Moreira Franco diz que modelo de hidrelétricas, defendido por Bolsonaro, está encerrado

Ministro defendeu, sem fazer menção direta, modelo de leilão de térmicas regional, que deve elevar conta de luz

Taís Hirata
São Paulo

O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB-RJ), afirmou que o modelo calcado nas usinas hidrelétricas está encerrado no país.

A retomada da construção de hidrelétricas, inclusive na região da Amazônia, é uma das principais pautas da equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para o setor elétrico.

“A fonte hídrica não dá mais a segurança que deu no passado, que justificou todos os investimentos vultosos. Ela é tão dependente da natureza como outras fontes, que o setor hídrico acha que são fontes menores, porque dependem da natureza. Eles não se olham no espelho e veem que eles também já dependem da natureza”, afirmou o ministro.

Ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, durante entrevista em seu gabinete
Ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, durante entrevista em seu gabinete - Pedro Ladeira/Folhapress

O ministro ainda defendeu, mesmo sem fazer referência direta, os leilões regionais de usinas térmicas a gás natural, proposto por meio de consulta pública pelo ministério.

O modelo é extremamente controverso dentro dos próprios órgãos do setor elétrico, como mostrou a Folha, em julho.
 
Críticos afirmam que a consulta pública do governo visa viabilizar um leilão no Nordeste, defendido principalmente por políticos e empresários em Pernambuco.

Além disso, há questionamentos à contratação regional das usinas, que limita a concorrência e  contraria o sistema interligado nacional --em que a energia não precisa necessariamente ser gerada na região onde é consumida, pois pode ser transportada por meio de linhas de transmissão.

Esse modelo, existente há décadas no país e defendido por diversos especialistas do setor, foi criticado pelo emedebista.

“Temos um país extremamente diverso, e essa diversidade é incompatível com o sistema nacional, único, como se as regiões fossem iguais. Uma fonte que pode oferecer energia barata em determinada região é impedida de oferecer energia barata porque é preciso que essa contribuição [a energia gerada] entre no sistema, que impõe desvios desnecessários e prejudiciais à família brasileira”, afirmou, em seu discurso.

Moreira Franco também disse que é preciso diversificar a matriz, não apenas com energia limpa, mas também para garantir a segurança elétrica. Para defensores do leilão, as usinas térmicas movidas a gás natural são uma fonte que traz estabilidade, por terem a capacidade de serem despachadas a qualquer momento.

“Se o Brasil não tivesse tido a maior crise econômica de sua história, teríamos tido um apagão”, afirmou o ministro.

Outros empresários ligados ao setor de gás natural buscaram apresentar propostas a Bolsonaro, ainda durante a campanha. 

Na semana passada, o então presidenciável recebeu uma equipe de técnicos, que incluía o presidente da Abegás (Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás), Augusto Salomon, e o consultor Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), um dos técnicos do setor que defende o uso de térmicas a gás para garantir a segurança do sistema elétrico. 
 

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