Temor de retração global leva Bolsas de Nova York a zerarem ganhos no ano

Perdas que se concentravam em empresas de tecnologia agora se espalham por outros setores

Nova York

Em meio a preocupações com uma desaceleração da economia global e sob pressão do setor de tecnologia, os principais indicadores da Bolsa de Nova York registraram nesta terça-feira (20) a segunda sessão de queda seguida e zeraram os seus ganhos no ano.

Nesta terça, o índice Dow Jones, que reúne as 30 ações mais líquidas de Wall Street, recuou 2,21%. O S&P 500, das 500 principais empresas, teve baixa de 1,82%. No ano, agora, o Dow Jones recua 1,03%, e o S&P 500, 1,19%. 

No início do pregão, acumulavam alta de 1,2% e 0,6%, respectivamente, em 2018.

O índice da Bolsa de tecnologia Nasdaq fechou em baixa de 1,7%, e está praticamente estável no ano, com leve alta de 0,08%.

Os volumes negociados estão abaixo dos registrados em dias normais, por se tratar de uma semana com um dos feriados mais importantes do país, o Dia de Ação de Graças, comemorado nesta quinta (22).

Na sessão, as ações de tecnologia voltaram a se destacar negativamente, em especial a Apple. Os papéis da empresa recuaram 4,78%, com os investidores expressando dúvidas sobre o futuro da companhia.

O banco Goldman Sachs cortou pela segunda vez no mês o preço-alvo para as ações da empresa. Agora, estima o valor delas em US$ 182, ante US$ 209 da revisão anterior. 

Nesta sessão, os papéis da Apple fecharam a US$ 176,67. É uma desvalorização de 20,7% desde 23 de outubro, quando era cotada a US$ 222,73. 

Os analistas projetam deterioração na demanda pelos novos modelos de iPhone. “A Apple é o que todos estão vendo. Há uma desaceleração nas vendas de iPhone, houve diminuição das demandas.

Um dos fornecedores disse que diminuiu a produção para a Apple, então é de se perguntar quanta demanda há no cenário global neste momento”, afirmou Quincy Krosby, estrategista-chefe de mercados da Prudential. 

O Facebook, outra gigante, fechou em alta de 0,67%. Na última semana, a ele enfrentou nova polêmica, após o jornal The New York Times publicar reportagem questionando suas táticas para lidar com desinformação e outros problemas.

O baque do setor de tecnologia se espalhou para outros segmentos, como o varejo, impactado também nesta sessão pelo balanço ruim de rede Target, uma das maiores do setor. A empresa teve ganhos menores que o esperado no trimestre passado e cortou a estimativa de vendas.

Por trás das questões pontuais que atingem cada setor, há uma conjuntura macroeconômica que inspira preocupação. Muitos analistas já começam a ver sinais de uma desaceleração econômica global e temem o impacto disso nos mercados acionários globais.

“Os investidores têm expressado cautela com uma desaceleração do crescimento global e com as incertezas cercando a disputa de tarifas entre Estados Unidos e China”, diz Krosby.

Na conta entra ainda a expectativa com novos aumentos de juros nos Estados Unidos em 2019 —além da alta já prevista para dezembro. 

Com as taxas dos títulos de dívida americanos mais atrativas, muitos preferem recorrer a eles, mais seguros, em vez de se arriscar nos turbulentos mercados acionários.

“Há um movimento de empresas preocupadas com a incerteza à frente e que reduziram seus planos de investimento enquanto esperam para ver como as coisas vão se desenvolver”, diz a estrategista-chefe de mercados da Prudential.

Ryan Connelly, analista de economia global do Frontier Strategy Group, afirma que os mercados estão passando por um momento de “reprecificação de risco”.

Enquanto isso, seguem atentos aos dados de economia americana, tentando ponderar se há indícios de arrefecimento. “Temos que esperar as vendas deste fim de ano, como a Black Friday. Vai todo mundo olhar para isso.”

Em meio a esse cenário, os preços do petróleo atingiram, nesta sessão, o menor nível em mais de um ano. O barril do WTI, dos EUA, recuou 6,6%, a US$ 53,43. O Brent, de Londres, perdeu 6,4%, a US$ 62,53.

Nesta terça, o presidente americano, Donald Trump, pode ter contribuído para a queda da commodity. Ele ressaltou os fortes laços com o governo da Arábia Saudita, em um contexto em que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman é acusado de ordenar o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Para Trump, se os dois governos romperem, o preço do petróleo dispara. “Eu mantive [os preços] baixos. Eles me ajudaram a mantê-los baixos.”

As declarações levaram os investidores a avaliarem que o presidente tenta impedir os sauditas de cortar a produção no encontro de dezembro dos países exportadores e não exportadores. Alguns já expressam preocupação com um excesso de oferta no mercado.

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