Brasil não tem dinheiro para adotar medidas populistas, diz Bank of America

Para executivo do banco, o mesmo não pode ser dito sobre o novo presidente mexicano

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Nova York

O risco de o governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), adotar medidas populistas é limitado porque o país não tem dinheiro para isso, afirmou, nesta sexta-feira (7), Claudio Irigoyen, responsável por estratégia de renda fixa e economia da América Latina do Bank of America.

“Há algumas preocupações com Bolsonaro ser populista, mas achamos que ele não quer implementar medidas populistas, pelo contrário”, afirmou, durante apresentação sobre perspectivas para mercados emergentes, moedas e taxas de juros em 2019.

Ele ponderou que o mesmo não se poder dizer do novo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, conhecido pela sigla AMLO. “Se você quer implementar políticas populistas, você tem que ter dinheiro. O México tem dinheiro, o Brasil não tem. No Brasil, o risco de adoção de medidas populistas é muito mais limitado por causa disso.”

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O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), na última quarta-feira (4) - Evaristo Sá/AFP

AMLO já submeteu a consulta popular propostas como aumento da aposentadoria para idosos e internet gratuita.

No caso do Brasil, diz Irigoyen, as expectativas do mercado estão voltadas ao que o governo Bolsonaro vai, de fato, conseguir colocar em prática. 

“Não acho que o mercado se preocupe tanto com minorias etc. Contanto que entregue o lado fiscal, acho que Bolsonaro ficaria bem. O risco é que o mercado tem uma âncora em [Paulo] Guedes, não tanto em Bolsonaro.”

O especialista afirma que um dos cenários adversos seria se o país crescesse pouco no próximo ano e Bolsonaro mudasse de ideia sobre dar continuidade ao plano econômico desenhado pelo futuro ministro da Economia, que inclui privatizações e reformas como a da Previdência e tributária.

“Mas o Brasil precisa decepcionar muito para Bolsonaro fazer isso e mudar para o outro lado do espectro”, afirma Irigoyen. 

“Acho que, no caso do México, os riscos estão lá, porque é sobre AMLO. No caso do Brasil, é preciso ver o plano de Guedes arruinado, o que não é nosso cenário-base, para Bolsonaro pensar em mudar para o outro lado do espectro.”

Por isso, o especialista diz que, no caso brasileiro, as principais influências sobre o crescimento do país serão domésticas, e não externas. 

O Bank of America projeta expansão de 3,5% para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2019, caso reformas como a da Previdência e tributária sejam aprovadas, assim como a independência do Banco Central.

Mesmo sem aprovação, o país continuará crescendo, embora a um patamar menor, porque está num processo de recuperação cíclica.

Irigoyen comentou ainda a possibilidade de o Brasil precisar elevar a taxa básica Selic, hoje em 6,5% ao ano, caso o banco central americano eleve as taxas os juros quatro vezes em 2019.

Ele avalia que, se o Federal Reserve (Fed, banco central americano) subir os juros quatro vezes no próximo ano, poderia causar pressão nos emergentes. 

“Mas o Brasil é um dos países em que a dinâmica está mais ligada a fatores domésticos. Se as reformas acontecerem, vai ser bom. Se não acontecerem, vai ser muito ruim, mesmo se os EUA decidirem cortar os juros em 200 pontos-base”, exemplificou, citando um cenário improvável de ocorrer, considerando que o Fed está numa tendência de alta de juros.

Para os emergentes de uma maneira geral, o Bank of America vê ativos baratos, depois da grande turbulência experimentada neste ano.

O banco recomenda, porém, cautela até que Estados Unidos e China cheguem a um esqueleto de acordo que suspenda a implementação de tarifas adicionais. “Enquanto isso, estamos comprando Rússia e vendendo México”, afirmou um documento exibido na apresentação.

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