Tréplica: Cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais

Paulo Feldmann revela lealdade canina a seu candidato a deputado federal

Alexandre Schwartsman
São Paulo

Ao comentar minha coluna sobre a desonestidade de Marcio Pinochmann, Paulo Feldmann revela lealdade canina a seu candidato a deputado federal. Não menos canina é a qualidade de seus argumentos.

A começar pelo (des)conhecimento de aritmética, que rivaliza com o de seu ídolo.

Ele insiste na tese (apresentada uns meses atrás) de que a elevação de 3% na alíquota efetiva de IR (Imposto de Renda) para as 70 mil famílias mais ricas "conseguiria arrecadar o suficiente para cobrir praticamente todo o déficit primário de cerca de R$ 170 bilhões".

Isto implica dizer que a renda tributável dessas 70 mil famílias seria da ordem de R$ 5,7 trilhões (3% de R$ 5,7 trilhões equivale a R$ 170 bilhões).

Dado que o PIB nos últimos 12 meses atingiu R$ 6,7 trilhões, para que o argumento fosse válido, 85% da renda no Brasil teria de estar nas mãos de 0,14% das famílias.

Não é o que diz o IBGE. Embora a renda seja mesmo muito concentrada no Brasil, os números não passam nem sequer perto do padrão decorrente da curiosa tese acima: os 10% mais ricos detinham 43,4% da renda em 2017. Errou só por um fator de 140 vezes...

A ânsia desenfreada para acobertar Pinochmann leva a outros erros grosseiros.

Afirma, por exemplo, que eu "deveria saber de cor que [o desemprego de] 8,4% foi no último ano de Dilma, e 11,7% foi no primeiro ano de Temer".

Exceto que não, a menos que, por motivos desconhecidos, Feldmann tenha afastado a presidente cinco meses antes da decisão da Câmara dos Deputados a respeito: em 2015 o desemprego foi 8,3%, mas nos 12 meses até maio de 2016 o número já havia saltado para 9,5%.

Isto já revela a inadequação do uso de médias no caso de uma variável que subia aceleradamente, procedimento que esconde mais do que revela.

Na verdade, o desemprego (ajustado à sazonalidade) atingiu 11% em maio de 2016, ou seja, mesmo se deixarmos de lado que se trata de variável que reage com longa defasagem às decisões de política econômica (e que, portanto, a responsabilidade da presidente se estende também aos meses que se seguiram à sua saída), não podemos ignorar que o legado dela foi uma forte elevação, de 8% para 11% entre sua posse e seu afastamento.

Feldmann passa então à exegese dos escritos de Pinochmann, isto é, buscar algo que não foi dito para justificar o que foi, na realidade, dito.

Assim, de acordo com Feldmann, Pinochmann teria tentado dizer que a dívida cresceu em ambos os governos, mas de forma mais rápida no período Temer.

Exceto que não foi o que Pinochmann alegou: ele usou uma estatística imprópria (no caso a dívida líquida) para fingir que não houve elevação do endividamento no período Dilma, mas sim no período Temer, o que é pura e simplesmente falso, como atestado pelos dados do BC, que, sim, conheço com certa profundidade. Exegese à parte, vale o que está escrito.

Feldmann persiste na ideia de que exista um "potencial arrecadatório de 1,5% do PIB (...) possível de ser conseguido com pequenas mudanças" no IR e imposto sobre herança sem jamais mostrar as contas que justificam a estimativa, isto é, para defender Pinochmann, utiliza-se da mesma técnica estatística favorita de seu ídolo: o chute desenfreado.

A única conclusão possível é que a sabujice de Feldmann só não foi capaz de impedir sua tentativa de roubar o título de economista mais desonesto do Brasil de quem, por direito, o detém. Mas que a tentativa foi boa isso eu não posso negar.

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