Especialistas em clima e inovação tecnológica vencem Nobel de Economia

William Nordhaus e Paul Romer adotam questões atuais na análise macroeconômica

São Paulo | AFP

Os americanos William Nordhaus e Paul Romer receberam o Nobel de Economia deste ano por revelarem fatores que impulsionam o crescimento sustentável e o papel de políticas públicas na determinação de seu impacto.

Nordhaus, 77, pesquisador da Universidade Yale, foi reconhecido por seu estudo pioneiro sobre as consequências econômicas do aquecimento global. Já Romer, 62, ex-economista-chefe do Banco Mundial e professor da Universidade de Nova York, foi mencionado por investigar as condições que fomentam a inovação tecnológica.

"Os laureados ampliaram o escopo da análise econômica ao construir modelos que explicam como a economia de mercado interage com a natureza e o clima", afirmou a Academia Real Sueca de Ciências, no comunicado divulgado nesta segunda-feira (8).

William Nordhaus e Paul Romer adotam questões atuais na análise macroeconômica
Prêmio Nobel de Economia de 2018 foi concedido a William Nordhaus e Paul Romer - Fotomontagem

Ao analisar as causas e as consequências da inovação e das mudanças climáticas, os dois economistas ampliaram a compreensão sobre políticas que fomentam o desenvolvimento sustentável.

Em sua pesquisa, Romer foi além da proposição de que a evolução tecnológica fomentava o crescimento econômico, demonstrando como as condições de cada mercado também incentivavam ou freavam o ímpeto inovador.

"Até então, os economistas não tinham conseguido explicar de onde vinha a tecnologia, apesar de reconhecer sua importância. Ele demonstrou que a tecnologia era gerada pelo próprio crescimento, indicando uma retroalimentação entre os dois", diz Jorge Arbache, secretário de relações internacionais do Ministério do Planejamento.

O modelo desenvolvido por Romer deu origem à chamada teoria do crescimento endógeno. A partir da sua formulação, o próprio pesquisador e outros estudiosos buscaram respostas sobre as políticas que estimulam boas ideias, como a regulamentação do uso de patentes e da competição e o subsídio bem desenhado à pesquisa científica.

"Tanto Romer quanto Nordhaus mostraram que políticas públicas bem desenhadas são sim importantes para fomentar o conhecimento e a inovação", afirma Arbache.

Vinícius Müller, professor do Insper, concorda: "Eles tiraram um pouco o pé da visão exagerada de que qualquer participação do Estado distorce os incentivos à inovação", diz Müller, que é doutor em história econômica.

Uma das questões levantadas pela pesquisa de Romer, segundo o acadêmico, refere-se aos limites ao crescimento no contexto da evolução tecnológica como causa e produto da expansão econômica simultaneamente.

"A conclusão é que um dos limites surge a partir dos desequilíbrios ambientais, justamente um dos focos da pesquisa do Nordhaus. Essa é uma interseção importante entre os trabalhos dos dois."

Nordhaus começou seus estudos sobre a interação entre o clima e a economia nos anos 1970, desenvolvendo um modelo que indica como a relação ocorre na prática. Tornou-se um dos principais defensores da cobrança de um imposto sobre as emissões de gases que causam o efeito estufa, com o propósito de reduzi-las.

Além de sua linha de pesquisa ambiental, Nordhaus é conhecido por outras contribuições acadêmicas. Seu livro "Economia" --escrito em coautoria com Paul Samuelson, premiado com o Nobel em 1970-- é até hoje referência no ensino da disciplina.

Além de sua linha de pesquisa ambiental, Romer ganhou notoriedade nos últimos anos por sua participação na vida pública. Em 2016, foi nomeado economista-chefe do Banco Mundial. Deixou o cargo no início deste ano após conflitos com funcionários do organismo multilateral.

Em entrevista, Romer ressaltou que o reconhecimento que Nordhaus e ele receberam com a premiação reforça que é possível reduzir as emissões de carbono mantendo o crescimento econômico e contribuindo para que melhores condições de vida sejam alcançadas.

