É primordial que próximo governo desconstrua monopólios, diz presidente do Santander Brasil

Sergio Rial afirmou que alternância de poder é importante na gestão pública assim como na privada

Anaïs Fernandes
São Paulo

A desconstrução de monopólios no sistema financeiro, que atrelam folhas de pagamento do governo federal a bancos públicos, por exemplo, é uma das questões primordiais a serem enfrentadas pelo próximo governo, avaliou o presidente do Santander Brasil, Sergio Rial.

"Muitos desses monopólios são atrelados ao setor público. Mas o sistema brasileiro é maduro o suficiente para haver competição. Por que não usar o estado para promover isso?", disse o executivo.

Sergio Rial, presidente do Santander, na pista de skate do Farol Santander
Sergio Rial, presidente do Santander, na pista de skate do Farol Santander - Gabriel Cabral/Folhapress

Além das folhas de pagamento, Rial citou, por exemplo, a gestão do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e depósitos judiciais. 

"É uma agenda mais concreta de maior competitividade pelos produtos e necessidades do setor público, abrindo mais para todos os bancos. Sem criar rupturas que prejudiquem ninguém, mas num processo de transição", afirmou.

Sobre o resultado da eleição presidencial, Rial disse que o Brasil demonstrou um processo democrático fabuloso, "não necessariamente fácil de entender, mas que se provou resiliente e hoje temos um presidente democraticamente eleito", completou.

O executivo afirmou ainda que, assim como em qualquer empresa, a alternância de poder é importante também na gestão pública. "Sem isso, não se permite desafiar o status quo", disse.

Ele elogiou propostas defendidas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) durante sua campanha, como a independência do Banco Central e o redimensionamento do Estado, com a redução no número de ministérios, por exemplo.

"Ainda são declarações esporádicas, vamos ter uma melhor visão quanto todas as peças estiverem acertadas. É importante ver como essas coisas vão conversar em um plano de governo mais claro", afirmou.

Questionado sobre ataques recentes de Bolsonaro a veículos de comunicação, Rial disse de forma genérica que qualquer empresa e país democrático veem o mérito de uma imprensa livre. "Isso não tira o mérito de cada um ter uma visão diferente, não podemos ter o coletivo se sobrepondo ao direito inalienável de cada um pensar da forma que quiser", completou.

Durante entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, na segunda-feira (29), Bolsonaro voltou a atacar a Folha e afirmou que “por si só, esse jornal se acabou”. Anteriormente, já havia dito que a Folha é a maior fake news do Brasil.

Rial comentou que o presidente eleito afirmou acreditar no princípio de uma imprensa livre, "o que não lhe tira o direito de ter opinião pessoal sobre o veículo A ou B, como nós temos nossas preferências", acrescentou.

Questionado no Jornal Nacional se continuaria defendendo a liberdade de imprensa, Bolsonaro respondeu ser totalmente favorável. Contudo, disse que há a questão da propaganda oficial de governo, "que é outra coisa".

As afirmações de Bolsonaro se deram em resposta a uma pergunta do jornalista William Bonner, apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional.

Bonner questionou se Bolsonaro defenderá a liberdade da imprensa, agora como presidente. O entrevistado disse que é “totalmente favorável à liberdade de imprensa”, mas que a questão da propaganda oficial de governo, "é outra coisa".

Bolsonaro disse ainda: “Não quero que [a Folha] acabe. Mas, no que depender de mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federal”. O presidente eleito, depois, completou: “Por si só esse jornal se acabou”.

Em janeiro deste ano, a Folha revelou que Bolsonaro usava verba da Câmara para pagar Walderice dos Santos da Conceição, ex-assessora que vendia açaí e prestava serviços particulares ao deputado federal em Angra dos Reis (RJ), onde ele tem casa de veraneio . Ela figurava desde 2003 como funcionária do gabinete do deputado, recebendo salário de R$ 1,3 mil ao mês, mas vendia açaí em uma barraca vizinha à casa de veraneio de Bolsonaro em Mambucaba (RJ).

Walderice pediu demissão do gabinete de Bolsonaro após as reportagens da Folha.

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