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Cifras & Letras

Livro mostra resiliência das classes CDE à crise econômica

População de renda mais baixa acumulou conquistas estruturais em 20 anos

Anaïs Fernandes
São Paulo

O Brasil Mudou Mais do que Você Pensa

  • Preço R$ 45, 200 págs.
  • Autor Lauro Gonzalez, Maurício de Almeida Prado e Mariel Deak (org.)
  • Editora FGV Editora

Não é de hoje que o brasileiro compartilha uma sensação generalizada de atraso, mas o sentimento de estagnação é amplificado em momentos de crise econômica como a enfrentada pelo país nos últimos anos. 

Nessas horas, o pessimismo se torna o sentimento predominante, e a sensação geral é de perda de bem-estar.

A um dia do resultado da disputa presidencial mais inflamada dos últimos tempos, marcada pela disseminação de notícias falsas, especialistas do GVcemif (Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV) e do Instituto Plano CDE nos lembram como dados são essenciais para que não se perca o senso de realidade.

Em "O Brasil Mudou Mais do que Você Pensa", os organizadores Lauro Gonzalez, Maurício de Almeida Prado e Mariel Deak reúnem uma série de artigos para apresentar avanços estruturais pelos quais passaram as classes CDE em 20 anos (1995-2015). 

Esse foi o período selecionado por agregar maior disponibilidade de dados comparáveis, como os da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.

A crise, dizem os organizadores, embora traga desalento e provoque efeitos conjunturais negativos, não alterou o fato de que novos patamares foram alcançados para essa população e nem que o maior acesso a crédito torna essas famílias mais resilientes à própria crise.

O livro é dividido em quatro grandes temas: educação, habitação, renda e posse de bens, inclusão financeira e digitalização. A cada capítulo, os autores usam dados quantitativos e entrevistas de campo para abordar o que mudou, por que, os efeitos dessas mudanças nas vidas das famílias e os desafios para o futuro.

Em 2015, as classes CDE concentravam 59% da população brasileira. O livro considera como da classe C pessoas com renda per capita de meio a um salário mínimo; DE têm renda abaixo de meio mínimo. 

Segundo os autores, a mudança mais estrutural nas classes CDE nas últimas décadas se deu na educação. 

Enquanto nas classes AB o ensino para crianças de 6 a 14 anos já estava praticamente universalizado --quando o percentual de pessoas em determinada faixa etária que frequentam a escola é igual ou superior a 97%-- em 1995, cerca de 3 milhões de crianças CDE estavam fora da sala de aula. 

Atualmente, quase todas elas têm acesso ao ensino fundamental. Também estão permanecendo e progredindo mais nos estudos. Há hoje mais jovens dessas faixas acessando e concluindo o ensino médio e mais oportunidades de formação técnica ou superior. 

São conquistas de acesso, permanência e conclusão ainda muito básicas, mas precondições para que o Brasil atinja patamares educacionais similares aos de outros países.

O livro destaca que boa parte das conquistas não é restrita a governos específicos, mas fruto de políticas encadeadas no tempo. 

A discreta queda no déficit habitacional relativo, por exemplo, de 10,4% do total de domicílios em 2007 para 9,3% em 2015, é o resultado da estabilização inflacionária na segunda metade dos anos 1990, somada à expansão do crédito em 2000 e ao lançamento do programa Minha Casa Minha Vida, "a primeira iniciativa em larga escala a ser bem-sucedida em termos de alcance da população de baixa renda", escrevem os autores.

Logo na introdução, os organizadores admitem que o livro tem um enfoque positivo, mas isso não os exime de apontar que há um longo caminho a ser percorrido em busca de melhores condições para as classes mais baixas.

A realidade ainda muito dura aparece com clareza nos relatos colhidos com famílias das classes CDE. Sueli, 47, por exemplo, comemora a máquina de lavar usada comprada de sua irmã, que lhe liberou mais tempo para investir nos doces e salgados que vende no bairro. Capital de giro no banco, no entanto, ela ainda não consegue. 

Aliás, é no tema da inclusão financeira que o livro demonstra progressos mais tímidos. Apesar de a posse de conta-corrente ter avançado entre os mais pobres, os autores apontam que apenas 7% entre os CDE que têm conta bancária a usam mais de uma vez por mês. É um lembrete de que bancarização não é sinônimo de inclusão. 

Nesse sentido, o livro destaca que a concentração de serviços financeiros é um obstáculo, cabendo às autoridades regulatórias estimular um ambiente de concorrência e inovação mais saudável.

MAIS VENDIDOS

Veja livros que se destacaram na semana

TEORIA E ANÁLISE

1º/-  Fundamentos de Administração Financeira, Stephen Ross e Randolph Westerfield, ed. AMGH, R$ 240
2º/-  Tributação da Economia Digital, Renato Vilela Faria e Alexandre Luiz Moraes do Rêgo , Ed. Saraiva, R$ 210,90
3º/- Compra e Venda de Participações Societárias de Controle, Gabriel Saad Kik Buschinelli, Ed. Quartier Latin, R$ 138
4º/2º  Rápido e Devagar, Daniel Kahneman, Ed. Objetiva,  R$ 62,90
5º/4º Sprint, Jake Knapp, John Zeratsky e Braden Kowitz, Ed. Intrínseca, R$ 39,90

Prática e Pessoas

1º/2º Crença Inabalável, Sandro Rodrigues, Ed. Buzz, R$ 49,90
2º/1º A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, Mark Manson, Ed. Intrínseca, R$ 29,90
3º/3º Seja Foda!, Caio Carneiro, Ed. Buzz, R$ 39,90
4º/- O Mentor, Edvaldo Pereira Lima, ed. Gente, R$ 39,90
5º/4º Me Poupe!, Nathalia Arcuri, Ed. Sextante, R$ 29,90, 

Lista feita com amostra informada pelas livrarias Curitiba, Fnac, da Folha, Saraiva e Argumento; os preços são referências do mercado e podem variar; semana de 8/4 a 14/4; entre parênteses, a posição na semana anterior
 

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