidor, que dá por certa a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT) neste domingo (28).

O dólar recuou mais de 1%, rumo ao menor patamar de fechamento desde maio. A moeda americana cedeu 1,32%, para R$ 3,6550 —menor nível desde maio. 

Considerada uma cesta 24 divisas emergentes, o real foi a que mais ganhou força ante o dólar nesta sexta —13 delas se desvalorizaram.

Já a Bolsa brasileira avançou 1,95%, completamente descolada do cenário externo, que foi de perdas expressivas. 

O Ibovespa, principal índice acionário do país, fechou a 85.719 pontos sustentado pelo desempenho de empresas estatais. As ações da Petrobras subiram quase 5%, os do Banco do Brasil e da Eletrobras avançaram cerca de 6%, e os da Cemig, perto de 7%.

Nem mesmo o resultado da pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (25), azedou o humor do mercado. 

Segundo o instituto de pesquisa, a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad se reduziu em seis pontos, e agora o deputado tem 56% da preferência dos eleitores, ante 44% para o petista, considerando apenas os votos válidos.

“Nesta sexta, saíram outras duas pesquisas, da XP e Paraná Pesquisas, mostrando que o Datafolha pode ser contraposto”, disse Roberto Indech, da Rico Corretora (que pertence à XP).

Além disso, analistas do mercado reforçaram que, apesar da diminuição da vantagem, uma virada de Haddad é pouco provável em um prazo tão curto.

“Apesar de a queda de Bolsonaro se repetir em todas as categorias de sexo, idade, escolaridade, renda, religião e região, a probabilidade de uma virada a três dias da eleição é pequena”, escreveu o banco Fator em relatório.

“Viradas no segundo turno com essa distância nunca aconteceram”, disse a Guide.

Bolsonaro foi abraçado pelo mercado financeiro como o candidato viável e ao mesmo tempo disposto a pautar uma agenda de reformas consideradas necessárias para o reequilíbrio das contas públicas.

O capitão reformado do Exército conseguiu arrebanhar o apoio adotando como guru o economista de viés liberal Paulo Guedes, que defende privatizações e a reforma da Previdência.

“Não vejo mercado radicalmente pró-Bolsonaro, vejo mais como antiesquerda”, afirmou Indech.

Um executivo do setor bancário lembrou que a Bolsa brasileira é muito dependente do cenário político e que a vitória de Bolsonaro abriria um período benigno duradouro para o mercado de capitais localmente.

Para ele, porém, ambos os candidatos fariam acenos ao mercado para minimizar impactos à economia.
O cenário externo deve, no entanto, voltar a atrair preocupações após a definição do cenário eleitoral.

Entre o dia 5, véspera do primeiro turno, e esta sexta, o Ibovespa subiu 4,13%. No mesmo período, o índice S&P 500, um dos principais da Bolsa de Nova York, recuou quase 8%, retrato de como o otimismo eleitoral fez o mercado local ignorar problemas externos.

Nesta sexta, o dia foi mais uma vez negativo no exterior, com perdas conduzidas pelo desempenho decepcionante da Amazon e do Google no terceiro trimestre. 

O mercado financeiro teme ainda que resultados de empresas aquém do esperado reflitam crescimento menor da economia americana.

Nesta sexta, foi divulgado que o PIB americano cresceu a uma taxa anualizada de 3,5% no terceiro trimestre, desaceleração menor que a esperada pelo mercado.

Permanece, porém, o receio que a guerra comercial iniciada pelo presidente americano, Donald Trump, possa ter consequência econômicos no longo prazo, o que mudaria o cenário para ativos de risco.

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