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Cifras & Letras

Livro critica Uber e startups por não empregar trabalhadores

Para autora, economia dos bicos traz pouco benefício aos menos qualificados

Ivan Martínez-Vargas
São Paulo

Gigged: The End of Job and The Future of Work

  • Preço R$ 44,90 (ebook), 288 págs.
  • Autor Sarah Kessler
  • Editora St. Martin’s Press

O termo em inglês “gig economy” é usado para definir a tendência de troca do emprego fixo pela vida de freelancer. A prática, iniciada pelas startups, será o futuro das relações trabalhistas, segundo especialistas.

A expressão dá nome ao livro da jornalista Sarah Kessler, que se propõe a discutir o que seria “o fim do emprego e o futuro do trabalho” (em tradução ao português).

A obra é, sobretudo, um bom conjunto de perfis. A maioria sobre trabalhadores dos Estados Unidos e do Canadá, de diversas classes e qualificações, que recorrem às startups principalmente por falta de um emprego formal.

As histórias são intercaladas de modo que o leitor acompanha a entrada, quase sempre entusiasmada, de cada personagem na economia dos apps. Em seguida, são expostas as primeiras decepções.

A falta de diálogo e negociação salarial com as plataformas, as remunerações baixas, as cargas horárias elevadas e, eventualmente, a decisão de fazer protestos contra as organizações são elementos recorrentes na narrativa. 

Prestadores de serviços em aplicativo durante manifestação em Londres em que pedem mais direitos  Danie Leal-Olivas - 30.out.2018/AFP - Danie Leal-Olivas - 30.out.2018/AFP

Em meio às histórias dos freelancers por necessidade, a autora enumera pesquisas que evidenciam a precarização desse tipo de atividade. 

Cita, por exemplo, um estudo segundo o qual, em Nova York, 20% dos motoristas de aplicativos como o Uber recebem menos de US$ 30 mil (R$ 112,5 mil) ao ano, quando o salário aceitável para sobreviver na cidade seria de ao menos US$ 46 mil anuais (R$ 172 mil).

A Uber, aliás, que ganhou fama, escala e receita com base no modelo de negócio em que seus motoristas não são empregados, é um dos principais alvos de Kessler.

Por meio da história de um ex-motorista do aplicativo, a autora dá voz a críticas à política da empresa de não contratar seus colaboradores e alterar unilateralmente os critérios das remunerações. 

Há ainda a história de um professor que monta uma escola gratuita de qualificação de mão de obra para startups na cidade de Dumas, no Arkansas.

Com o tempo, ele verifica que a remuneração dos bicos digitais, atrativa para freelancers de países de renda baixa, é quase sempre insuficiente diante dos custos de vida dos Estados Unidos.

Com seus exemplos, Kessler tenta provar que, para os menos qualificados, os bicos digitais podem piorar a qualidade de vida. O resultado seria mais precarização do que oportunidades de trabalho. 

A flexibilização de jornadas e a remuneração por tarefas, argumentos a favor da “nova economia” das startups, beneficiam mais os profissionais com alto grau de instrução e especialização, como o dos programadores, segundo ela.

Uma das falhas do livro, porém, está na apresentação de alternativas a esse modelo de informalidade trabalhista. 

A startup Managed by Q, aplicativo que oferece serviços de limpeza a empresas, especialmente escritórios, é retratada pela autora como contraponto ao modelo informal simbolizado pelo Uber.

Porém a narrativa dos supostos esforços de Dan Teran, um dos sócios da Managed by Q, emula a típica jornada do herói de Joseph Campbell.

Teran de fato adota, gradualmente, benefícios que vão do registro formal ao pagamento de bônus e à cessão de participação acionária a empregados. No entanto, nenhuma dessas práticas chega a ser novidade fora do ambiente das empresas digitais.

Kessler também passa longe de uma reflexão profunda sobre o papel do Estado na fiscalização e, principalmente, na criação de leis que garantam direitos aos freelancers. 

O resultado é que a obra se atém, na maior parte do tempo, às startups e quase não aborda o futuro das relações de trabalho.

Os efeitos da transposição do modelo dos bicos a empresas tradicionais e à economia real não são desenvolvidos no texto. 

A tendência de automatização da força de trabalho, traduzida por exemplo no carro autônomo, que eliminaria a necessidade de motoristas, é apenas citada pela autora.  

Se o leitor espera um ensaio sobre o futuro, poderá se desapontar, apesar das boas histórias contadas na obra.
 

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TEORIA E ANÁLISE

1º/-  Inovação em Mercados Emergentes, Roberto Bernardes, Felipe Mendes Borini, Dennys Eduardo Rossetto e Rafael Morais Pereira, Ed. Senac SP, R$ 38
2º/2º  Scrum, Jeff Sutherland, ed. LeYa, R$ 34,90
3º/- De Belíndia ao Real, José Carlos Carvalho, Civilização Brasileira, R$ 84,90
4º/4º  Marketing 4.0, Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan, ed. Sextante, R$ 49,90
5º/- Economia Brasileira Contemporânea, Amaury Patrick Gremaud, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos e Rudinei Toneto Júnior, Ed. Atlas, R$ 176


Prática e Pessoas

1º/2º A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, Mark Manson, Ed. Intrínseca, R$ 29,90
2º/1º Crença Inabalável, Sandro Rodrigues, Ed. Buzz, R$ 49,90
3º/3º Seja Foda!, Caio Carneiro, Ed. Buzz, R$ 39,90
4º/4º Me Poupe!, Nathalia Arcuri, Ed. Sextante, R$ 29,90, 
5º/5º O Poder da Autorresponsabilidade, Paulo Vieira, ed. Gente, R$ 19,90

Lista feita com amostra informada pelas livrarias Curitiba, da Folha, da Vila, Saraiva e Argumento; os preços são referências do mercado e podem variar

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