Descrição de chapéu Natal

Com vendas mornas, comércio popular de SP aposta na segunda parcela do 13º

Varejo espera alento após incertezas de ano marcado por paralisação de caminhoneiros, Copa e eleição

Camilla Feltrin, Heloísa Negrão e Priscila Camazano
São Paulo

A menos de 20 dias do Natal, é possível andar sem esbarrar em ninguém nas lojas das ruas de comércio popular como 25 de Março e rua Oriente, no Brás. Até os corredores espremidos da Feira da Madrugada estão tranquilos.

Depois de um ano fraco no varejo, em razão da paralisação dos caminhoneiros, da Copa do Mundo e das incertezas do período eleitoral, os comerciantes depositam todas as suas fichas na véspera do Natal e na segunda parcela do 13º salário.

Vendedor de uma loja de bicicletas, Diego Vieira Oliveira diz que a clientela está 40% menor em relação ao mesmo período do ano passado. Ele se mantém esperançoso para os próximos dias do dezembro. 

 
“O pessoal está usando a primeira parcela do 13º salário para pagar dívida, esperamos que a outra seja para comprar presentes.”
 
Camelôs na rua Oriente, no Brás, que dominam as calçadas; com movimento ainda tímido, os comerciantes depositam todas as suas fichas na véspera do Natal
Camelôs na rua Oriente, no Brás, que dominam as calçadas; com movimento ainda tímido, os comerciantes depositam todas as suas fichas na véspera do Natal - Rafael Roncato/Folhapress

A ambulante Kátia dos Santos trabalha há dez anos na região e concorda que as vendas estão mornas.

“Não é o pior ano de todos, mas está muito fraco. Nem parece Natal”, afirma ela, que vende bonecas LOL Surprise, febre entre as meninas, super-heróis e armas de plástico.

Na Over Kase, loja de eletrônicos, o sentimento é de esperança. “Acredito que vá melhorar nos próximos dias”, afirma a supervisora Deise Diniz. Gerente da loja Armarinhos Ambar, Guilherme Gelati também procura se manter otimista. “Melhorou desde a eleição, mas está menor que o ano passado.”

Nos Armarinhos Fernando, o tamanho da rede faz a expectativa de crescimento ser maior que a dos vizinhos: pretendem faturar 12% a mais neste ano do que em 2017, afirma o gerente Ondamar Ferreira.

No entanto, no que diz respeito ao público, a projeção é de um tímido crescimento de 4% no número de consumidores. Lá, as pessoas gastam, em média, R$ 60.

Ferreira compartilha das boas previsões de 43% dos comerciantes brasileiros, segundo pesquisa do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) Brasil.

O estudo estima que quatro em cada dez donos de loja preveem crescimento nas vendas no período ante o Natal de 2017. Do total, 32% enxergam estabilidade no período e 9% esperam menos clientes.

No Brás, bairro tradicional de comércio têxtil, a expectativa de vendas é moderada. De acordo com Jean Makdisse, conselheiro Alobrás (Associação de Lojistas do Brás), “2018 é uma sequência dos últimos quatro anos de crise”. Eles esperam um aumento nas vendas entre 2% e 3%.

Marrer Abded, dono da rede de lojas Ascona, torce para a animação da véspera de Natal.

“Brasileiro é um ser imediatista, depois de pagar as dívidas, ele vai estar com o 13º e o pagamento na mão, vai se empolgar e vem às compras”, diz.

Com três lojas na região, Abed diz que já estará satisfeito se fechar as vendas com números iguais a 2017. O empresário comenta que muitos dos seus colegas da região fecharão o ano com as contas em declínio. “Basta andar pelo bairro e ver a quantidade de pontos para alugar.”

Loja Ascona, no Brás, em São Paulo; comércio tem queda nas vendas e pouca movimentação perto do Natal
Loja Ascona, no Brás, em São Paulo; comércio tem queda nas vendas e pouca movimentação perto do Natal - Rafael Roncato/Folhapress

Na região do Brás, até a tradicional Feira da Madrugada está com o movimento morno. A expectativa dos lojistas era a promessa de 80 ônibus com pessoas vindas de fora na cidade no final de semana para fazer compras.

Como os consumidores capixabas que faziam compras de Natal na madrugada de sexta-feira (7). O casal Patrícia Leppaus, 32, e Ailton Celso Dias, 36, ambos funcionários públicos, passeava pelo Brás na companhia dos filhos.

Nas sacolas estavam levando roupas para toda família e presentes para os parentes. “O preço das peças aqui está valendo a pena. São bem mais baratas do que as vendidas na nossa cidade”, diz Patrícia.

Além dos caminhoneiros, Copa e eleições, os vendedores de roupa também sofreram com a ausência do inverno. De acordo com Nelson Tranquez Junior, presidente Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, outro polo têxtil, 2018 teve “de tudo e mais um pouco” de ruim.

“Dezembro pode ser melhor, mas, mesmo se for fantástico, não vai resolver [as contas] do ano”, afirma.
Para a ACSP (Associação de Comerciantes de São Paulo), o crescimento não deve ir além de 3%.

Marcel Solimeo, economista da associação, afirma que o cenário para o Natal de 2018 “é menos favorável em razão da disparada do dólar, que deve pressionar o preço de produtos importados, como bacalhau, vinho e eletrônicos”.

Sem aumento nas vendas, os lojistas evitaram contratar temporários. Abed, do Brás, diz que neste ano contratou somente sete funcionários extras —em anos anteriores, esse número chegou a 20.

Tranquez Junior, do Bom Retiro, afirma que, para começar a criar vagas, o crescimento das vendas precisa ser dez vezes maior do que o visto. 

“Se houver um aumento de 20% e 30% em 2019, a gente consegue se manter com o pessoal atual. Se o crescimento for maior e mais constante, aí sim vai ter aumento de emprego”, prevê.

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