Futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina recebeu doação de réu por assassinato de líder indígena em MS

Índio da etnia guarani-caiová lutava por demarcação de terras no Estado

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retrato do rosto da futura ministra da Agricultura
Tereza Cristina, futura ministra da Agricultura do governo de Jair Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters
CURITIBA

A futura ministra da Agricultura, deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), recebeu doação de campanha de um fazendeiro acusado de ser o mandante do assassinato do líder indígena Marcos Veron. 

 O cheque de R$ 30 mil, assinado por Jacintho Honório da Silva Filho, foi registrado no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em 30 de setembro de 2014, quando Tereza Cristina concorria a uma vaga na Câmara pelo PSB. 

 À época, ele já era réu pelo crime, cometido em 2003. Veron, morto aos 73 anos, era reconhecido como uma das principais lideranças da numerosa etnia guarani-caiová, que luta há décadas por demarcação de terras em Mato Grosso do Sul. 

 Para o MPF, o fazendeiro é o mentor intelectual e financeiro dos crimes. Ele responde por homicídio duplamente qualificado, tentativa de homicídio qualificado, tortura, sequestro, formação de quadrilha armada e dano qualificado.

 O caso aconteceu em 13 janeiro de 2003, no município de Juti (310 km ao sul de Campo Grande). Homens supostamente pagos por Silva Filho atacaram um acampamento montado dias antes por guarani-caiovás dentro da sua fazenda, Brasília do Sul, área reivindicada pelos indígenas.

 Veron e outros seis guarani-caiovás foram sequestrados e levados na carroceria de uma caminhonete, onde sofreram tortura, incluindo sua filha Geisebel, grávida de sete meses. 

 O líder indígena morreu por traumatismo craniano após ser espancado com socos e coronhadas de espingarda.

 Em 2010, três homens identificados como contratados pelo fazendeiro, Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde, foram condenados a 12 anos e 3 meses de prisão pelos crimes de sequestro, tortura e formação de quadrilha, mas absolvidos do crime de homicídio. À época, o MPF classificou a decisão de “vitória parcial”. 

Outros 21 réus não foram julgados até hoje, incluindo o fazendeiro, um PM e Nivaldo Alves de Oliveira, apontado como o capanga que teria espancado Veron e que se entregou em 2015, após 12 anos foragido. Todos negam os crimes.

 Em um caso raro na Justiça, o julgamento foi transferido de Dourados (MS) para São Paulo a pedido do MPF, sob a argumentação de que Silva Filho, já acusado de ser o mandante, estava coagindo testemunhas. O fazendeiro até hoje não foi a julgamento pelo crime cometido há 15 anos. 

 Em resposta por escrito, Tereza Cristina afirmou que “a família de Jacintho Honório da Silva Filho é amiga de longa data” e que a doação "é garantida pela legislação vigente”.

 "Cabe esclarecer ainda que não há condenação. O fato de ser réu não quer dizer que tenha cometido qualquer crime”, completou Tereza Cristina, que preside a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), com 245 deputados e senadores.

Ataque de fazendeiros

Em 2015, Tereza Cristina teve o seu nome envolvido com o ataque de fazendeiros  que culminou na morte do cacique Simião Vilhalva, 24, no município de Antonio João, também no sul de Mato Grosso do Sul. 

No dia 29 de agosto daquele ano, ela e outros dois parlamentares participaram de uma reunião no Sindicato Rural de Antônio João. Dali, saiu um comboio de camionetes rumo ao acampamento dentro de uma área em disputa no município.

Os integrantes do comboio atacaram os guarani-caiovás, que fugiram a pé. Durante a confusão, Vilhalva foi morto com um tiro na cabeça.

A reunião e o ataque estão sob investigação do Ministério Público Federal. O procedimento corre em sigilo do Justiça. 

Questionada sobre a sua participação no encontro, a parlamentar disse que a sua posição foi a de esperar a chegada da Força Nacional, da PM e do MPF "para que fizessem a intermediação com os índios”.

"Nem o produtor rural merece perder suas terras nem o índio merece viver uma vida sem dignidade”, afirmou.

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