'Não pode improvisar com infraestrutura', diz Levy sobre superministério

Nova pasta reuniria atribuições das pastas de Minas e Energia, Ciência, Cidades e Transportes

Júlia Zaremba
Washington

O ex-ministro da Fazenda e diretor-geral e financeiro do Banco Mundial, Joaquim Levy, afirmou que, entre os superministérios anunciados pelos aliados de Jair Bolsonaro (PSL), o de infraestrutura é o que enfrentará mais desafios para ser implementado.

"Não se pode improvisar com infraestrutura", disse, nesta quinta (1), durante um painel sobre perspectivas econômicas e políticas para o Brasil realizado no Conselho das Américas, em Washington."É preciso haver uma combinação de planejamento e boa razão econômica."

Levy diz também que será preciso definir como a pasta será financiada, e que o investimento do setor privado será importante. Segundo ele, "o Brasil tem uma boa experiência com isso", com um mercado de capitais bem sólido.

Fariam parte do novo superministério as áreas de transportes (rodoviário, ferroviário, aéreo, portuário e hidroviário), mobilidade urbana, saneamento, energia, petróleo, gás, mineração e telecomunicações, como informou a agência Reuters na última terça (30).

O órgão reuniria competências hoje distribuídas pelos ministérios de Minas e Energia; Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; Cidades; e Transportes, Portos e Aviação Civil.

O diretor do Banco Mundial também afirmou que, com o novo governo, existe uma chance de que tendências na economia sejam alteradas, com a "possibilidade de que haja alguma liberalização".

"Há muitas oportunidades, desde que sejam resolvidos desafios claros, como reformas, redução de burocracia e a melhoria e simplificação de impostos, e que seja dada uma sensação de mais liberdade econômica", disse.

Em relação à reforma da previdência, o diretor do Banco Mundial disse que a dificuldade de seguir em frente com a proposta está mais ligada a um medo da classe política do que à desaprovação da medida pelos brasileiros.

"Pessoas nas ruas, os trabalhadores, eles entendem a necessidade do ajuste. Mas, com frequência, os políticos fazem disso uma grande coisa", disse. "É preciso ter vontade política e um pouco de coragem."

Pesquisa do Datafolha divulgada em maio de 2017 mostrou que 71% dos brasileiros rejeitavam a reforma da previdência. Bolsonaro afirmou nesta semana que pretende votar uma parte da proposta ainda neste ano.

O ex-ministro da Fazenda se esquivou de assuntos políticos durante o painel, mas afirmou que o Congresso tem grandes desafios pela frente. "O importante é que todas as partes busquem conciliação e façam as coisas importantes que precisam ser realizadas."

Levy assumiu o Ministério da Fazenda em 2015, durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Apelidado de "mãos de tesoura", pediu demissão menos de um ano depois de assumir o cargo, após sofrer sucessivas derrotas dentro do governo principalmente em torno do ajuste fiscal, medida que defendia para reequilibrar as contas públicas. Foi anunciado diretor financeiro do Banco Mundial em 2016.
 

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