Bolsas americanas têm o pior ano desde 2008, auge da crise

Depois de baterem recordes, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq terminam 2018 no vermelho

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Nova York

Os principais indicadores das Bolsas americanas tiveram o pior ano desde 2008, auge da crise financeira global. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq terminaram 2018 no vermelho, depois de terem, os três, batido recordes históricos de alta em um ano que parecia promissor para os mercados financeiros mundiais.

O Dow Jones, índice que reúne as 30 ações mais líquidas da Bolsa de Nova York, acumulou queda de 5,6%. Foi a maior desvalorização desde que o indicador despencou 33,8% em 2008, sob reflexo da forte crise financeira que atingiu os mercados após o estouro da bolha no crédito imobiliário de baixa qualidade nos EUA.

O S&P 500, das maiores empresas da Bolsa, recuou 6,2%, também na maior queda desde 2008, quando recuou 38,5%. E a Nasdaq, de tecnologia, teve baixa acumulada de 3,9%, a maior desde a crise (-40,5%).

Pregão da Bolsa de Valores de Nova York em 28 de dezembro; ano foi o pior desde 2008
Pregão da Bolsa de Valores de Nova York em 28 de dezembro; ano foi o pior desde 2008 - Jeenah Moon/Reuters

O ano ruim não ficou restrito aos mercados americanos. Na China, as ações tiveram também o pior desempenho em uma década. O índice composto de Xangai recuou 24,6% no ano –em 2008, despencou 65%.

No mercado financeiro, o ano terminou bem diferente de como começou, em meio a sinais cada vez mais fortes de uma desaceleração global.

Nos EUA, em 26 de janeiro, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq batiam recordes históricos de alta, sob embalo da recuperação da economia americana e diante do efeito positivo dos estímulos fiscais anunciados pelo presidente Donald Trump nos EUA.

A euforia durou pouco. Em fevereiro, rumores –confirmados no mês seguinte –indicavam que o republicano pretendia impor tarifas sobre aço e alumínio importados de vários países, especialmente da China, no primeiro passo para a escalada das tensões comerciais com o gigante asiático.

Os mercados reagiram à disputa entre as duas maiores potências do mundo e acusaram o golpe. As quedas duraram pouco e os três indicadores voltaram a reagir, batendo novos recordes de alta –mantidos até hoje.

A Nasdaq atingiu máxima de 8.109 pontos em 29 de agosto, o S&P 500 bateu os 2.930 pontos em 20 de setembro e o Dow Jones alcançou 26.828 pontos em 3 de outubro.

Mas, no cômputo geral, a segunda metade do ano foi bem menos feliz para os mercados. A começar, o banco central americano passou a sinalizar que poderia fazer quatro elevações de juros em 2018, em vez das três precificadas pelos investidores. No fim, o Federal Reserve (Fed, a autoridade monetária dos EUA) acabou subindo a taxa quatro vezes no ano.

Além de tornar os ativos em Bolsa menos atraentes, em razão do retorno maior nos títulos de dívida americana –considerados de risco zero–, a decisão também colocou o presidente do Fed, Jerome Powell, em rota de colisão com Trump.

O americano passou a fazer críticas explícitas à atuação do Fed, dizendo que estava ameaçando o crescimento da economia americana. É pouco comum que presidentes dos EUA se manifestem sobre a condução de política monetária feita pelo banco central do país.

As declarações de Trump levantaram temores sobre a independência da autoridade monetária, rebatidas implicitamente por Powell na entrevista após o quarto aumento de juros, ao dizer que a decisão tomada não foi “política”.

As altas de juros têm ainda como efeito colateral a valorização do dólar no mundo, o que acaba prejudicando as atividades de multinacionais americanas que dependem do mercado externo para melhorar seu resultado.

Em comentário, Naeem Aslam, analista da Think Markets, afirma que não é exagero dizer que as Bolsas tiveram o pior ano desde a crise financeira global por causa do aperto da política monetária adotada pelo Fed e pelo Banco Central Europeu, além de outros bancos centrais no mundo.

Para 2019, o Fed reduziu a estimativa de altas de juros de três para duas. O BCE, que encerrou em dezembro seu programa de recompra de ativos, não deve elevar as taxas na zona do euro no próximo ano, devido à fraqueza das principais economias do bloco de moeda única.

“O fato é que as coisas não estão parecendo nem um pouco melhores em 2019 também porque há muitos eventos de risco que vão manter os investidores cautelosos”, escreveu. Entre eles, cita o “brexit”, a saída do Reino Unido da União Europeia.

A tensão comercial de EUA e China se mantém em evidência, assim como a paralisação do governo americano por causa do impasse em torno do financiamento ao muro que o presidente Donald Trump quer construir na fronteira com o México.

O apagão parcial, que teve início no último dia 22, foi a coroação de um ano turbulento nos mercados. Um quarto do governo federal americano está sem dinheiro, o que significa 380 mil funcionários de licença não remunerada e outros 420 mil trabalhando sem receber.

E como grande pano de fundo, sinais de alerta para uma desaceleração global que pode representar um ano de 2019 turbulento aos mercados. FMI (Fundo Monetário Internacional), OCDE (organização dos países desenvolvidos), bancos e agências de classificação de risco já revisaram as projeções para o crescimento global no próximo ano, preocupando mercados e investidores.

O desaquecimento da economia americana já é dado como certo. A maior dúvida é sobre se o país vai ou não entrar em recessão, enquanto caminha para o maior ciclo de expansão da história --caso continue crescendo após junho.

Na China, a desaceleração também é garantida, assim como na Europa. Em meio a isso, o Brasil desponta como um dos poucos países que devem ter aceleração do crescimento econômico em 2019 –nas projeções mais otimistas, o PIB (Produto Interno Bruto) pode se expandir até 3,5%. O boletim Focus, do Banco Central, vê alta de 2,55%.
 

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