Investimentos com mais risco ganham força

Gestores veem potencial de ganhos na bolsa brasileira

Flavia Lima
São Paulo

Nas sugestões feitas por gestores de recursos e analistas de investimento, ganham força alternativas mais arriscadas, tendo o investimento em ações no Brasil como destaque. A percepção é que enquanto as bolsas internacionais já iniciaram um movimento de queda, a Bolsa paulista tem chances de oferecer bons retornos.

A projeção leva em consideração o potencial de crescimento econômico mais robusto no ano que vem e a disposição do novo governo em priorizar algumas reformas —em especial a da Previdência—, que devem favorecer a Bolsa brasileira e também outros ativos de risco.

Se a conjuntura mais favorável se consolidar, a expectativa é que até o investidor estrangeiro, que bateu em retirada por causa das incertezas do período pré-eleitoral, retorne à Bolsa local.

Nesse ambiente mais benigno, analistas indicam que a Bolsa pode atingir 100 mil pontos no ano que vem —um potencial de alta superior a 15%, ou mais do que o dobro da taxa Selic, que baliza os investimentos em renda fixa.

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Telas mostram flutuações do mercado na Bovespa - Diego Padgurschi /Folhapress

Os riscos da estratégia, porém, não são desprezíveis.

Ainda existem dúvidas se o futuro governo vai conseguir emplacar as reformas necessárias na profundidade e, principalmente, no ritmo esperado pelo mercado.

No front externo, uma guerra comercial global, a elevação dos juros básicos americanos num ritmo mais forte do que o esperado e um crescimento mundial menos vigoroso podem fazer com que o estrangeiro opte por mercados mais seguros.

Nesse contexto, o Brasil perderia atratividade, em especial porque não tem o chamado 'grau de investimento', espécie de selo dado pelas agências de classificação de risco a bons pagadores. A classificação é considerada por grandes investidores globais.

"Vejo uma disposição em aumentar a exposição ao risco, mas é preciso acompanhar a dinâmica do mercado e da economia", diz Conrado Navarro, especialista em finanças pessoais da Modalmais.

Gilberto Abreu, superintendente de investimentos do Banco Santander, diz que está atento aos riscos, tem orientado os clientes a manter uma carteira diversificada, mas vê potencial nas ações. "Estamos mais otimistas com a renda variável", afirma.

Martín Iglesias, especialista em investimento do Itaú Unibanco, ressalta que há incertezas no ar, mas que a balança pende para investimentos mais arriscados. As premissas do Itaú consideram uma inflação sob controle e taxa Selic estável em 6,5% em 2019.

Iglesias reconhece que essa não é a visão consensual do mercado, mas lembra que a grande capacidade ociosa da produção e da mão de obra permite que a economia reaja sem pressões inflacionárias.

Nesse momento, diz o Itaú, as ações brasileiras têm o maior potencial de valorização, seguidas por fundos multimercados —carteiras que têm maior flexibilidade de investimento no caso das previsões positivas não se confirmarem.

Na ordem de preferência do banco, viriam os títulos públicos prefixados, cujo rendimento é conhecido de antemão pelo investidor.

Os papéis do Tesouro Direto com vencimento em 2021, diz Iglesias, têm a melhor relação entre risco e retorno, com rentabilidade de 7,8% ao ano.

Junto dos prefixados estão os títulos indexados à inflação, com rendimento ao redor de 5% ao ano, mais a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Na ponta oposta, as ações internacionais são vistas como pouco atrativas, dado o cenário externo turbulento e a perda de fôlego dos índices de ações americanos. Assim como os títulos públicos pós-fixados emitidos pelo Tesouro.

Os papéis acompanham a Selic e, para o Itaú, ela deve se manter inalterada em 2019.

No entanto, Navarro, da Modalmais, recomenda que "todo o investidor, mesmo o mais arrojado, tenha parte do patrimônio em renda fixa, de modo a ter mais tranquilidade para lidar com os riscos que se dispõe a correr". Em sua avaliação, essa fatia deveria girar ao redor de 60% da carteira.

Para quem se dispõe a correr mais riscos, o Santander destaca opções menos conhecidas do investidor, como debêntures incentivadas e os chamados COEs (Certificados de Operações Estruturadas).

Os COEs buscam aproveitar ganhos com a alta do dólar ou com a recuperação da Bolsa, sem que o investidor perca dinheiro em caso de queda.

Para obter o resultado, o gestor lança mão de operações com derivativos, instrumentos financeiros que podem ser usados para proteção.

Além disso, o produto costuma ter um período de carência no qual o investidor não pode acessar seus recursos.

Já as debêntures funcionam como alternativa de captação de recursos para as empresas.

Para tocar um projeto, uma empresa pode emitir uma debênture em vez de pedir empréstimo ao banco. Se o projeto atender condições especificas, como estar ligado à área de infraestrutura, o título pode ter incentivos fiscais.

A remuneração de uma debênture incentivada, diz Abreu, pode chegar a 98% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, cujo rendimento se aproxima da taxa Selic).

Como o papel é isento de imposto, o rendimento efetivo pode chegar a 130% do CDI.

Mas o investidor pode enfrentar obstáculos para ser remunerado, caso a empresa tenha dificuldades financeiras, por exemplo. "É por isso que tomamos cuidado ao selecionar o papel", diz Abreu.

Conrado Navarro, especialista em finanças pessoais da corretora Modalmais, sugere àqueles dispostos a correr mais riscos os CDBs (títulos emitidos por bancos) e os títulos que hoje contam com isenção de imposto de renda, como a LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio).

Segundo Navarro, um CDB prefixado com prazo de 7 anos emitido por um banco médio paga hoje cerca de 10,3% ao ano. Em comparação, o rendimento de um título do Tesouro prefixado com vencimento em 2025 é de 9,5% ao ano.

Além de mais rentáveis, diz Navarro, essas aplicações contam com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por conglomerado financeiro (limitado ao teto de R$ 1 milhão).

Abreu, do Santander, diz que é importante lembrar que não há retorno sem risco. "É preciso que o investidor entenda o risco que corre. Caso contrário, é melhor descartar aventuras, sem possibilidade de perda do principal."

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