Tensões comerciais aumentam riscos à estabilidade financeira global, diz FMI

Fundo cortou estimativa de crescimento global devido à intensificação da guerra comercial entre EUA e China

São Paulo | Reuters

Os riscos ao sistema financeiro global aumentaram ao longo dos últimos seis meses e podem se elevar com força se as pressões nos mercados emergentes ampliarem ou as relações comerciais globais se deteriorarem mais, disse nesta quarta-feira o FMI (Fundo Monetário Internacional).

O FMI, cujas reuniões com o Banco Mundial iniciam nesta semana na ilha indonésia de Bali, também destacou que embora a estabilidade financeira tenha sido sustentada por reguladores na década desde a crise financeira global de 2008, condições financeiras frouxas estão contribuindo para um aumento dos problemas potenciais relacionados aos altos níveis de dívida e avaliações "alongadas" de ativos.

Christine Lagarde, diretora do FMI
Christine Lagarde, diretora do FMI, durante encontro na Indonésia - AFP

Mas novos regimes de resolução bancária para evitar resgates financeiros futuros são em grande medida não testados, disse o Fundo em sua atualização bianual de estabilidade financeira global.

"Os riscos de curto prazo à estabilidade financeira global aumentaram um pouco", disse o FMI. "No geral, os participantes do mercado parecem complacentes sobre o risco de um forte aperto nas condições financeiras."

O Fundo destacou que o crescimento econômico parece ter atingido um pico em algumas importantes economias enquanto a diferença entre países avançados e mercados emergentes está se ampliando. Na terça-feira o FMI cortou suas estimativas de crescimento global devido à intensificação da guerra comercial entre EUA e China e aos crescentes apertos financeiros nos mercados emergentes. 

Novas pesquisas do FMI mostram que países emergentes com exceção da China podem enfrentar fluxos de saída de capital de até 100 bilhões de dólares, nível visto pela última vez durante a crise financeira global.

O Fundo citou uma série de outros riscos de curto prazo à estabilidade financeira, incluindo a possibilidade de um "não-acordo" do Brexit ou renovadas preocupações sobre política fiscal em alguns países endividados da zona do euro.

Guerra comercial

Uma autoridade do Ministério das Finanças da China afirmou nesta quarta-feira sentir-se "um pouco mais otimista" sobre a perspectiva de romper um impasse nas negociações comerciais com os Estados Unidos, afirmando que ambos os lados estão integrados economicamente demais para tolerar os efeitos adversos.

A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo deixou os mercados mundiais nervosos e coloca dúvidas sobre o crescimento econômico mundial.

A China, irritada com as últimas tarifas dos EUA sobre 200 bilhões de dólares em produtos chineses, recusou no mês passado o convite de Washington para outra rodada de negociações, pedindo ao governo dos EUA que mostre "sinceridade" primeiro retirando as ameaças de tarifas.

"Atualmente a bola está com eles. Mas pessoalmente estou um pouco mais otimista", disse à Reuters Zhou Qiangwu, assessor associado do departamento de assuntos internacionais do Ministério das Finanças, durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial em Bali.

"As negociações ainda estão acontecendo, via diferentes canais. O cancelamento (das discussões comerciais oficiais) é apenas uma delas", disse Zhou, embora não tenha dado detalhes e dito não ter certeza sobre quando a próxima negociação formal irá acontecer.

O presidente norte-americano, Donald Trump, repetiu na terça-feira sua ameaça de adotar tarifas sobre mais 267 bilhões de dólares em importações chinesas se Pequim retaliar pelas mais recentes taxas e outras medidas que os EUA adotaram.

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