O governo de Jair Bolsonaro (PSL), eleito no domingo com cerca de 55% dos votos válidos, não representa uma ameaça às demandas do setor sucroenergético brasileiro, mas será necessário um forte diálogo com o novo presidente, que assume em 1° de janeiro de 2019, disseram lideranças do segmento nesta segunda-feira (29).
A cadeia produtiva de açúcar e etanol do país, um dos maiores produtores das commodities e principal exportador do adoçante, surpreendeu-se com declarações de Bolsonaro durante o período de campanha, incluindo sinalizações de que o Brasil poderia deixar o Acordo do Clima de Paris, além de um endurecimento nas relações comerciais com a China, um importador de açúcar do Brasil.
Posteriormente, ele negou que fosse retirar o Brasil do acordo climático firmado após a COP-21.
Segundo o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha, já houve contato com a equipe de Bolsonaro, e a pauta prioritária no governo do PSL seguirá sendo o RenovaBio, a nova política nacional de biocombustíveis, em fase de regulamentação.
"Agora é ter paciência. Ele [Bolsonaro] poderá ouvir o contraditório no governo", afirmou Rocha à agência de notícias Reuters na conferência sobre açúcar e etanol, promovida pela consultoria Datagro, em São Paulo.
A presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Elizabeth Farina, disse, no mesmo evento, que será necessário levar uma "agenda detalhada" acerca das necessidades do setor sucroenergético.
"Vamos ter de renovar temas de biomassa na energia elétrica e de biocombustíveis", afirmou Elizabeth, cuja entidade que preside é a mais importante do setor de cana no centro-sul do país.
Em nota após vitória de Bolsonaro, a entidade afirmou que "muitos setores econômicos precisam de sinais claros e previsíveis de crescimento para retomar seus investimentos no médio e longo prazos e, assim, gerar mais empregos e renda".
"Em nosso caso, esperamos iniciar o fim de uma estagnação que se arrasta há 10 anos. Desejamos que o novo governo faça um bom governo", destacou a Unica em seu posicionamento.
O Brasil deve moer mais de 550 milhões de toneladas de cana neste ano, segundo estimativas de consultorias, com produção de cerca de 26 milhões de toneladas de açúcar e 30 bilhões de litros de etanol.
BALANÇO GLOBAL
Segundo o diretor da trading RCMA do Brasil, Felipe Ferraz, o mundo deverá registrar um "pequeno" superávit de 1 milhão a 1,5 milhão de toneladas de açúcar na safra global 2018/19, iniciada neste mês, e um déficit de até 6 milhões de toneladas no ciclo seguinte (2019/20).
A projeção quanto a uma menor oferta é feita após recuo da produção de açúcar no Brasil e previsões menos otimistas para a Índia — dois maiores produtores mundiais do adoçante. Outras regiões, contudo, também despertam atenção, acrescentou Ferraz.
"Os principais fatores a observar são Índia, Brasil, Tailândia, Paquistão, China e Europa", destacou Ferraz.
Para o centro-sul do Brasil, principal região produtora de cana do mundo, a RCMA prevê uma fabricação de 26,5 milhões de toneladas de açúcar na temporada vigente, iniciada em abril. Caso se confirme, o volume seria cerca de 10 milhões de toneladas abaixo do registrado no ano passado.
Usinas do país focaram na produção de etanol neste ano devido à melhor remuneração, uma vez que as referências internacionais do açúcar, apesar da recente recuperação, tocaram em setembro o menor patamar em uma década, abaixo da simbólica marca de US$ 0,10 por libra-peso.
Em relação à Índia, Ferraz disse que a produção de açúcar deve ser inferior a 32 milhões de toneladas. O cenário se assemelha ao traçado também nesta segunda-feira pela associação de usinas de açúcar da Índia (Isma, na sigla em inglês).
Por fim, Ferraz disse que na União Europeia a produção deve cair até 1,5 milhão de toneladas, após problemas climáticos, enquanto na Tailândia pode ficar abaixo de 14 milhões. Além disso, a redução de safra no Paquistão deve limitar os volumes de exportação, comentou.
Para o executivo, os preços do açúcar na Bolsa de Nova York devem variar de US$ 0,12 a US$ 0,15 por libra-peso no primeiro semestre de 2019, com viés de alta na segunda metade do ano, já refletindo a perspectiva de déficit.
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