Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Secretário de Guedes diz que disrupção vai 'levar país para outro patamar'

Salim Mattar, dono da locadora Localiza, vai comandar secretaria de privatizações

Joana Cunha
São Paulo

Escolhido para comandar a secretaria de privatizações que será criada no futuro governo de Jair Bolsonaro, o empresário Salim Mattar, dono da locadora de carros Localiza, disse nesta sexta-feira (23) que pretende participar de uma "disrupção" no Brasil e "levar o país para outro patamar".

O convite para o cargo foi feito pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem Mattar diz que nutre uma relação de amizade há quase 30 anos, tem uma "profunda identificação" e "comunga as mesmas ideias".

O empresário é membro do Millenium, um instituto fundado por Guedes para promover o liberalismo econômico.

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Salim Mattar, é formado em administração pela Fumec (BH). Ele fundou a Localiza aos 24 anos e foi um dos maiores doadores, como pessoa física, na eleição - Segio Zacchi/Valor

"Aceitei o convite para participar do governo com o intuito de fazer uma disrupção no país, levar para outro patamar. Tem um projeto interessante de reconstrução do país. Gostei do projeto e me dispus a participar do governo", disse Mattar à Folha nesta sexta (23). 

Evitando entrar em detalhes sobre os planos para a secretaria, Mattar disse que terá uma reunião na próxima semana em Brasília. 

"Vou para a vida pública fazer uma doação. Faço isso com muito prazer e acho que outros deveriam seguir o mesmo caminho, porque é hora de a sociedade mudar." 

O empresário vai se afastar dos negócios para assumir o cargo. 

A criação da secretaria de privatizações do governo Bolsonaro foi confirmada por Paulo Guedes, futuro ministro da economia, nesta terça-feira (20), com a missão de coordenar a venda de ativos estatais.

Na quarta-feira (21), dias antes de selecionar Salim Mattar, a equipe de Bolsonaro chegou a sondar para o cargo Wilson Poit, que foi secretário de Desestatização na Prefeitura de São Paulo até esta semana.

A nova Secretaria-Geral de Desestatização e Desimobilização ficará responsável pela agenda de gestão de estatais, o enxugamento de quadros de funcionários e a política de desinvestimento de empresas públicas, como a venda de participações.

O órgão assumirá funções que eram do Ministério do Planejamento, que será fundido à Fazenda para dar origem ao superministério de Paulo Guedes.

O PPI (Programa de Parceria de Investimentos) ficará sob a administração da Presidência da República.

REAÇÕES

Mattar é visto pelo empresariado como um profundo defensor do liberalismo econômico, mas um neófito que precisará ter a habilidade de se cercar de quem entende da máquina pública com humildade.

Dentre seus atributos mais citados, o mais lembrado é a inegável competência representada pelo feito de transformar a Localiza em uma das maiores empresas de aluguel de carros e gestão de frotas na América do Sul.

São mais de 520 agências no Brasil e de mais 60 em outros cinco países.

Preocupa o fato de que, apesar do próspero histórico no setor privado, Mattar tenha pouca conexão com a administração pública, assim como outros nomes da futura equipe, como Pedro Guimarães, escolhido para a presidência da Caixa Econômica Federal, e o próprio futuro ministro da Economia.

Quem entende de fusões e aquisições de empresas e conhece Mattar receia que seus planos para o programa de privatizações ainda estejam muito restritos à venda de imóveis e terrenos públicos.

Embora a inexperiência na administração pública seja vista como um empecilho, pesa a favor do futuro secretário o forte alinhamento ao bolsonarismo que ele revelou na reta final da campanha —o que pode reduzir o risco de eventuais desentendimentos.

O empresário foi um dos maiores doadores da campanha deste ano. Ele ofereceu recursos para diferentes candidaturas e partidos, mas iniciou a campanha como um forte entusiasta do Partido Novo, de João Amoêdo, derrotada na eleição presidencial.

Pragmático diante da baixa intenção de votos de Amoêdo nas pesquisas, passou a defender voto útil no PSL de Bolsonaro antes do primeiro turno, aborrecendo uma ala do Novo.

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