Publicações:

William Nordhaus

  • "Economics" (Economia)
  • "Microeconomics" (Microeconomia)
  • "Macroeconomics" (Macroeconomia)
  • "Economics and Poilicy Issues in Climate Change"
  • "The Climate Casino"
  • "The Swedish Nuclear Dilemma"
  • "Warming the World"
  • "Managing the Global Commons"
  • "A Question of Balance"

Paul Romer

  • "Growth Cycles"
  • "Looting: The Economic Underworld of Bankruptcy for Profit"
  • "Economic Integration and Endogenous Growth"
  • "Endogenous Technological Change"
  • "Increasing Returns and Long Run Growth"
  • "Cake Eating, Chattering and Jumps: Existence Results for Variational Problems"

Relembre os vencedores do prêmio:

2017 -  Richard H. Thaler (EUA), 72, por estudo do comportamento na tomada de decisões

2016 - Oliver Hart (Grã-Bretanha) e Bengt Holmström (Finlândia), 67, por estudos na área de contratos

2015 - Angus Deaton (EUA), por estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social

2014 - Jean Tirole (França), devido a pesquisas sobre o poder de mercado de grandes empresas

2013 - Eugene Fama, Robert Shiller e Lars Peter Hansen (todos dos EUA), por estudos de análise sobre preços de ativos

2012 - Alvin Roth e Lloyd Shapley (ambos dos EUA), por trabalhos sobre como otimizar oferta e demanda

2011 - Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims (ambos dos EUA), por pesquisa sobre causas e efeitos na macroeconomia

2010 - Christopher Pissarides (Chipre) e Peter Diamond e Dale T. Mortensen (ambos dos EUA), por estudos sobre demandas dos mercados e a dificuldade em correspondê-las

2009 - Elinor Ostrom e Oliver Williamson (EUA), pela demonstração de como propriedades podem ser utilizadas por associações de usuários e pela teoria sobre resolução de conflitos entre corporações, respectivamente

2008 - Paul Krugman (EUA), pela análise dos padrões do comércio e da localização da atividade econômica

2007 - Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin e Roger B. Myerson (EUA), pela aplicação das bases da teoria do desenho dos mecanismos
2006 - Edmund S. Phelps (EUA)

2005 - Robert J. Aumann (Israel e EUA) e Thomas C. Schelling (EUA), por estudos sobre conflito e cooperação em negociações por meio da análise da teoria dos jogos

2004 - Finn E. Kydland (Noruega) e Edward C. Prescott (EUA), por pesquisa sobre o desenvolvimento da teoria da macroeconomia dinâmica e seus estudos sobre os ciclos de negócios

2003 - Robert F. Engle 3º (EUA) e Clive W.J. Granger (Reino Unido)

2002 - Daniel Kahneman (EUA e Israel) e Vernon L. Smith (EUA)

2001 - George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz (EUA)

2000 - James J. Heckman e Daniel L. McFadden (EUA)

1999 - Robert A. Mundell (Canadá)

1998 - Amartya Sen (Índia)

1997 - Robert C. Merton e Myron S. Scholes (EUA)

1996 - James A. Mirrlees (Reino Unido) e William Vickrey (EUA)

1995 - Robert E. Lucas Jr. (EUA)

1994 - John C. Harsanyi (EUA), John F. Nash Jr. (EUA) e Reinhard Selten (Alemanha)

1993 - Robert W. Fogel e Douglass C. North (EUA)

1992 - Gary S. Becker (EUA)

1991 - Ronald H. Coase (Reino Unido)

1990 - Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe (EUA)

1989 - Trygve Haavelmo (Noruega)

1988 - Maurice Allais (França)

1987 - Robert M. Solow (EUA)

1986 - James M. Buchanan Jr. (EUA)

1985 - Franco Modigliani (EUA)

1984 - Richard Stone (Reino Unido)

1983 - Gerard Debreu (EUA)

1982 - George J. Stigler (EUA)

1981 - James Tobin (EUA)

1980 - Lawrence R. Klein (EUA)

1979 - Theodore W. Schultz (EUA) e Sir Arthur Lewis (Reino Unido)

1978 - Herbert A. Simon (EUA)

1977 - Bertil Ohlin (Suécia) e James E. Meade (Reino Unido)

1976 - Milton Friedman (EUA)

1975 - Leonid Vitaliyevoch Kantorovich (Rússia) e Tjalling C. Koopmans (EUA)

1974 - Gunnar Myrdal (Suécia) e Friedrich August von Hayek (Áustria)

1973 - Wassily Leontief (EUA)

1972 - John R. Hicks (Reino Unido) e Kenneth J. Arrow (EUA)

1971 - Simon Kuznets (EUA)

1970 - Paul A. Samuelson (EUA)

1969 - Ragnar Frisch (Noruega) e Jan Tinbergen (Holanda) 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.