Aumentar voos em Congonhas é despropósito, diz presidente da Latam

Executivo afirma que o aeroporto já está operando no limite da capacidade de passageiros

Joana Cunha
São Paulo

A elevação da oferta de voos no aeroporto de Congonhas planejada pelo governo federal para 2019 é um "despropósito" se não envolver investimentos em infraestrutura para o embarque dos passageiros no local, disse Jerome Cadier, presidente da Latam Airlines, nesta quinta-feira (29).

O executivo afirma que o aeroporto já está operando no limite da capacidade de passageiros e tem gargalos que precisam ser resolvidos, como a inspeção de segurança e o embarque sem pontes. 

O governo federal planeja aumentar de 34 para 39 o número de slots (autorizações de pousos e decolagens) por hora no aeroporto da capital paulista, conforme a Folha antecipou nesta quarta-feira (28). A informação foi confirmada pela SAC ( Secretaria de Aviação Civil) do Ministério dos Transportes.

Presidente da companhia aérea Latam, Jerome Cadier
Presidente da companhia aérea Latam, Jerome Cadier - Bruno Santos/Folhapress

"Segunda-feira de manhã tem fila no raio-x e não tem muita solução para onde expandir porque tem comércio à direita e à esquerda. E, por motivos óbvios, a Infraero não quer remover. Tem necessidade de infraestrutura que não é slot", afirma Cadier. 

Outra preocupação do presidente da Latam é o embarque. 

"Naquela sala de embarque remoto que fica embaixo, os passageiros se estapeiam porque não tem lugar. Além disso, há o fato de a gente embarcar no remoto com chuva, molhando os nossos passageiros", queixou-se durante coletiva de imprensa com jornalistas. 

"Cá entre nós, eu acho um despropósito a gente falar de aumento de capacidade sem falar da infraestrutura", afirma Cadier.

A expansão dos slots representa uma revisão na política de contenção de voos implementada, por questões de segurança, após o acidente da TAM de 2007. Na tragédia, morreram 199 pessoas.

Antes do acidente com o Airbus da TAM, o aeroporto operava com até 48 slots. Logo depois, uma série de restrições foi imposta, como a diminuição dos slots e a restrição de voos de longa distância.
As operações foram reduzidas para 33 slots naquele ano. Chegaram a ser ainda menores, de 30 pousos e decolagens até 2014. Segundo a Anac, Congonhas hoje opera normalmente com 32 ou 33 pousos e decolagens.

Os planos de expandir o fluxo em Congonhas abrirão uma nova disputa entre as companhias aéreas pela distribuição de espaço no local, que concentra os voos mais rentáveis.

A mudança é vista como oportunidade de crescimento pela Azul, que hoje tem apenas 5% dos slots --ante 44% da Latam e 44% da Gol, segundo dados da Infraero.

A discussão sobre um eventual aumento da participação da Azul nos movimentos de pousos e decolagens em Congonhas é antiga.

Em 2013, quando Congonhas já operava perto do limite de sua capacidade, o governo discutia como retirar horários de TAM (hoje Latam) e Gol para poder fazer a redistribuição do direito de uso da infraestrutura.

Na época, as duas maiores empresas defendiam a perda de slots da aviação executiva para permitir o acesso da Azul e de companhias menores aos horários de pousos ou decolagens em Congonhas, evitando que elas tivessem de ceder seus próprios espaços.

O presidente da Latam acrescentou nesta quinta-feira que o problema de infraestrutura não está restrito a Congonhas e lembrou que outros aeroportos do país precisam elevar investimentos em infraestrutura sob pena de sacrificar a operação das empresas aéreas. 

"Hoje a gente tem mais de 30 aeroportos com obras na pista. Essas obras fazem com que a gente tenha que restringir a nossa operação em determinadas horas do dia e por tipo de aeronave", disse Cadier.

Ele também lamentou os recentes  aumentos dos custos de operação sobre as companhias aéreas.

"Em novembro a Infraero comunicou as aéreas que vai aumentar em 80% o custo por metro quadrado usado pelas aerolinhas nos seus aeroportos. Depois muita gente reclama que a passagem está cara. É importante entender os fatores de custo que estão empurrando o nosso custo de operação. Taxas de sobrevoo aumentaram 30% recentemente", afirmou Cadier. 

Ele diz que observa uma retomada do aquecimento no setor. 

"Com o dólar se estabilizando em um patamar talvez um pouco menor do que onde ele chegou, a R$ 4,20, isso traz uma demanda internacional. E a gente vê que o mercado doméstico também volta com alguma calma, não com a velocidade que a gente gostaria mas a gente se sente mais otimista", disse.

O setor sofreu nos últimos meses com a alta do dólar e do combustível. Segundo o executivo, no entanto, esse aumento só deverá ser repassado ao preço quando a demanda for retomada.

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